Cada vez mais temos acesso aos grandes casos de mulheres empreendedoras. Em várias áreas, elas demonstram que existe uma nova consciência de se traçar caminhos.
Laely Heron, norte-americana que fundou a Domaine Lux Fontis (que em latim significa fonte da luz), é uma inspiradora história de que há sempre, sempre uma nova perspectiva, um novo olhar, uma diferente solução para as já determinadas trilhas a serem seguidas.
Nos anos 1960, seus pais a tiveram aos 16 anos. Como ela diz, “eram crianças educando crianças” pois a irmã nasceu logo depois. Eram meio hippies no seu modo de vida e quando Laely tinha oito anos, a família já tinha morado em 12 estados diferentes nos Estados Unidos por causa do trabalho do pai, engenheiro de garimpagem.
Quando estavam em Vermont, seus pais ouviram sobre uma mina na Argélia e resolveram se mudar para a África. A mudança aconteceu após a Guerra de Independência Argelina contra a França. Por causa do conflito, os franceses tinham sido expulsos do país, o que facilitou a chegada da família Heron, uma vez que havia escassez de profissionais. “Eu acredito que o contato com a língua francesa foi o começo da minha história com o vinho, ao menos deu a abertura quando eu entrei nesse mundo”, afirmou Laely.
Ela e a irmã não iam para a escola, porque viajavam muito. O pai as ensinava a converter a moeda local para os países seguintes e era assim que elas iam aprendendo matemática. Laely veio a estudar em escola tradicional bem mais tarde, mas, como tinha a cabeça muito aberta diz que o ambiente era tão fraco e limitador que só ficou feliz em estar lá por ter contato com crianças da mesma idade e por ter uma experiência diferente de estar num lugar por mais tempo que o de costume. Quando ela estava no ensino médio, já falava seis línguas estrangeiras.
Mas algo a chamava a aperfeiçoar o seu francês e então decidiu fazer um curso em Bordeaux. O curso que escolheu era muito concorrido e as vagas eram preenchidas com dois anos de antecedência, mas algo inesperado aconteceu. No dia seguinte ao contato feito e à matrícula negada, ela recebeu uma ligação dizendo que uma pessoa havia cancelado a inscrição. Realmente, quando está escrito nas estrelas o caminho se abre.
De uma viagem para aperfeiçoar o francês, nasceu a paixão e o encantamento pelo mundo do vinho.
“Um dos meus mentores foi Jean-Michel Cazes, do Château Lynch-Bages e, eu tive muita sorte e oportunidade e, soube aproveitá-las. Era 1984, logo depois da épica safra de 82 e aprendi muito”, pontuou.
Ela estudou enologia e viajou pela Europa. Seu primeiro trabalho, apesar de estar no “velho mundo”, foi no “novo mundo”, Austrália. Ela os representou nos EUA com 23 anos, aprendeu sobre distribuição e gerenciamento de vendas e, numa degustação, apaixonou-se loucamente por um dinamarquês, casou-se com ele e foi morar na Dinamarca por seis anos.
Sempre no mundo do vinho, teve a experiência de abrir um restaurante, mesmo continuando com seus estudos e cuidando de distribuição e importação.
Na época, o curso do Wset só era ministrado em Londres e era preciso ser convidado para participar. Seu casamento estava acabando e havia uma empresa que a queria contratar, então ela conseguiu fazer o curso. Depois disso foi tapete vermelho pois não havia muitas pessoas que faziam esse curso, especialmente mulheres.
Apesar das oportunidades, ela se mudou para São Francisco, na Califórnia, por ser a meca da gastronomia. Eu perguntei: “Como você come e bebe desse jeito e é esbeltíssima?”. Ela respondeu: “Só o melhor do melhor, nada menos que o melhor”. Linda e cheia de vida!
Aos 31 anos, ela queria fazer algo novo e encontrou todos que conhecia até que, em um almoço com um amigo, ela disse: “Por que você não me contrata?”, ao que ele questionou: “Por que você não abre seu próprio negócio?”. A resposta de Laely? “Eu não entendo nada de abrir um novo negócio, eu não tenho dinheiro e eu nem sei por onde começar e mais, eu nem sei matemática!”. No final do almoço, atrás de um envelope que ela tinha na bolsa, o plano do empreendimento estava feito.
Ela voou para a França, pois tinha dinheiro para a passagem, uma estadia razoável e um carro humilde. Chegando lá, com os livros e todos os mentores que ela acreditava poderem ajudá-la, começou a sua jornada. Conheceu dois irmãos, que tinham sido financiados pelo tio, e que se tornaram grandes estimuladores do projeto. Ela decidiu usar as uvas Merlot e a adega deles para produzir vinho e exportar para os Estados Unidos. Mas faltava dinheiro.
Com algumas instruções, ela fez um empréstimo francês e começou a primeira rodada do negócio. A segunda rodada foi nos Estados Unidos, onde conseguiu US$ 50 mil.
Sem a menor ideia de nada, ela ia diretamente fazer tudo, sem advogados ou despachantes. Segundo ela, “às vezes não saber de nada, é a melhor coisa”. Claro, ela não sabia nada de uma parte, mas sabia muito de outra, por sua experiência de vida.
Com o Merlot, ela conquistou os EUA quando ainda não era um hit. Foi para o Chardonnay e depois o Pinot Noir. Exatamente quando ela era uma das primeiras a trazer a uva Pinot Noir em forma de vinho para o país, foi lançado o filme “Sideways – Entre Umas e Outras” que é basicamente sobre Pinot. “Eu não sabia que eu era uma empreendedora, não fazia ideia do que estava acontecendo!”
Em uma outra conversa, num restaurante em Nova York, com um amigo de longa data, os dois decidiram embarcar juntos na compra de duas propriedades. Uma em Gigondas e a outra em Châteauneuf-du-pape, ambas na França. Nasce a Domaine Lux Fontis. Ela transformou uma propriedade de 0.5 hectares em um vinho que só 3 estrelas Michelin servem, uma produção minúscula e impecável, sustentável e sensorial.
Ela segue tocando a França, a Califórnia e a sua jornada cheia de vida. Um exemplo de que a fonte de luz está dentro de você, basta olhar para ela e persegui-la sem fim.
Tchin tchin
Carolina Schoof Centola é fundadora da TriWine Investimentos e sommelière formada pela ABS, especializada na região de Champagne. Em Milão, foi a primeira mulher a participar do primeiro grupo de PRs do Armani Privé.
Os artigos assinados são de responsabilidade exclusiva dos autores e não refletem, necessariamente, a opinião de Forbes Brasil e de seus editores.