Por quatro anos, Sophie Doireau esteve envolvida na criação e execução do Women’s Pavillion para a feira Expo Dubai 2020 (de outubro de 2021 a março de 2022, após adiamento causado pela pandemia). Sophie é a primeira mulher a ocupar o cargo de CEO da joalheria francesa Cartier no Oriente Médio, Índia e África. A empresa foi a patrocinadora do pavilhão e a única parceira do evento.
Sophie Doireau tem uma trajetória de sucesso no mundo corporativo internacional. Antes de trabalhar para a Cartier, foi executiva de marketing da Johnson & Johnson e diretora do conglomerado suíço de luxo Richemont, nos Emirados Árabes. Construiu uma carreira sólida em uma região de lideranças sempre masculinas.
Leia mais: Supermodelo e empresária, Carol Trentini lança marca de moda infantil
Com o lema “Quando as mulheres prosperam, a humanidade prospera”, o Pavilhão Feminino na Dubai 2020 reuniu arquitetos, artistas e cineastas em sua construção. Durante três dias em março, a Cartier realizou na feira uma programação de encontros, conferências e debates, com a presença de personalidades de diferentes partes do mundo ligadas às questões femininas, sobretudo a equidade de gênero e o impacto social do trabalho das mulheres.
A joalheria desenvolve um projeto voltado para o empreendedorismo feminino desde 2006, com a criação do Cartier Women’s Initiative. Em 15 anos, a iniciativa premiou 262 empreendedoras de 62 países, em um total de US$ 6,44 milhões. “Estamos honrados em levar nosso apoio de longa data às mulheres responsáveis pela mudança, colaborando com a Expo Dubai 2020 e apresentando o Pavilhão Feminino para um público verdadeiramente global”, disse Cyrille Vigneron, presidente e CEO da Cartier International.
Na Expo Dubai 2020, Sophie Doireau falou com exclusividade à coluna.
COMO SURGIU A IDEIA DE PROMOVER ESSA CONVERGÊNCIA DE VALORES ENTRE A CARTIER E O EMPODERAMENTO FEMININO, A PARTIR DO WOMEN’S PAVILLION NA EXPO DUBAI 2020?
A ideia do pavilhão veio há quatro anos, e o ponto de partida foi criar um lugar para unir as mulheres e os países em que trabalhamos. A proposta foi erguer um espaço para diversas exposições com foco no diálogo, nas questões mundiais e nas conversas entre nações e organizações, a partir de uma visão feminina do mundo. Queremos incluir todos na questão da igualdade de gênero, e que as pessoas entendam que “quando nós, mulheres, prosperamos, a humanidade prospera”. O pavilhão representou um lugar físico em que esse mundo, mais justo, íntegro e digno, pôde existir.
COMO É SER A PRIMEIRA MULHER CEO DA CARTIER NO ORIENTE MÉDIO, ÍNDIA E ÁFRICA?
Essa é uma região muito masculina em termos de lideranças, especialmente no setor do luxo. Então, acredito que trazer um ponto de vista feminino é interessante, já que a maioria dos nossos consumidores são mulheres. Para mim, é um ponto positivo. Eu me sinto empoderada, recebi essa oportunidade porque merecia, pela minha experiência no setor na região. Disse a mim mesma: “Vamos lá!”.
QUAIS SÃO SEUS PRINCIPAIS DESAFIOS?
Estamos mudando uma visão de negócios que antes era focada nos Estados Unidos. Hoje trabalhamos com uma equipe mais diversa, com representantes e parceiros de todo o mundo. Assim, temos de criar estratégias de negócio que levem em conta as diferenças e as semelhanças entre os países, pensar fora da caixa. Nesse processo, a criatividade é muito importante e deve ser exercida sempre.
DEVE TER SIDO DESAFIADOR CRIAR UM PAVILHÃO SOBRE MULHERES NO CORAÇÃO DO ORIENTE MÉDIO.
Pensamos em um universo apolítico e inclusivo, no qual nós, da Cartier, poderíamos falar sobre as mulheres e as grandes questões mundiais. Percebemos que essa discussão não deve ficar restrita aos governos, mas sim fazer parte de debates no ambiente público e privado.
QUAL MENSAGEM VOCÊ GOSTARIA DE DEIXAR PARA NÓS, MULHERES?
Tenho um sonho de que um dia não precisaremos de projetos como o Pavilhão das Mulheres. Em uma sociedade na qual a igualdade de gênero realmente existisse, esse lugar não teria razão de existir. Acredito fortemente no equilíbrio e não acho que apenas as mulheres devem lutar pela igualdade de gênero. Afinal, a diversidade é crucial, traz diferentes visões. Não podemos esperar mais cinquenta anos. Temos que fazer isso agora, é preciso acelerar.
Iniciativa brilhante
Para celebrar seus 15 anos, o projeto Cartier Women’s Initiative divulgou seu Relatório de Impacto analisando a evolução do programa aberto a empresas dirigidas ou fundadas por mulheres, com o objetivo de impacto social ou sustentabilidade. Na Expo Dubai, nove ex-bolsistas foram premiadas de novo. Os três primeiros lugares: Temie Gina Tubosun, da Nigéria (fundadora da Life Bank, distribuidora digital de remédios para regiões da África); Charlotte Wang, da China (proprietária da EQuota, que alia inteligência artificial e big data para oferecer energia limpa); e Fariel Salahuddin, do Paquistão (da UpTrade, de implantação de sistemas de energia e distribuição de água em comunidades rurais).
Com Maria Rita Alonso (em Dubai), Mario Mendes, Antonia Petta e Sofia Mendes
Donata Meirelles é consultora de moda e estilo há mais de 30 anos, além de CEO da CFO11, que atende cerca de 20 marcas internacionais do setor.
Os artigos assinados são de responsabilidade exclusiva dos autores e não refletem, necessariamente, a opinião de Forbes Brasil e de seus editores.
Artigo publicado na edição 95 da revista Forbes.