O agronegócio é um setor dinâmico que procura constante evolução, investindo em tecnologia, genética, cultivares, maquinário e instalações. Entretanto, para atingir um patamar mais elevado de organização, eficiência e produtividade, precisamos ter este mesmo olhar dinâmico para a gestão. É aí que se encaixam as ferramentas da Filosofia Lean, um sistema de gestão que vem da indústria e tem o potencial de transformar o agronegócio com a possibilidade de aumentar a eficiência, reduzindo o desperdício seja de tempo, segurança, retrabalho e material, com menor custo, sem perda de qualidade.
O Lean Manufacturing, foi criado pela marca japonesa Toyota de veículos nos anos 1950 e devido a sua adaptabilidade, é utilizado em diversas empresas e setores.
Estamos entrando no terceiro ano da implementação deste sistema de gestão, preparando nossa operação para um nível mais robusto de gestão, tanto na pecuária, quanto na agricultura.
Os primeiros passos para a implementação descritos em detalhes em artigo anterior mostra algumas das ferramentas disponíveis.
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Iniciamos com o Mapeamento de processos, mapeamento das áreas e das oportunidades de melhoria. Isto tudo foi convertido em uma planilha que se chama plano de ação, onde transformamos as oportunidades de melhoria em tarefas, com pessoas responsáveis pelo cumprimento, data de início e data prevista de finalização, A realização das ações corre paralelamente ao trabalho na propriedade, sendo utilizada como uma ferramenta de administração.
No segundo encontro iniciamos pela utilização da ferramenta 5S que deriva das palavras em japonês equivalentes a Utilização, Ordenação, Limpeza, Padronização e Autodisciplina. Conforme foi descrito no artigo acima citado, este processo foi replicado em todos os setores da propriedade. Após cada encontro, foi criado um plano de limpeza para o setor, esta é a ferramenta que garante a manutenção da disciplina e guia as avaliações mensais do 5S.
Estabelecido o plano de limpeza, entrou na gestão outra ferramenta o Kamishibai uma auditoria escalonada. O grande diferencial do Lean, são as inúmeras ferramentas que se adaptam a cada realidade. Na nossa experiência, a auditoria escalonada ajudou a gestão da propriedade, “obrigando” os membros da diretoria a estarem presencialmente nas áreas, acompanhando o trabalho e garantindo a disciplina e sobrevivência do projeto.
Com o avanço das áreas e das ações no plano de ação, iniciamos novas ferramentas. Na nossa empresa, a manutenção de maquinário é uma das maiores despesas que temos, iniciamos então com uma nova ferramenta TPM, (manutenção produtiva total), ferramenta que muito interessa ao setor do agronegócio. Fizemos um inventário de máquinas e equipamentos, relacionamos os equipamentos mais críticos, dos quais criamos uma lista de peças de reposição. Também dos equipamentos críticos, levantamos as partes que são necessárias serem checadas e iniciamos um check list diário, desta maneira, promovendo manutenções preventivas, visando diminuir as manutenções corretivas, que em geral são caras e inesperadas.
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Implementamos uma ferramenta de solução de problemas chamada A3 que já nos proporcionou economias substanciais. Até o momento realizamos um A3 para aumento de GMD no confinamento saltando de 1,36kg para 1,7kg estabilizando em 1,5kg que foi a meta estabelecida. Outro A3 foi realizado para otimização de abastecimento, que visa reduzir o deslocamento e o tempo de abastecimento dos implementos, onde eliminamos paradas desnecessárias ao adotar um Comboio de Abastecimento, reduzindo o tempo de inatividade das máquinas. Ainda em outro projeto A3, conseguimos aumentar a eficiência na aplicação de insumos no campo, reduzindo o tempo de abastecimento de 23 para 8 minutos e aumentando a produtividade de 16 para 30 hectares por hora.
De acordo com o engenheiro industrial mecânico e de segurança de trabalho, Daniel Pires, especialista em Lean Manufacturing da Pison Engenharia, “a implementação de ferramentas Lean é crucial para o desenvolvimento e a manutenção de uma cultura Lean em qualquer organização. Elas não apenas melhoram a eficiência e reduzem desperdícios, mas também são essenciais para a evolução contínua e a sustentabilidade da abordagem Lean. Na fazenda, isso resulta em processos mais ágeis e sustentáveis, alinhando operações e pessoas na jornada rumo à excelência.”
Não existe mais espaço para amadorismo na agropecuária brasileira. Buscamos estruturar e profissionalizar nossos negócios, mas por outro lado, não queremos uma fazenda parabéns, queremos um negócio rentável.
A jornada é árdua, entretanto a disciplina traz resultados, em um ambiente de trabalho limpo e organizado, com os processos mapeados, padronizados, os funcionários, que recebem treinamento especializado, tem domínio das suas funções e trabalham com maior autonomia para um dia a dia mais eficiente e produtivo. Através da solução de problemas, reduzimos valores substanciais em desperdício. O futuro é Kaizen, que significa mudar para melhor em japonês.
*Helen Jacintho é engenheira de alimentos por formação e trabalha há mais de 15 anos na Fazenda Continental, na Fazenda Regalito e no setor de seleção genética na Brahmânia Continental. Fez Business for Entrepreneurs na Universidade do Colorado e é juíza de morfologia pela ABCZ. Também estudou marketing e carreira no agronegócio.
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