Trabalho não é só fonte de renda. O ambiente de trabalho tem um papel fundamental para a nossa saúde, inclusive a mental. Além de ser o local em que trocamos experiências, conhecemos pessoas e aumentamos o nosso networking, é também um espaço para nos desenvolvermos e evoluirmos pessoal e profissionalmente.
Acontece que muitas pessoas se sentem emocionalmente inseguras no trabalho, seja, agora, por conta da pandemia, seja porque têm metas às vezes irreais para bater, seja porque as condições econômicas no país de fato têm levado muitas empresas a dispensarem colaboradores, seja porque as relações, especialmente com supervisores imediatos ou líderes, são complicadas.
As relações humanas, principalmente entre líderes e liderados, estão entre as que mais geram insegurança. Muitos daqueles que estão em uma posição de poder – isso vale para pais, professores, enfim – de fato não têm maturidade para lidar com essa responsabilidade. Eles mesmos, inseguros, respondem de forma arrogante, quase tirânica. Isso reduz a estabilidade emocional de qualquer pessoa e aumenta a desmotivação para trabalhar.
Às vezes, as cobranças, as autocobranças, vêm do próprio colaborador, por acreditar que trabalhar dobrado seria uma solução para a insegurança que sente. A autocobrança também surge quando o empregado não encontra regras claras na empresa em que trabalha. Por exemplo: o que de fato a organização que o emprega valoriza num profissional?
A insegurança emocional, quando sentida por um período grande de tempo, pode gerar o famoso quadro de burnout, de esgotamento, porque é uma fonte de estresse permanente. Você se lembra do fatídico jogo em que o Brasil apagou em campo e levou um 7 a 1 da Alemanha? O que acontece com a mente, no burnout, é mais ou menos isso. Ela sofre um apagão, como se uma voz interna ficasse sussurrando: “você não vai conseguir”.
É possível driblar essa insegurança. Primeiro, procurando identificar o que exatamente mexe com você no ambiente de trabalho. É o seu supervisor imediato ou uma liderança? Procure conversar com ele ou ela. Muitas vezes, uma conversa franca limpa o campo. Se o chefe se fechar a um bate-papo, procure o departamento de RH. Enfrentar a situação é melhor do que se ver refém dela.
Se o motivo é medo de perder o emprego, saiba que há coisas que você pode controlar e há coisas que não. No que depende de você, é importante investir no chamado life long learning, ou aprendizagem contínua (e não só de competências mensuráveis, mas também de soft skills), para manter-se sempre se aperfeiçoando. Vale lembrar que a sua vida não termina com uma eventual demissão. Ao contrário. Pode se iniciar uma outra até mais rica.
Se você sente outros colegas mais capacitados do que você e isso o deixa inseguro, que tal investir em cursos de reciclagem ou aprender novas competências? Tão importante quanto isso é reconhecer aquilo que você faz bem no trabalho. Se você ocupa uma determinada posição, não é por acaso. Então, procure confiar em você mesmo e apreciar os seus pontos fortes.
Dr. Arthur Guerra é professor da Faculdade de Medicina da USP, da Faculdade de Medicina do ABC e cofundador da Caliandra Saúde Mental.
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