Você certamente tem algum colega de trabalho com alguma questão de saúde mental. O que fazer quando alguém que é mais íntimo, mais próximo, se abre e admite estar com algum problema?
Uma das coisas mais úteis que você pode fazer por um colega que luta com um problema de saúde mental e que conseguiu se abrir com alguém é escutar.
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Não se trata de qualquer escuta, mas de uma escuta sem preconceitos, sem a tentativa de fazer um diagnóstico – eu sei, é difícil, até porque hoje temos muita informação disponível na internet -, sem tentar “prescrever” alguma conduta. Apenas escute aquele seu amigo e colega, procurando identificar, naquele desabafo, qual é o pedido que ele faz a você.
Será que ele só queria um ombro amigo? Será que ele precisa de ajuda para falar com a parceira ou o parceiro ou com o chefe? Será que precisa de companhia para ir ao médico? Será que ele quer a minha ajuda de algum outro modo?
Essa escuta humana, amiga, talvez seja a melhor maneira de você demonstrar que você o respeita e que entende a situação pela qual ele passa.
A partir dessa fotografia inicial, você pode tentar dar um próximo passo. Se aquele seu colega ainda não buscou um profissional de saúde, que tal sugerir para que ele procure alguém da confiança dele? Muitas vezes, o médico que acompanha as pessoas por anos a fio é o profissional que terá mais liberdade para discutir possíveis soluções com quem está sofrendo.
Se o caso é grave e aquele colega confessou estar com baixa produtividade no trabalho, talvez você possa estimulá-lo a buscar o médico da empresa ou o RH. De fato, muita gente pediu afastamento médico durante os meses mais críticos da pandemia porque simplesmente não conseguiu trabalhar direito devido a problemas de saúde mental.
Procure garantir a ele que a conversa entre vocês será mantida em sigilo. Muitos temem se abrir, ainda que com amigos ou com a família, por temerem que o assunto vire fofoca.
E a dica mais importante: tente se colocar no lugar daquele colega. Trate-o e ajude-o como você gostaria de ser tratado se os papéis tivessem se invertido. O que você gostaria que ele fizesse por você se fosse você a desabafar com ele?
Dr. Arthur Guerra é professor da Faculdade de Medicina da USP, da Faculdade de Medicina do ABC e cofundador da Caliandra Saúde Mental.
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