Por muitos anos, a cultura organizacional foi vista como um reflexo das pessoas que lá trabalham. Nesta visão tradicional, a cultura sempre foi encarada como algo espontâneo e muito mais ligado ao departamento de recursos humanos do que algo diretamente ligado à estratégia de negócio.
Com base nessa teoria onde a cultura organizacional é a expressão dos valores e propósito da empresa, eu te pergunto: a cultura do local onde você trabalha é inclusiva ou excludente?
Se a cultura é reflexo das pessoas, a observação analítica da composição da força de trabalho, dos cargos e representatividade, permite descobrir o grau de inclusão da cultura corporativa.
A cultura empresarial também é reflexo da sociedade em que ela está inserida. No entanto, aqui no Brasil, a heterogeneidade humana que compõe nosso país nem sempre está espelhada nas empresas –ao menos não nos níveis de maior poder decisório e estratégia.
Com este cenário em mente, afirmo que a cultura organizacional é de fato inclusiva quando é composta pela mesma pluralidade de agentes que compõem a sociedade. A empresa assegura a esses agentes um lugar à mesa onde as estratégias são delineadas. A cultura da empresa excludente, por outro lado, é onde encontramos diversidade em sua composição, mas a segurança psicológica necessária para que essas mesmas diversidades gerem valor não é fornecida.
Se você escolher ficar com uma frase deste artigo, guarde esta: cultura Inclusiva é garantir que as diversidades da sua organização gerem valor a partir de suas narrativas singulares.
Inovação e relevância no mercado
Diante do evento pandêmico em que nos encontramos, não são poucas as pesquisas e análises que apontam para um mercado cada vez mais exigente no que se refere a inovação. Inovar não é mais a palavra que está conectada ao Vale do Silício: ela se conecta agora ao core business de qualquer organização, uma vez que shareholders e stakeholders passaram por enorme transformação nesse cenário VUCA e hoje suas necessidades são outras.
A crise amplificou essa realidade VUCA, de volatility (volatilidade), uncertainty (incerteza), complexity (complexidade) e ambiguity (ambiguidade). Todas as empresas que pretendem se manter relevantes no mercado estão atentas a essa realidade.
Vale lembrar que a expressão VUCA surgiu na guerra fria para expressar o cenário caótico de 1990, que colocava as forças armadas estadunidenses numa posição bastante incerta, já que a velocidade das mudanças catalisava a necessidade de uma revisão rápida das estratégias previamente traçadas. Por volta de 2008, o mundo corporativo passou a adotar a expressão para ilustrar o cenário da crise, e, não por acaso, essa expressão continua sendo fortemente utilizada.
Uma nomenclatura que servia para representar um momento pontual na história se tornou o símbolo da expressão de uma Era. Isso me permite afirmar que o caos de outrora é a realidade social dos tempos atuais – mas por que nunca paramos para observar isso?
Talvez, uma das razões para isso é que nunca precisamos ser tão estratégicos ao conectar pessoas e números. Se a realidade é nova, as pessoas são as mesmas, e suas necessidades humanas estão cada vez mais conectadas aos seus valores, e o consumo é repensado em vários níveis.
Um novo capitalismo
Shareholders e stakeholders estão ávidos por soluções inovadoras que resolvem suas necessidades e sejam boas para a sociedade. A escassez vivenciada por esse período levou muitos de nós a pensar, pela primeira vez, sobre nosso comportamento de consumo. Nessa reflexão, surge o consumo consciente, o que impacta diretamente no modelo econômico da nossa estrutura social.
Portanto, a cultura inclusiva aqui é a garantia de que a inovação pela qual os players estão sedentos não seja mais uma disrupção tecnológica – que arrisca ampliar o abismo social em que nos encontramos – mas aquela que parte do subjetivo humano. É a inovação que parte de um ponto de vista diferente, que vem das histórias de vida única das pessoas que fazem parte do debate estratégico fundamental para a inovação.
O debate estratégico só pode acontecer com a garantia de que nenhuma ideia será irrelevante, e que nenhuma pessoa ficará para trás. Este tipo de debate só acontecerá se os envolvidos tiverem a tranquilidade de errar sem medo de punição e a segurança psicológica, que é um dos elementos da cultura inclusiva é a grande estrela dessa realidade e que conecta de fato a diversidade de pessoas e a sua capacidade de gerar inovação.
Se shareholders e stakeholders estão ávidos por soluções inovadoras que resolvem suas necessidades e sejam boas para o planeta para que façam o emprego consciente de seu capital, é preciso ter a cultura inclusiva como estratégia de negócio.
Como exemplo dessa nova Era mercadológica que vê na inovação a pedra de salvação das grandes companhias, e no consumo consciente um norte para a geração dessa inovação, cito como exemplo a CEO da Nasdaq, que sente os rumos da economia apontando para novas realidades.
Adena Friedman afirma que a “essência do capitalismo está mudando” e vê um “capitalismo cooperativo”, no qual empresas e governos andam juntos, e aqui que podemos entender a importância da Cultura Inclusiva como imperativo, ela é aquela aponta o caminho da tomada de decisões guiadas por propósito e responsabilidade social, e não vejo possibilidade de inovação que não passe por aqui.
Se não focamos no impacto e responsabilidade social de nossas soluções inovadoras corremos o risco de ampliar o abismo social que se apresenta como mais desafiador a cada dia e precisamos nos lembrar que inovação não está fundamentada na tecnologia, mas sim na possibilidade de pensarmos algo novo e que ninguém nunca pensou, sobre algo que todo mundo vê.
Ana Bavon é advogada especialista em Direitos Civis e membra da Comissão de Ética, Diversidade e Igualdade do IBDEE. Especialista em estratégias de Inclusão e Gestão das Diversidades nas Organizações na B4People Cultura Inclusiva, onde é CEO.
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