Eu sou especialista em dependência de álcool. A minha vida profissional inteira eu discuti e estudei os efeitos maléficos das bebidas alcoólicas na saúde de quem exagera no seu consumo. Mas eu tenho de confessar uma coisa: o álcool tem um outro papel, um papel social.
As bebidas alcoólicas são usadas há milhares de anos com o propósito de favorecer a sociabilidade. Quando o álcool (o etanol) é quebrado pelo fígado em pequeníssimas partículas, elas caem na corrente sanguínea e chegam ao cérebro. Doses pequenas de etanol têm realmente um efeito amortecedor, tranquilizador. É justamente por isso que ele vem sendo usado ao longo da história.
O consumo moderado de bebidas está associado a um grau maior de sociabilidade. Quem bebe um pouquinho fica mais loquaz, mais solta para falar, o riso fica mais fácil e as tensões ficam um pouquinho diminuídas. Tanto é assim que desde a Antiguidade ele é usado nas celebrações. Mais à frente na história, passou a ser usado em casamentos e outras festas familiares e sociais.
Sim, é fato que um drinque ajuda a relaxar. O grande problema – e aí volto a falar do ponto de vista médico e não sociológico – é quando uma pessoa tem um problema, que pode ser angústia, tristeza, ansiedade, depressão, e usa o álcool como se fosse um remédio para dar conta do seu sofrimento.
Álcool não foi feito para diminuir angústias, assim como não foi feito para ajudar a dormir. Quem nunca conheceu alguém que bebeu para “chapar” e conseguir dormir? Talvez esse seja o melhor exemplo do mal uso do álcool, do consumo errôneo, como se fosse um medicamento.
O efeito de uma bebida alcoólica no corpo é curto – umas três horas. É autoengano achar que um drinque ou vários drinques vão resolver aquela aflição que alguém está sentindo. O consumo de bebidas nessas circunstâncias pode até dar a ilusão temporária de que o sofrimento foi anestesiado, mas depois que o efeito do etanol no corpo passa, a tristeza volta. Por vezes, ainda mais forte do que antes.
Se você está sofrendo ou tem problemas para pegar no sono, saiba que dá para aliviar tremendamente esse seu sentimento ou distúrbio com terapia, por exemplo, ou com o uso temporário de alguns remédios.
Dr. Arthur Guerra é professor da Faculdade de Medicina da USP, da Faculdade de Medicina do ABC e cofundador da Caliandra Saúde Mental.
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