São 6:45 da manhã e não tocou nenhum despertador. Estou viajando sem meus filhos, eu não deveria dormir mais? O mundo está acontecendo lá fora, quem consegue dormir? Na verdade, tenho que cumprir um prazo. Escrevo ou deixo pro último minuto? Pensando bem, não sei nem sobre o que escrever. Meu coração já acordou acelerado. Conto que por trás da menina tranquila que aparento ser existe uma mente que não descansa?
Tudo bem, vou tomar café.
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Abro o WhatsApp. Dezessete mensagens pra responder e ainda são 7 da manhã. Não sei por onde começar, então não respondo nenhuma.
Lembrei: preciso fazer um pagamento, preciso responder aquele e-mail, preciso avisar a professora que hoje os gêmeos não irão na escola, preciso comprar aquele remédio. Preciso pedir um orçamento, preciso agendar aquela consulta, preciso mandar aquele presente. Preciso, preciso, preciso.
Preciso tanto, que não faço nada.
A gente se acostuma a tanta coisa na vida que normaliza até o que jamais deveria ser normalizado. E foi assim que descobri que não era normal tudo o que vivi desde que me entendo por gente.
Que não era normal uma vida ficando doente antes de cada acontecimento importante. Que não era normal a gastrite nervosa que me consumia. Que não era normal uma mente que pensa acordada e dormindo, e que pensa tanto, que pensa que descansa. Que não era normal acordar exausta depois de dormir por 8 horas.
Por muitos anos foi assim.
A constante sensação de que o mundo não para, e que meditar por 20 minutos enquanto eu poderia ser produtiva e resolver outras coisas seria perda de tempo. A minha necessidade de executar mais de uma tarefa ao mesmo tempo pra sentir que meu tempo estava sendo bem aproveitado.
Essa ansiedade a que me refiro não é aquele frio na barriga que torna a vida mais emocionante, e sim aquela que paralisa.
Que a perfeição que eu me exigia não era aquela que traria o meu melhor, era a que me dizia que nada que eu fizesse seria bom o suficiente, então que talvez seria melhor não fazer nada.
Pouco se fala ainda em saúde mental, sobre a vida que existe entre as fotos editadas das redes sociais e o quanto elas podem afetar tanto positivamente quanto negativamente a pessoa do outro lado da tela.
Estarmos conectados da forma que estamos atualmente trouxe o mundo e a informação ao alcance das nossas mãos e por outro lado o sentimento de estarmos sempre em dívida.
Abrir o Instagram de manhã e ver que a fulana já acordou, correu 15 km, deixou os filhos na escola, fez supermercado, e está impecável às 8 da manhã pode servir de inspiração ou como um gatilho pra ansiedade.
E a realidade é que não sabemos o que acontece de verdade do outro lado. Eu mesma às vezes olho fotos antigas minhas e muitas vezes me recordo como me sentia um caco por dentro e ao mesmo tempo estava perfeita por fora, percebo como a gente disfarça bem.
Demorei a aceitar ir pra terapia, e lá parei por acaso. Então fui me conhecendo melhor, entendendo melhor, hoje sei reconhecer quando a ansiedade vem chegando, meus gatilhos e pontos fracos. Sei que o meu tempo é diferente do outro, e tudo bem.
Não vou dizer que superei, pois a estrada é longa, mas hoje sei que começar por algum lugar é melhor que não começar.
Paula Drumond Setubal é advogada, mãe de gêmeos e produtora de conteúdo.
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