Em 2020, felizmente podemos dizer que os unicórnios estão muito mais rosas do que antes. No começo do ano, uma matéria escrita pela Claire Diaz-Ortiz e veiculada pela “TechCrunch” (da qual inclusive eu participei) reúne algumas pesquisas de mercado interessantes. Os resultados mostram como o impacto da presença de lideranças femininas em startups está performando acima da média. Além disso, é possível notar que muitas dessas empresas são responsáveis por gerar bons retornos para os VCs que investiram na América Latina.
A consultoria norte-americana Boston Consulting Group mostra que startups fundadas por mulheres geram 2,5 vezes mais receita por dólar levantado junto a investidores do que aquelas fundadas por homens. Outro estudo, este do First Round Capital, mostra que empresas fundadas estritamente por mulheres registraram desempenho 63% melhor do que aquelas com equipes fundadoras masculinas.
Um case de sucesso
Não precisamos ir muito longe para ver startups majoritariamente femininas de sucesso. Aqui mesmo no Brasil, a Theia, startup fundada pelas empreendedoras Flavia Deutsch e Paula Crespi, serve de exemplo. No ano passado, quando elas estavam levantando investimentos para sua plataforma B2B, que apoia mães e pais em suas principais necessidades, decidiram rejeitar alguns cheques de investidores homens, mesmo que fosse mais fácil convencê-los a assinarem os maiores valores.
No entanto, essa decisão não foi simplesmente ideológica. Um outro estudo, da fundação Ewing Marion Kauffman, divulgou que o retorno do investimento obtido em empresas lideradas apenas por mulheres é 35% mais rápido em relação àquelas lideradas em sua maioria por homens.
O resultado dessa decisão? A Theia se destacou ao se tornar a companhia fundada apenas por mulheres a conseguir levantar o maior valor em investimentos de 2019. Como estratégia para manter os resultados elevados, suas investidoras combinaram de não abrir mão da proporção de, para cada investidor homem que colocasse dinheiro, houvesse também a participação de uma investidora mulher.
A diversidade faz a diferença
Contudo, além da participação dominantemente feminina, a diversidade dos fundadores, têm se revelado um fator importante nas empresas do futuro. Os investimentos feitos por companhias lideradas por homens e mulheres é outro fenômeno que está em alta na América Latina: correspondeu, em 2019, a 16% dos dólares investidos no continente.
Para se ter uma ideia, nos Estados Unidos, essa porcentagem é de apenas 9% e, na Europa, 8%. Esse número da América Latina inclui US$ 400 milhões colocados no Nubank, que se tornou o principal unicórnio brasileiro, tendo como cofundadora Cristina Junqueira — que, por sinal, estava grávida na época.
À frente de mais de 40 investimentos em startups, lido com founders homens e mulheres e, apesar dos números, não acredito que o gênero possa definir se um negócio irá ou não dar certo. Ainda assim, sou defensora da diversidade no board das empresas que investi, porque entendo que contar com diversos pontos de vista diferentes colocados na mesa, torna as decisões mais assertivas e pertinentes.
Pessoas que pensam diferente de nós trazem outras visões do mercado e, frequentemente, nos mostram aspectos que não conseguimos enxergar sozinhos. O fato, é que as empresas do futuro persistem e não resistem à inovação!
Um pouco sobre a minha trajetória…
Quando comecei, praticamente não havia mulheres investindo em startups no Brasil, éramos menos de 1% das investidoras-anjo e a principal dificuldade que enfrentávamos era justamente acreditar em nós mesmas. De lá para cá, empreendi, me tornei protagonista em minha vida e muita coisa mudou, fundei o MIA – Mulheres Empreendedoras Anjo, o Gávea Angels e a G2 Capital. Me voltei para os meus próprios negócios e consolidei a operação dos meus grupos empresariais.
Mas ao invés de mencionar todas as dificuldades que enfrentei, sempre prefiro falar das conquistas. Acredito no valor da diversidade para o desenvolvimento de negócios inovadores. No geral, o investimento total em equipes masculinas e femininas mistas representou 17% do total investido na América Latina, 13% nos EUA e 9% na Europa. Já deu pra entender o que eu estou querendo dizer não é mesmo?
E é nesse ponto que se torna ainda mais importante este ciclo virtuoso que está acontecendo na América Latina: mulheres e homens investidores atuando em sinergia e acreditando nas empresas que, por sua vez, tem dado retorno cada vez maior.
Cada vez mais as empresas estão percebendo essas tendências, e implementando novas estratégias. Com essa movimentação acontecendo rapidamente e de forma coordenada, tudo indica que as relações de investimento caminham para se tornar gradualmente menos desiguais, fazendo com que a roda da economia gire mais rápido e de forma mais democrática. Esse é ou não é o cenário que todos nós buscamos? Com certeza esse é um dos meus maiores desejos como investidora!
Camila Farani é um dos “tubarões” do “Shark Tank Brasil”. É Top Voice no LinekdIn Brasil e a única mulher bicampeã premiada como Melhor Investidora-Anjo no Startup Awards 2016 e 2018. Sócia-fundadora da G2 Capital, uma butique de investimentos em empresas de tecnologia, as startups.
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