Por mais que muitas vezes nossa mente teime em dizer o contrário, é apenas no momento presente que a vida existe. Mesmo que os pensamentos possam correr livremente para o passado e para o futuro, não podemos escapar do agora. Sim, esse exato momento.
No livro “Flow: A Psicologia do Alto Desempenho e da Felicidade”, o psicólogo Mihaly Csikszentmihalyi descreve a necessidade de estarmos presentes para que possamos vivenciar o sentimento mais desejado pela humanidade: a felicidade. É quando estamos realmente envolvidos em cada detalhe das nossas vidas que a encontramos. Abro aqui um parêntese para agradecer meu amigo Rafael Dutra, que me emprestou o livro e, vive intensamente e inquietamente esse tão desejado estado de fluxo.
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Ainda que riqueza, status e poder tenham se tornado símbolos do que significa essa tal felicidade, ela não necessariamente depende de fatores externos e sim, de como você os interpreta. Embora uma carreira bem-sucedida não seja um passaporte para uma vida de plena satisfação, é impossível dissociar o estado de felicidade com nossas conquistas profissionais. Afinal, não existem duas ou mais Lucianas: a mãe, filha, mulher, amiga e a profissional. Somos seres únicos, e cada escolha que fazemos impacta no nosso CPF e CNPJ, tudo junto e misturado, além de todo ecossistema ao redor.
Mesmo você considerando apenas um dos lados dessa moeda – pessoal ou profissional – essa busca pela felicidade passa por entender (e aceitar) o que você pode ou não controlar. Algo que os filósofos gregos da Escola Estoica já pregavam há quase 2 mil anos. Na ilusão de termos controle sobre o que está acontecendo nas nossas vidas e trabalho, começa o maior equívoco que podemos cometer.
Eu, Lu Rodrigues, luto todos os dias para não deixar o sentimento do controle me dominar. Esse desejo me desafia diariamente, e eu o desafio de volta. Por 28 anos, convivi com um irmão adicto, que faleceu há dois anos e que me fez acreditar até o último minuto que poderia salvá-lo. Pura ilusão. Esse fato, e a confirmação que não podemos controlar tudo ao nosso redor, transformou minha vida e moldou minha personalidade.
Quando falamos na vida profissional, alguns líderes acreditam que o controle é sinônimo de uma posição de superioridade. Na verdade é o oposto disso. Líderes mais bem preparados costumam adotar a cooperação, confiança e flexibilidade para embasar suas relações profissionais. O controle só traz mais ansiedade, a última coisa que precisamos em tempos como estes em que estamos vivendo.
Um passo além de entender o que você pode controlar, é conhecer suas competências, fortalezas e fraquezas. Tudo isso passa pelo autoconhecimento. Volto aqui a falar sobre o propósito e o impacto dele nas nossas vidas. Saber por que você faz o que faz – ou o porquê de você levantar todos os dias de manhã – é essencial para se manter são e seguir sua jornada.
E isso, é claro, leva tempo. Algo que no mundo corporativo parece sempre escasso. A pressa tende a ser o padrão do lado de cá do balcão. Pressa para crescer, para termos mais responsabilidades, equipes maiores, uma remuneração maior. O tempo prova que, além das vitórias, precisamos vivenciar fracassos, perdas, situações desconfortáveis. As dificuldades, por mais duras que sejam, são necessárias para nossa evolução. Sabe aquelas pessoas que te confrontam e te dão dor no estômago? Mesmo que pareça contraditório, elas podem estar ajudando você a subir mais um degrau em busca dos seus objetivos.
No livro “Afeto Revolution”, a escritora, advogada e peregrina de alma Eliana Rigol proclama: “Perder é fundamental. Sem perder a gente não anda. Não realiza sonhos porque não cria casca, não cria coragem porque nunca exercitou”. Nesse sentido, o mundo corporativo deveria aprender mais com a natureza. Entre a raiz e a flor existe o tempo. E ele, querendo você ou não, nos obriga a fazer escolhas.
No mundo pré-pandemia, costumava viajar duas vezes por mês. Em uma dessas viagens, uma amiga que foi buscar os filhos na escola deparou com o seguinte diálogo entre minha filha, com seis anos na época, e uma amiguinha que estava chorando copiosamente por causa do atraso da mãe: “Não fica triste, fulana, a minha mãe nunca vem me buscar na escola. Ela trabalha e o trabalho dela é muito legal”. Manu conseguiu verbalizar, no alto da sua sabedoria de uma criança, que um corpo não pode estar em dois lugares ao mesmo tempo.
Minhas filhas e meu marido sempre respeitaram meu amor pelo trabalho, mas isso não me impediu de, algumas vezes, ir para o aeroporto em lágrimas porque perderia alguma palavra nova ou um evento da escola. Mas isso se chama livre-arbítrio.
Viver o momento presente é aceitar que cada diálogo, cada frustração por você não ter conseguido seguir com seus planos, vai te preparar para algo maior.
Por isso, sinto necessidade de falar sobre gratidão. Gratidão é um sentimento de reconhecimento. Se você é grato, você aprecia as diferenças entre as pessoas, respeita o presente e isso altera a forma com a qual vivemos. Indivíduos gratos alimentam menos a ansiedade por aquilo que não tem ou por aquilo que desejam ter.
Em tempo, faço 46 anos este mês e sigo agradecendo cada acontecimento que me tornou a pessoa que sou hoje, com todos meus defeitos e qualidades. E sigo forte com meu mantra: um dia de cada vez.
Luciana Rodrigues é CEO e presidente da Grey Brasil, conselheira do board da Junior Achievement, membro do conselho MMA Brasil e do comitê estratégico de presidentes da Amcham. Também é aluna de pós-graduação em neurociências e comportamento.
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