Em 2008, o prêmio Nobel de Economia Paul Krugman previu que o crescimento das cidades será o modelo econômico de desenvolvimento no futuro. As cidades são a pauta do século 21. Com isso, surgem novas agendas com foco no desenvolvimento sustentável, na inclusão social e na gestão inteligente dos territórios.
Em resposta, surgem os vários conceitos de territórios: conectados, empreendedores, participativos, resilientes. Todos sustentados na tese de que a tecnologia transforma a vida de seus habitantes. É bom que se diga que em determinados territórios já se vive essa realidade.
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Não há como não relacionar a melhoria da qualidade de vida das pessoas com a tecnologia, é impossível transformar cidades sem a inovação. As plataformas digitais voltadas para a mobilidade – transporte público, compartilhamento de veículos, bicicletas – são bons exemplos.
A transformação dos territórios envolve investimentos privados e públicos. É mister que empresas, cidadãos e governos encontrem caminhos para esse capital inovador, ou sejam, negócios que sejam inteligentes, humanos e sustentáveis.
Um bom caminho é a atração de empreendedores com iniciativas financeiramente sustentáveis, com viés econômico e caráter social e/ou ambiental, contribuindo para mudar a realidade de populações menos favorecidas e fomentando o desenvolvimento da economia local.
A construção de ecossistemas digitais em favelas é estratégica aos negócios de impacto com potencial escalável, por ser um grande laboratório social.
Neste cenário, os consumidores definem a regra do jogo. Há uma tendência, lenta e gradual, na procura de produtos que causem danos ambientais mínimos e causem impacto social positivo. Toda tendência é uma oportunidade de disrupção, e é nessa direção que o vento chega, de modo singular, aos varejistas.
Dada a sua posição entre os fornecedores e os consumidores, o varejo digital é essencial para uma economia justa e digna. Ao servir como uma conexão entre fornecedores e consumidores, as iniciativas de varejo podem focar nas questões sociais em toda a cadeia de abastecimento, até porque a sustentabilidade é uma das questões mais críticas enfrentadas pelos varejistas. A automação do setor, principalmente na base da pirâmide social, é a porta de entrada para democratizar os negócios e permitir impactos escalonáveis.
Um bom exemplo nasceu numa favela da cidade de São Paulo. Semana passada, a Onii, startup de lojas autônomas, inaugurou em Paraisópolis um espaço voltado exclusivo para empreendedores locais, o eegloo. Trata-se de um ambiente indutor de novos negócios, gerando renda e postos de trabalho.
O eegloo, uma versão das lojas autônomas que permitem compras via plataforma digital, vai operar no modelo de empreendedorismo social. Com isso, o faturamento de cada loja será dividido entre os empreendedores, o grupo G10 das Favelas, a ONG Turma do Jiló, o Instituto Kobra e a Onii. A iniciativa conta com a Ambev e a P&G como parceiros.
No coração da favela de Paraisópolis está uma modelagem digital bem mais ampla do que se possa imaginar, de construir uma cultura de colaboração, de usar dados para romper as fronteiras funcionais e territoriais, de usar a tecnologia para descobrir novas possibilidades e, no processo da cadeia de suprimentos do varejo da favela, de reimaginar completamente a loja do futuro.
Além do mais, é na favela que a alma do consumidor se apresenta verdadeira. É o ambiente ideal para a cocriação. O comprador digital se comporta altamente interconectado com seus pares sociais e é mais disposto do que nunca a compartilhar experiências e permitir que outros lucrem com suas interações com produtos e serviços. Os consumidores ajudam a cocriar a proposta de valor com base em sua disposição de fornecer feedback.
Há uma mesma palavra de ordem no varejo e na periferia: engajamento. Se a favela é o ambiente propício para o exponencial da tecnologia, então a tecnologia é popular.
O território do futuro será uma rede impulsionada pela rapidez com que o digital é incorporado, aumentando a coesão, agilidade e capacidade de resposta das pessoas.
Haroldo Rodrigues é sócio-fundador da investidora in3 New B Capital S.A. Foi professor titular e diretor de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação da Universidade de Fortaleza e presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Ceará.
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