Viver a pandemia não tem sido fácil para ninguém. Todos os dias, um brasileiro perde um ou mais entes queridos para o coronavírus. Outros, perdem a sua fonte de renda. Entretanto, há um grupo que tem sido especialmente impactado: o dos adolescentes.
É nesta idade que os adolescentes começam a ganhar independência de suas famílias. Com o fechamento de boa parte das escolas, eles se viram – uma grande parcela deles – fechados com os pais em casa.
Para o adolescente, particularmente, a escola é o ambiente em que ele aprende a conviver em grupo, em que é confrontado com ideias diferentes das dele, em que ele descobre o quanto o debate de ideias e de projetos de vida é parte de uma relação sadia. É onde ele geralmente aprende que há hormônios sexuais circulando no seu corpo, onde quase sempre ele experimenta o primeiro beijo, o primeiro amor. A escola também é o lugar em que ele tem de aprender a administrar frustrações e percebe que a vida não é só ganhar.
Os encontros com os amigos, aqueles que ele “zoava” e aqueles que eram quase irmãos, agora só são alcançados por meio da tecnologia, intermediados por uma tela. Vale lembrar que muito da vida social desses jovens gira em torno da escola. A perda foi muito importante. Tão importante que isso atingiu em cheio a saúde mental deles.
Dados recolhidos pelos CDC (Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos) entre janeiro e outubro de 2020 dão conta de que as visitas de adolescentes entre 12 e 17 anos a prontos socorros por causa de problemas relacionados à saúde mental cresceram 31% em relação a 2019.
Como os pais podem apoiar seus filhos? Primeiro, tendo um olhar mais atento para perceber possíveis mudanças de comportamento que podem ser sinal de depressão ou de ansiedade, como ter episódios de grande comilança ou falta de energia para se levantar da cama. Segundo, tendo uma conversa honesta com o filho ou filha para mostrar que você, adulto, também tem as suas vulnerabilidades e os seus medos.
Se antes as redes sociais eram motivo de preocupação para pais, talvez hoje eles precisem reavaliar essa questão, pois os jovens têm buscado as redes e aplicativos de encontros como um espaço para contatar pessoas e até conhecer alguém e namorar. Creio que os adolescentes vão aprender a usar a sua plasticidade comportamental para se reformular e para encontrar caminhos que os ajudem a reduzir esse sofrimento psíquico pelo qual passam.
Dr. Arthur Guerra é professor da Faculdade de Medicina da USP, da Faculdade de Medicina do ABC e cofundador da Caliandra Saúde Mental.
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