Vamos falar hoje sobre biodigestores, uma solução para mitigar as emissões da pecuária enquanto produzimos biofertilizante e energia elétrica. Muito tem se falado sobre as emissões da pecuária. O Brasil acaba de assinar na COP26 (Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima), um compromisso global pela redução de emissão de gás metano em 30%. Os produtores terão que se adaptar, buscando uma pecuária mais intensiva e eficiente.
Paralelo a isto, o setor está encarando uma alta vertiginosa de mais de 100% nos preços dos fertilizantes, item que representa cerca de 30% dos custos de lavouras como milho e soja. Tem sido um desafio constante para o agronegócio brasileiro produzir em larga escala mantendo o crescimento da produção, aliado também aos pilares da sustentabilidade.
ASSISTA TAMBÉM: Cadeia de etanol de milho cresce expressivamente no Brasil
Desta necessidade, vem o interesse pelos biodigestores. Com foco na redução de custos com adubação, buscando a autonomia energética, enquanto damos destinação aos resíduos, implantamos em nossa propriedade um biodigestor. O projeto foi idealizado para funcionar em um ciclo fechado, começando em uma fábrica de ração integrada a um confinamento e ao biodigestor, seguido de um motogerador, terminando em um sistema de distribuição de biofertilizante.
Ver essa foto no Instagram
A ração produzida na fábrica é distribuída aos animais no confinamento anexo, que é calçado para garantir a qualidade do dejeto. A estrutura é parcialmente coberta e conta com um sistema de aspersores, garantindo, assim, sombra e conforto respiratório e térmico. Os dejetos são direcionados ao biodigestor por desnível e auxílio mecânico. O confinamento tem capacidade estática de 1.000 animais e se comercializam mensalmente 300 bois muito bem acabados, entre 19 e 22 arrobas.
O biodigestor é um equipamento que proporciona um ambiente controlado para a decomposição da matéria orgânica presente nos dejetos, por meio da biodigestão, que tem sido avaliada como uma das tecnologias mais eficientes em termos energéticos e ambientais para a produção de bioenergia. Desse processo resulta um biofertilizante e um biogás.
CONFIRA MAIS ESSE VÍDEO: Como a educação pode apresentar o agro para a nova geração
O biofertilizante é um composto líquido que sai do biodigestor para uma lagoa anexa e depois é aspergido nas pastagens e nas lavouras. O fertilizante contém nitrogênio insolúvel, de liberação lenta, que aumenta os mecanismos físicos e biológicos de nutrientes do solo, mitigando o risco de excesso de fertilização e mantendo a umidade do solo.
A economia em nitrogênio foi em torno de R$ 160 mil em quatro meses. Marcelo Otenio, pesquisador da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) defende que o biofertilizante substitua 100% do adubo nitrogenado na lavoura de cana e 60% na de milho. O uso de biofertilizantes pode se tornar uma oportunidade. Nosso país importa 80% dos fertilizantes utilizados nas lavouras para fornecer nutrientes, de acordo com a necessidade das plantas e do solo. O Brasil é o quarto maior importador de fertilizantes do mundo, como discutimos na última coluna, os produtores estão tendo que se adaptar à diminuição de oferta que estamos passando no momento.
CONFIRA A COLUNA AQUI: Por que os fertilizantes encarecem a produção de alimentos
O segundo produto da biodigestão é o biogás, que pode ser utilizado na geração de energia elétrica, energia térmica ou biometano.
No nosso projeto, o biogás é utilizado como combustível de um motor de ciclo diesel adaptado para queima de gás metano. Esse motor aciona um eixo direto, um gerador de 150kVA que produz energia para a fábrica de ração e a iluminação de toda a estrutura, fechando, desta maneira, o ciclo. Adquirimos assim autonomia energética, podendo o excesso ser consumido na propriedade ou comercializando por geração distribuída, conforme a Resolução Normativa número 482/12 da ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica).
Utilizando o material do biodigestor, economizam-se adubo e energia e se dá destino aos dejetos dos animais, transformando, portanto, um passivo ambiental em um ativo energético. A necessidade de diversificação da matriz energética brasileira e de implantação de fontes alternativas de energia tem sido estimulada e os bioinsumos servirão para abrir e manter os nossos mercados consumidores. E não é que deu certo: transformamos um passivo ambiental em um ativo energético e biofertilizante, tudo através do boi!
Conheça, a seguir, as etapas da construção de uma estrutura de confinamento com biodigestor:
-
Divulgação_Continental -
Divulgação_Continental -
Divulgação_Continental -
Divulgação_Continental -
Anúncio publicitário -
Divulgação_Continental -
Divulgação_Continental -
Divulgação_Continental -
Divulgação_Continental
Helen Jacintho é engenheira de alimentos por formação e trabalha há mais de 15 anos na Fazenda Continental, na Fazenda Regalito e no setor de seleção genética na Brahmânia Continental. Fez Business for Entrepreneurs na Universidade do Colorado e é juíza de morfologia pela ABCZ. Também estudou marketing e carreira no agronegócio.
Os artigos assinados são de responsabilidade exclusiva dos autores e não refletem, necessariamente, a opinião de Forbes Brasil e de seus editores.