Presente no Brasil desde 1957, a Valid (VLID3), então controlada pela inglesa Thomas de La Rue, começou seus negócios por aqui produzindo o papel usado pela Casa da Moeda para imprimir os cruzeiros, cruzados e várias outras moedas que circularam no século passado. Atualmente, ela desenvolve soluções de identificação segura para pagamentos eletrônicos e produz cartões de crédito e débito. E após uma reestruturação profunda nos últimos dois anos, ela registou um lucro de R$ 60,7 milhões no terceiro trimestre deste ano.
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Os negócios andaram ruins entre 2019 e 2021, com lucros pequenos e um prejuízo recorde de R$ 148 milhões no segundo trimestre de 2020. No entanto, na terça-feira (7) a companhia informou o melhor resultado em termos nominais e reais desde que abriu seu capital, em 2006. E a estratégia para isso envolveu vender as operações nos Estados Unidos e permanecer trabalhando na pouco promissora Argentina, que enfrenta uma grave crise econômica.
“A decisão de sair dos Estados Unidos foi estratégica”, diz Ivan Murias, CEO da Valid. “É o maior mercado do mundo, mas nossas operações eram pequenas e, para piorar, a unidade americana consumia caixa.” A venda das operações, em 2020, serviu para reduzir o endividamento. A companhia também reduziu custos, transferindo muitas das atividades realizadas em São Paulo e no Rio de Janeiro para a fábrica de Sorocaba, no interior de São Paulo. “Isso permitiu o pré-pagamento de algumas debêntures e, quando a Selic subiu, em 2021, estávamos na contramão do mercado, com pouca dívida e um caixa reforçado”, diz Murias.
Argentina
A permanência na Argentina, devastada por uma inflação sem controle e por uma crise econômica pesada, acabou sendo excelente para os resultados. As operações locais da Valid incluem a produção física de cartões de crédito e débito. Em junho deste ano, para impedir a saída dos escassos dólares remanescentes necessários às importações de combustíveis, o governo de Alberto Fernández impôs limites à compra de moeda para financiar importações. As empresas passaram a ter acesso apenas a um volume de divisas equivalente ao importado em 2021 mais 5%. Se precisarem de mais dólares, terão de levantar recursos via crédito.
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Isso travou boa parte das importações, inclusive as de cartões. “Todos os nossos concorrentes dependem de cartões importados. Com a medida, todo o mercado se voltou para nós e pudemos atender esses clientes com nossa planta local”, diz o CEO. Ele afirma que esse foi um efeito temporário. Não exatamente não-recorrente, pois ainda deverá ter impacto nos resultados, mas está longe de ser permanente. Mesmo assim, paradoxalmente, a saída dos Estados Unidos e a permanência na Argentina contribuíram para os resultados recordes.
Caixa e valorização
Além dos cartões, a empresa produz chips telefônicos para aparelhos Android de menor valor de mercado. Essa produção é exportada principalmente para países da África e do Sudeste Asiático. O negócio mais promissor, porém, é o da identificação. A Valid tem contratos com 12 departamentos estaduais de trânsito para a produção de carteiras de habilitação, e fornece documentos de identificação pessoal para nove Estados da federação. “A receita cresceu 15% no trimestre, mas a geração de caixa avançou 30%, o dobro”, diz o CEO. “O ganho de escala permitiu diluir os custos fixos.”
A redução do endividamento contribuiu para que a geração operacional de caixa tenha subido para 92,5% do lucro operacional, medido pelo Ebitda. “Isso quer dizer que, a cada R$ 100 em Ebitda, R$ 92,50 ficam disponíveis para a empresa, na forma de caixa”, afirma o CEO. Como o endividamento da empresa foi reduzido, sobram mais recursos.
A melhora dos resultados se refletiu nos pregões. No acumulado do ano, até a terça-feira (7), as ações da Valid subiram 87,1%, dez vezes mais que os 8,7% de valorização do Ibovespa nesse período. Com isso, o valor de mercado da empresa avançou de R$ 734 milhões no fim de 2022 para R$ 1,28 bilhão na terça-feira.