Enquanto a maior crise sanitária de nossa época continua sem apresentar qualquer expectativa de chegar ao seu fim, colaboradores de empresas de todo o mundo estão cada vez mais cansados. O motivo apontado é o trabalho em regime de home office, razão que até poderia ser considerada como positiva para a melhoria da qualidade de vida, já que, em um primeiro momento, trabalhar de casa poderia parecer mais fácil e agradável.
Só que não. Tudo leva a crer que a ausência de delimitações entre trabalho e vida pessoal, assim como a insegurança generalizada trazida pela pandemia de Covid-19 e a ausência de conexões humanas está massacrando funcionários de quase todos os setores, em especial os que atuam em tecnologia.
E o local que está concentrando as equipes mais extenuadas do planeta é o Vale do Silício. Pelo menos é o que mostra uma nova pesquisa do aplicativo de bate-papo corporativo Blind, que entrevistou 3.023 funcionários de empresas como Amazon, Microsoft, Google e Facebook. A pesquisa descobriu que os funcionários de algumas das maiores empresas de tecnologia do mundo estão se sentindo substancialmente mais esgotados do que antes da pandemia. Do total de funcionários pesquisados, 68% disseram que se sentem mais exaustos do que quando trabalhavam em um escritório.
O esgotamento é particularmente alto entre os funcionários do Google e do Facebook: 79% dos funcionários do Google e 81% dos funcionários do Facebook que responderam à pesquisa dizem que estão muito mais cansados do que antes. As descobertas do Blind destacam que a estafa dos funcionários está piorando à medida que a pandemia do coronavírus se estende sem que haja um prazo provável para acabar.
Outro estudo do Blind, este com 3.921 usuários conduzido em fevereiro, descobriu que 61% dos profissionais estavam esgotados por motivos, na maioria das vezes, relacionados a uma alta carga de trabalho, recompensas insuficientes e falta de controle sobre as horas trabalhadas. Em maio, esse número havia aumentado 12%, com um em cada cinco mencionando o medo de perder o emprego como o principal fator de estresse.
Pesquisas similares, feitas em outros ambientes corporativos e listadas pelo Business Insider, produziram resultados semelhantes. A plataforma de contratação Monster descobriu que, entre maio e julho deste ano, houve um aumento de 20% nos trabalhadores que relataram sintomas de burnout (síndrome ligada ao esgotamento ocasionado por excesso de trabalho).
E, apesar de o home office ter aliviado fatores de estresse como o tempo perdido no trânsito por conta do trajeto casa-trabalho, houve a substituição por elementos como o medo primário de contrair o vírus da Covid-19 e também por fatores secundários como a insegurança financeira e o já mencionado medo de perder o emprego, conforme comenta Terri Patterson, psicóloga e diretora da consultoria global Control Risks.
Em outra pesquisa recente do Blind com 5.500 usuários, mais da metade dos entrevistados disseram que seu equilíbrio entre vida pessoal e profissional piorou desde que precisaram aderir ao home office.
Não apenas no Vale do Silício isso vem acontecendo. Conforme aponta Gwen Moran para a Fast Company, pesquisa da Society of Human Resources Management revela que 35% dos funcionários têm relatado sentir-se cansados ou com pouca energia com frequência. Outro estudo, este divulgado pela DigitalOcean, descobriu que 82% dos trabalhadores remotos da área de tecnologia relataram sentir-se mais cansados ao trabalharem de casa.
E não somente porque não há delimitações entre o dever e o lazer, como também porque a carga horária vem de fato aumentando vertiginosamente. Pesquisa da Blue Jeans descobriu que os trabalhadores remotos têm registrado, em média, 3,13 horas adicionais por dia trabalhando em casa. Considerando colaboradores mais produtivos, existem casos de pessoas trabalhando até 4,64 horas extras por dia, tornando o cotidiano altamente extenuante.
A pesquisa do Blind aponta que o mesmo caso acontece no Vale do Silício, onde os colaboradores também estão trabalhando mais horas do que antes da pandemia. Estudo descobriu que isso vem acontecendo com cerca de 60% dos entrevistados, especialmente na Amazon e na Microsoft, onde 67% e 70% dos funcionários, respectivamente, dizem que estão trabalhando mais dias do que antes. Metade dos funcionários do Google e do Facebook relataram o mesmo.
Já em artigo recente para a Forbes USA, a socióloga Tracy Brower elenca algumas questões que podem explicar este aumento do estresse detectado. Uma delas é a falta que os colaboradores sentem de se integrar com pessoas de carne e osso. Um dos grandes benefícios do trabalho para a interação humana são as conexões efetuadas com aquelas pessoas que não necessariamente fazem parte de nosso círculo imediato.
Tracy comenta que a cafeteria do escritório oferece a oportunidade de encontrar colegas de trabalho, ficar conectado e manter relacionamentos com pessoas além de sua rede de amigos mais íntima e que, com a pandemia e este novo regime de trabalho, teve que ser reduzida, fazendo com que os colaboradores começassem a sentir falta das conexões humanas e desta sociabilidade.
E qual a solução para tal dificuldade, que vem tornando tão sofrida a vida de colaboradores em todo o mundo? Enquanto a pandemia não acaba de vez, especialistas dão algumas dicas, como: aplicar técnicas de relaxamento guiadas; respiração diafragmática; meditação e espiritualidade; estabelecer horários mais rígidos de início e de término do seu expediente; encontrar novas maneiras de se conectar às pessoas – de maneira presencial quando possível – ou mesmo se valendo das ferramentas tecnológicas, só que para falar de amenidades, bater o papo da hora do cafezinho em uma teleconferência, por exemplo.
Um dia isso tudo vai acabar e, quando acontecer, é importante que você tenha conseguido não perder sua serenidade e, mais importante ainda, que sua sanidade não tenha sido extraviada devido a tanto estresse. Como cantava Walter Franco cinquenta anos atrás, no escritório ou em home office, tudo é questão de manter a mente quieta, a espinha ereta e o coração tranquilo.
Camila Farani é um dos “tubarões” do “Shark Tank Brasil”. É Top Voice no LinekdIn Brasil e a única mulher bicampeã premiada como Melhor Investidora-Anjo no Startup Awards 2016 e 2018. Sócia-fundadora da G2 Capital, uma butique de investimentos em empresas de tecnologia, as startups.
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