Controlar hábitos financeiros com inteligência pode parecer desafiador em alguns momentos. São inúmeras as tentações de consumo e, diante delas, planejar a longo prazo é um processo que envolve disciplina e foco.
A boa notícia é que a ciência pode te ajudar a moldar hábitos de consumo e estabelecer uma relação mais saudável e consciente com o dinheiro.
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Estudos de economia comportamental analisam como a psique influencia nossos hábitos financeiros, muitas vezes de modo prejudicial, e nos ajudam a compreender a forma como nosso cérebro toma decisões.
Entender esses conceitos e os comportamentos que causam más decisões financeiras, possibilita mudanças e adoção de hábitos financeiros melhores.
O que é economia comportamental?
Economia comportamental é a ciência que estuda como nossas decisões são influenciadas por fatores socioculturais, cognitivos e emocionais, e como essa influência reverbera nos hábitos de consumo e de poupança.
Um dos objetivos da economia comportamental é entender as tendências que nos levam a tomar decisões financeiras prejudiciais.
Por que tomamos decisões financeiras ruins?
De acordo com a economia comportamental, nosso emocional nos inclina a escolhas dissonantes da natureza sistemática das finanças, e isso explica, de certa forma, porque muitas vezes tomamos decisões que trazem prazer momentâneo, mesmo cientes de que, eventualmente, tal escolha pode ser prejudicial no longo prazo.
A decisão pautada exclusivamente no emocional, pode explicar, por exemplo, porque você estoura o limite do cartão adquirindo um tênis novo e acima do seu orçamento, ao invés de planejar esta compra, deixando para fazê-la em um momento mais conveniente.
Quando você compreende seus processos de pensamento e suas emoções, começa a se instrumentalizar para mudar hábitos financeiros, tomando decisões mais conscientes e focadas em seus melhores interesses.
Por que gastamos como gastamos?
Para mudar hábitos financeiros e sua relação com dinheiro, a primeira coisa a fazer é dedicar algum tempo para responder a você mesmo, o que te move quando toma decisões ligadas a dinheiro. Necessidade de aprovação de outras pessoas? Baixa autoestima? Alta autoestima? Impulsividade? Acomodação? Insegurança? Otimismo excessivo?
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As respostas possíveis são muitas, e sejam quais forem as suas, elas só dizem respeito a você, pois esse é um exercício individual a ser feito com total sinceridade. Isso vai te ajudar a compreender melhor porque gasta ou economiza dinheiro, e assim, ficar mais alerta e fazer escolhas melhores.
Inúmeros motivos podem motivar alguém a gastar muito, e aqui trago dois exemplos bastante comuns:
- Paralisia de decisão: a tendência biológica de nosso cérebro é economizar energia, então, quando exposto a um grande número de opções, o mais fácil é não tomar decisão nenhuma, ou decidir aleatoriamente, apenas para sair mais rápido do stress da escolha.
- Falácia de planejamento: essa é uma armadilha do cérebro que nos leva a subestimar o tempo ou esforço para dar conta de uma tarefa, como por exemplo, quitar uma dívida.
Como mudar hábitos financeiros
Uma forma de lidar com esses comportamentos é dividir metas grandes em outras menores. Isso facilita o gerenciamento, e ajuda na motivação para seguir focado, pois você visualiza melhor as pequenas vitórias.
Suponhamos que você precise guardar R$ 15 mil nos próximos cinco anos para realizar um intercâmbio no exterior. Sua meta mensal de economia é de R$ 250,00. Ancorar desta forma, faz o objetivo ficar mais factível, logo, seu cérebro irá trabalhar em favor de decisões que o aproximem do resultado desejado, pois o esforço não é grande.
Uma outra estratégia muito útil para mudar hábitos financeiros ruins é utilizar a contabilidade mental. Segundo a economia comportamental, esse conceito se refere às diferentes formas de atribuição de valor que damos ao dinheiro.
O conceito de contabilidade mental rendeu a Richard Thaler, em 2017, o prêmio Nobel de Economia. De acordo com Thaler, a falta de tempo para refletir, os hábitos e a comodidade de tomar a decisão mais simples, faz com que nosso cérebro opte pelo cálculo mais simples na hora de fazer uma escolha financeira.
Isso explica, por exemplo, porque muita gente entra em financiamentos analisando apenas se a parcela cabe em seu orçamento mensal, ao invés de avaliar todas as alternativas de viabilização de uma compra e o custo x benefício de cada uma delas.
É possível usar a contabilidade mental a seu favor, aprendendo a tratar o dinheiro de formas distintas, conforme sua origem e sua destinação.
Ao definir metas de curto, médio e longo prazo, você deve ter investimentos diferentes para cada uma delas. Além disso, o seu orçamento para despesas do cotidiano também deve respeitar percentuais pré-estabelecidos para cada coisa.
Ano novo, hábitos novos
Agora que você já sabe como usar os estudos de economia comportamental a seu favor, é hora de colocar a mão na massa:
- Comece aos poucos: a psicologia humana é muito complexa, e se você quiser tentar mudar tudo de uma vez, a probabilidade maior é que acabe não mudando nada. Respeite seu tempo e concentre-se em um comportamento por vez. Dessa forma, você irá obter melhorias contínuas, e isso vai te dar muito mais segurança e controle sobre suas emoções.
- Busque aprender mais sobre economia comportamental. Os estudos são fascinantes e você irá se identificar muito com os inúmeros exemplos utilizados pelos cientistas para explicar o comportamento humano.
- Seja gentil com você ao longo do processo: erros acontecerão, e isso é natural. Mas, conforme você for se observando melhor, gradativamente conhecerá suas vulnerabilidades, sabendo antecipadamente onde tende a errar. Isso te colocará no controle para fazer planos e se manter na direção certa.
Sei que a frase é clichê, mas toda mudança começa com um pequeno passo. Se você tem como objetivo gastar melhor e juntar mais dinheiro em 2024, comece entendendo suas motivações e os obstáculos que você mesmo cria, pois são os únicos que estão sob seu controle.
Ao longo dessa jornada, é claro que haverá momentos em que não dependerá somente de você, pois fatores de conjuntura ou mesmo imprevistos fazem parte da vida de todos nós, mas, se pelo menos naquilo em que é o seu arbítrio que decide, você estiver alerta, com certeza os fatores externos terão peso bem menor.
Desejo que em 2024, você consiga tomar as rédeas de sua vida financeira rumo aos seus sonhos e se ao longo do processo, meu conhecimento puder ser útil de alguma forma, conte com isso. Feliz ano novo!
Eduardo Mira é formado em telecomunicações, com pós-graduação em pedagogia empresarial e MBA em gestão de investimento. É analista CNPI, certificado CPA10 e CPA20, ex-gerente do Banco do Brasil e da corretora Modal.
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