Nos últimos meses, nos acostumamos a ouvir que a pandemia vai escrever uma nova história. Se isso é verdade, o lado bom é que temos a oportunidade de escolher qual história queremos escrever. Essa é, sobretudo, uma oportunidade para fazer mudanças essenciais, baseadas na moralidade e humanidade.
Há poucos dias me deparei com uma frase atribuída a Lenin (1870-1924) — sim, aquele diretamente ligado à Revolução de Outubro, que levou os bolcheviques ao poder na Rússia de 1917: “Há décadas em que nada acontece e semanas em que décadas acontecem”. O marxismo-leninismo pode estar empoeirado nas prateleiras do esquecimento humano, mas a frase de Lenin parece sob medida para este momento de espalhamento mundial do coronavírus.
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A mesma frase me levou ao livro “Ten lessons for a post-pandemic world” (Dez lições para um mundo pós-pandemia), do escritor e jornalista norte-americano Fareed Zakaria, e a uma entrevista que ele deu à CNN Brasil. Zakaria chama atenção para a aceleração da desigualdade acentuada pela pandemia entre pessoas e empresas, principalmente as de tecnologia.
Com outras palavras, ele explica que os mercados estão criando empresas cada vez maiores e levando um grupo de pessoas altamente técnicas ao topo, rapidamente. Esse grupo está indo muito bem, ao contrário de muitos outros grupos. O escritor cita como exemplo máximo Jeff Bezos, da Amazon, que perdeu US$ 35 bilhões em seu divórcio e precisou de apenas um mês para recuperar isso durante a pandemia.
Mas a síntese da conversa é que não se pode deixar apenas o mercado, ainda que dinâmico e importante, decidir os rumos dessa história. É preciso equilibrar com uma solução política para a criação de uma sociedade mais justa e igualitária.
De fato, até aqui, o trauma da sobrevivência fez o mundo observar uma grande vitória da ciência, com o desenvolvimento de vacinas em curto espaço de tempo, mas também um grande fracasso das políticas sociais no combate ao desemprego e ao sofrimento humano em larga escala.
Portanto, essa é uma oportunidade para se acender a luz, enxergar a crise e buscar mudanças. No caso brasileiro, é preciso se concentrar na produtividade e competitividade para repaginar a economia, como incentivar as parcerias público-privadas; impulsionar as tecnologias digitais no agronegócio; promover o turismo doméstico; acelerar o desenvolvimento da infraestrutura; acelerar a adoção da Indústria 4.0; utilizar novas fontes de energia renováveis, entre outras ideias para se abrir uma nova perspectiva ao país.
“Alice perguntou: Gato Cheshire...pode me dizer qual é o caminho que eu devo tomar? Isso depende muito do lugar onde você quer ir - disse o gato. Eu não sei para onde ir! - disse Alice. Se você não sabe para onde ir, qualquer caminho serve.”As decisões tomadas hoje afetarão o nosso bem-estar nos próximos anos. Como bem observa David Malpass, presidente do Banco Mundial, “nossa resposta à crise pandêmica hoje moldará nosso futuro comum nos próximos anos. Devemos aproveitar a oportunidade para lançar as bases para uma economia global durável, justa e sustentável”, diz ele em relatório publicado pelo banco.Sem dúvida, é preciso uma obra coletiva humana para que se façam os investimentos certos a fim de embarcar em um desenvolvimento mais verde, inteligente e justo. Para tanto, é preciso coordenação, resiliência e a participação partilhada entre todos os setores.
Retornando à Alice no país das maravilhas, se qualquer caminho serve, por que não escolher aquele que irá nos levar a um futuro mais promissor? Mais do que sermos otimistas, não podemos deixar o pessimismo trabalhar por nós. Afinal de contas, não vivemos um conto de fadas para nos darmos ao luxo de não saber que o sentido queremos dar a nossa vida coletiva.
Nelson Wilians é CEO da Nelson Wilians Advogados
Coluna publicada na edição 88, lançada em junho de 2021
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