O Congress Hall em Davos estava lotado nesta terça-feira (21) durante o Fórum Econômico Mundial, para ouvir o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky. À medida que nos aproximamos do marco de três anos da invasão da Ucrânia pela Rússia, o cenário não poderia ser mais alarmante: centenas de milhares de vidas perdidas, uma crise humanitária devastadora e um conflito que não dá sinais de resolução. O discurso de Zelensky, repleto de mensagens poderosas, deixou claro que esta guerra não é apenas da Ucrânia, mas de todos aqueles que acreditam na liberdade, na segurança global e na relevância de uma Europa forte e unificada.
Zelensky iniciou com um ponto crucial: a aliança transatlântica não pode ser vista como algo garantido. “Washington não acredita que a Europa pode oferecer algo substancial”, afirmou ele, em referência à percepção de que os Estados Unidos priorizam regiões como o Pacífico e o Oriente Médio, relegando a Europa a um papel secundário. Para ele, essa visão precisa mudar. A Europa, sublinhou o líder ucraniano, não pode se contentar em ser a terceira prioridade nas agendas globais. Deve, ao contrário, competir pelo topo, especialmente em áreas como segurança, tecnologia e inovação.
Escalada militar
O ponto mais contundente do discurso veio quando Zelensky alertou para a escalada militar da Rússia, comparando o país a uma versão de “Coreia do Norte com armamento nuclear”, e destacou que Moscou não hesitará em forjar alianças estratégicas com regimes como o Irã e a própria Coreia do Norte. Essas parcerias, afirmou, não são acidentes, mas sim estratégias deliberadas voltadas contra democracias como as da Europa e dos Estados Unidos.
Zelensky também defendeu com veemência que a Europa precisa ser autossuficiente em defesa. Ele propôs que o continente desenvolva seu próprio “Iron Dome” para se proteger de ameaças de mísseis balísticos e drones, ressaltando que não se pode depender apenas da boa vontade de capitais como Washington, Berlim ou Paris. Foi um chamado para que os países europeus aumentem os gastos com defesa, se necessário destinando até 5% do Produto Interno Bruto (PIB), com um argumento convincente: segurança não pode ser tratada como um luxo, mas como um investimento essencial para o futuro.
Outro ponto de destaque foi sua menção à relevância da Ucrânia como força estratégica e produtiva. Ele citou a colaboração do país na fabricação de drones e de equipamentos militares a preços competitivos, posicionando a Ucrânia como um pilar para a segurança europeia. “Investir na Ucrânia é investir na segurança de toda a Europa”, enfatizou.
Transição exige desafios
Não posso deixar de refletir sobre o impacto dessas palavras no contexto atual. Vivemos uma era em que, paradoxalmente, enquanto buscamos avanços tecnológicos e soluções para questões climáticas, presenciamos um aumento vertiginoso nos gastos militares e na retórica bélica. A mensagem de Zelensky reforça o ponto: o mundo está em transição, mas essa transição vem acompanhada de desafios que exigem liderança, união e visão de longo prazo.
Zelensky não apenas expôs as falhas nas alianças globais, mas também apresentou soluções. Seu apelo por um fortalecimento tecnológico europeu é uma chamada de atenção para os atrasos da Europa em áreas como inteligência artificial e produção de tecnologia de ponta. “Já estamos atrás de Estados Unidos e China. Se não agirmos agora, perderemos este século”, afirmou.
Ao sair do Congress Hall, a sensação era de que este foi mais do que um discurso; foi um chamado à ação. A guerra na Ucrânia é uma ferida aberta, mas também um catalisador para reavaliarmos prioridades globais. Como Zelensky colocou: “A Europa não pode ser apenas um espectador nos grandes debates globais; deve moldar o futuro ao lado de seus aliados.”
Davos mostrou mais uma vez que a política internacional está mais viva e complexa do que nunca. Zelensky nos lembrou que, em tempos de crise, é na coragem e na ação que os líderes se destacam. E, mais do que nunca, o mundo precisa de liderança.