A decisão unânime do Comitê de Política Monetária (Copom) de manter a taxa Selic em 10,50% a.a, interrompendo o ciclo de cinco cortes consecutivos nos juros, deve ter como reflexo imediato uma leve redução na instabilidade que o mercado vinha apresentando recentemente.
De forma geral, a medida era amplamente esperada pelo mercado, mas o comunicado do Copom, naturalmente, suscita algumas reflexões importantes que você precisa entender para continuar tomando decisões de investimento alinhadas aos seus objetivos.
Contexto da decisão do Copom
Na reunião anterior, quando não houve unanimidade na votação pelo corte da taxa Selic, o mercado reagiu com mais instabilidade quanto à capacidade do Banco Central manter-se focado e sem politizar algo que o mercado espera que se paute sempre exclusivamente pelo viés econômico.
A unanimidade na reunião desta semana, de certa forma, deu ao mercado a sinalização que ele ansiava, de que há sim um esforço conjunto na equipe econômica em manter a estabilidade.
Tal coesão foi, inclusive, fundamental neste momento em que inúmeras incertezas de ordem global e local, dificultam as decisões de política monetária e o próprio Copom ressalta que há necessidade de cautela.
Os cenários que mais influenciam a decisão do Copom
O ambiente externo continua desafiador. Nos Estados Unidos, a taxa de juros permanece alta, contrariando as expectativas de múltiplos cortes ao longo de 2024, o que já há algum tempo vem gerando fuga do capital das economias emergentes como a nossa.
Para tentar manter no Brasil o capital dos grandes investidores institucionais, o prêmio de risco precisa ser mais alto, tal qual temos visto acontecer nas taxas de títulos públicos, como os do Tesouro Direto, que têm apresentado rendimentos elevados, puxando para cima o retorno de vários outros ativos na renda fixa.
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No entanto, não é apenas o cenário global adverso que força tem obrigado o Banco Central a manter uma política monetária cuidadosa. No âmbito interno, o risco fiscal continua sendo uma grande preocupação.
A ausência de cortes nos gastos públicos e a falta de sinais claros de controle fiscal são um importante fator de pressão das taxas de juros de longo prazo, refletindo a incerteza do mercado quanto à real condição do governo em manter a sustentabilidade fiscal do país.
Como ficam os investimentos?
Apesar do cenário cheio de incertezas e desafiador para nossa economia, há oportunidades interessantes. Na renda fixa, títulos do Tesouro indexados à inflação estão oferecendo rendimentos atraentes, como por exemplo, o Tesouro IPCA 2025, que nesta quarta-feira, fechou oferecendo taxa de IPCA + 6.34%.
Esses títulos são opções altamente viáveis para investidores de longo prazo, já que protegem contra a inflação, garantindo retornos reais positivos e em patamares muito altos, e analisando as taxas de juros em linha de tempo longa, nota-se claramente que em 90% do tempo, o mercado opera bem abaixo disso.
Há quem esteja investindo nesses títulos do Tesouro visando a marcação do título a mercado, quando a taxa Selic começar a cair. Essa é também uma estratégia muito interessante, porém, requer acompanhamento do mercado por parte do investidor, além de um planejamento mais elaborado, pois não é possível saber com exatidão quando a Selic vai voltar a cair, dadas as incertezas tanto do mercado externo, quanto do interno.
Particularmente, considero viável investir nesses títulos atrelando suas metas de longo prazo ao vencimento deles. E eu expliquei isso com mais detalhes no vídeo que fiz no meu canal do youtube nesta quarta-feira.
Na renda variável, com a bolsa em queda, ainda temos excelentes oportunidades de adquirir ativos de empresas resilientes a preços muito baixos, o que se mostra altamente viável para o investidor de longo prazo que tenha perfil de risco mais arrojado e que saiba atravessar o período de alta volatilidade da bolsa sem se desesperar.
É um excelente momento para se posicionar em ações de setores como bancos, seguradoras, eletricidade e saneamento, porém, tendo consciência de que a bolsa ainda deve sofrer um pouco ao longo de 2024, pois está em tendência de baixa, o que não vai mudar do dia pra noite, já que o cenário ainda é de Selic sem novos cortes.
O investidor pode ficar otimista?
O futuro da taxa Selic ainda é incerto, especialmente com a iminente troca do presidente do Banco Central em 2025. A política fiscal e as ações do governo serão determinantes para as próximas decisões do Copom, e a continuidade da Selic em níveis elevados pode ser necessária para manter a inflação sob controle.
Quanto ao otimismo ou pessimismo do investidor, vou ter que reforçar o que sempre digo por aqui: se você investe com planejamento focado em suas metas, e faz a alocação de ativos em sua carteira tomando isso por critério, não tem porque ficar pessimista.
Uma carteira estruturada sempre estará protegida contra oscilações relevantes na economia, e balanceada de forma a equilibrar os aportes aproveitando as oportunidades em cada ciclo econômico.
Se você está começando a investir, e ainda não tem um balanceamento de carteira que te possibilite identificar as oportunidades de mercado que estão em linha com as suas necessidades de rentabilidade, minha indicação é: estude!
Você não precisa se tornar um especialista em mercado financeiro, mas precisa dominar o básico para se tornar especialista em sua carteira de investimentos, pois é isso que irá garantir sua liberdade financeira, independente do cenário.
Eduardo Mira é investidor profissional, analista CNPI, pós graduado em pedagogia empresarial, coordenador do MBA em Planejamento Financeiro e Análise de Investimentos da Anhembi Morumbi, sócio do Clube FII e sócio fundador da holding financeira MR4 Participações.
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