Eu sou líder de várias equipes diferentes. Dos profissionais que atuam comigo na minha clínica a pesquisadores e médicos que trabalham comigo numa ONG voltada ao estudo de álcool e drogas, todos os dias eu participo de reuniões e lidero equipes. Outro dia, percebi que uma colega e colaboradora minha, uma pessoa muito ativa e participativa, estava muito calada num desses encontros profissionais. Pedi aos meus colegas para que encerrássemos a reunião um pouco antes para que eu pudesse conversar com aquela colega. Ao perguntar se ela estava bem, ela caiu no choro.
Nesta pandemia, só temos quatro certezas: (1) a de que não sabemos quando ela vai ter fim (todas as previsões caíram por terra); (2) a de que é um vírus bastante agressivo o causador dessa situação; (3) a de que devemos manter bons hábitos de higiene, lavando bem as mãos, usando álcool em gel, e de que o distanciamento social e a vacina conseguem mitigar a disseminação e o número de mortes; (4) e a de que a saúde mental de todos nós – a minha inclusive – foi afetada.
A história que contei acima não é única. Tenho ouvido de vários líderes que muitos membros de suas equipes estão mais vulneráveis emocionalmente e, por vezes, choram mesmo em meio a reuniões importantes ou em meio a uma cobrança natural de trabalho. Não à toa, os casos de depressão, de ansiedade, síndrome do pânico, consumo de álcool e drogas, distúrbios do sono têm crescido vertiginosamente.
Quem consegue perceber que algo não vai bem com alguém de uma equipe não é o médico. É o líder. É ele que consegue identificar mudança de comportamento ou de atitude em algum de seus liderados. O médico do convênio ou do trabalho só faz essa constatação quando algum quadro de saúde mental alterada está instalado.
Quando um liderado chora em meio a uma reunião, em meio ao trabalho, o que fazer? Será que teria sido o modo como o líder se comunicou com essa pessoa? Será que aquela pessoa está, de fato, enfrentando algum problema pessoal ou com sua família? Será que aquela pessoa está com medo de perder o emprego porque, de fato, muitos estão? Será que aquela pessoa está com medo de ter contraído o coronavírus porque se encontrou com alguém que foi recém-diagnosticado com Covid? Os medos, as inseguranças que todos temos experimentado têm nos deixado extremamente vulneráveis.
Cabe ao líder fazer a primeira aproximação com esse liderado que está fragilizado, usando de sua intuição, usando do conhecimento que ele tem sobre aquela pessoa. Cabe a ele, sobretudo, escutar. Não é um tratamento, mas uma escuta de líder, de amigo, uma escuta com paciência. Ao constatar que de fato algo não vai bem, cabe ao líder sugerir que aquela pessoa busque ajuda profissional. Apesar de o cenário que temos hoje não ser dos mais animadores, esse mesmo cenário oferece aos líderes a possibilidade de ouvir de forma atenta o relato de um membro de seu time e, assim, ajudar esse liderado nessa situação difícil.
No dia 27 de maio, às 18h30, a Forbes vai promover um webinar que vai tratar da saúde mental no trabalho. Ele terá a minha participação, a de minha sócia Camila Magalhães, fundadora, comigo, da Caliandra Saúde Mental, e de líderes de empresas de saúde. Espero por vocês. A discussão será riquíssima.
Dr. Arthur Guerra é professor da Faculdade de Medicina da USP, da Faculdade de Medicina do ABC e cofundador da Caliandra Saúde Mental.
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