Como se constrói um vencedor? O que diferencia aqueles que chegam muito longe de quem fica pelo caminho nos seus projetos de vida? Impossível vivenciar essa intensidade que foram os Jogos Olímpicos e não parar para pensar no que nos leva a persistir, a ultrapassar limites – ou a respeitá-los. Quando parar? Quando avançar? Onde buscar forças e energia para seguir quando tudo parecer tão difícil?
Quando pensamos em vencedores, sejam eles atletas de elite, empreendedores ou grandes líderes globais, estamos falando de pessoas talentosas, claro, mas também de quem tem um algo a mais, que não os deixa desistir.
Gosto muito da visão que a professora de psicologia da University of Pennsylvania, Angela Duckworth, apresenta no seu livro “Garra: o Poder da Paixão e da Perseverança”. Ela participou de um estudo de caso com os cadetes da West Point, a Academia Militar dos Estados Unidos – que tem um processo de seleção muito rigoroso. Ao avaliar os indicadores que faziam com que os candidatos chegassem até o fim do curso, ela percebeu que não eram as notas, nem a capacidade de liderança ou o fato de serem atléticos. Era a garra.
As pessoas muito bem-sucedidas em suas áreas, diz a especialista, são as que têm um alto nível de perseverança, que se manifesta de duas formas: mais persistência e esforço que a média e uma visão muito clara do que desejam. Ou seja, tem senso de direção, um propósito.
Na nossa jornada de empreendedores e na vida de uma forma geral, precisamos ter capacidade de sobreviver a muitos nãos, a falta de oportunidades, a deslealdades, a críticas, ao medo. E, mesmo assim, nos manter de pé.
No meu livro “Desistir Não é Opção: o Caminho Mais Rápido Entre As Ideias e Os Resultados Se Chama Execução”, esse é um tema muito presente. Na caminhada empreendedora, somos sempre desafiados a desenvolver a habilidade de ir além do óbvio, enxergar soluções onde o mercado enxerga apenas dificuldades e, persistir, mesmo diante dos obstáculos – porque eles vão surgir, pode ter certeza, especialmente em um cenário volátil como o atual. Uma pesquisa global da PwC apontou que fortalecer a resiliência é a chave para o sucesso em 2021. Mais de 70% dos entrevistados afirmaram que os seus negócios foram afetados negativamente pela pandemia.
Para superar isso, precisamos ter paixão, um atributo que, aliás, eu sempre busco no olho dos empreendedores na hora de decidir ou não fazer um investimento. Você sabia que quem ama o que faz tem 3,9 vezes mais probabilidade de ser altamente resiliente, conforme o Global Workplace Study 2020, realizado pelo ADP Research Institute?
Os exemplos estão aí para nos inspirarmos. Veja só o de Geraldo Rufino, presidente do conselho da JR Diesel. Ele morou em favela, foi catador de latinhas e quebrou seis vezes. “Não fico olhando para trás, mas quando olho pelos retrovisores, enxergo vivências, experiências, aprendizado e os buracos que caí. Daí, procuro olhar para a frente para não repetir os mesmos erros”, costuma dizer.
A ginasta brasileira Rebeca Andrade passou por três cirurgias nos últimos anos até chegar aos Jogos Olímpicos e ganhar uma medalha de ouro e uma de prata. Ana Marcela Cunha superou a tristeza do 10º lugar na Rio-2016, quando era franca favorita, e agora conquistou o ouro na maratona aquática de 10 km em Tóquio.
Uma das cenas mais marcantes da Olimpíada, por sinal, foi protagonizada pela campeã mundial do heptatlo, a britânica Katarina Johnson-Thompson. Ela se lesionou durante a prova, sentou na pista, chorou, mas se recusou a desistir. Mesmo não tendo mais chances de pódio, levantou e correu como pode até a linha de chegada. Alguém duvida que é uma vencedora?
Sim, é preciso saber a hora de recuar. Qual a intensidade do silêncio na mente da ginasta norte-americana Simone Biles no momento em que ela decidiu não competir na maioria das modalidades para as quais era a grande favorita da Olimpíada? Uma campeã que entendeu o seu limite mental e, ao recuar, deu uma lição de força ao mundo. E você, conhece o seu limite?
A caminhada que leva ao sucesso, invariavelmente, é inóspita. Tem dor, tem percalços, tem renúncia. A saída para vivermos bem essas etapas é desenvolvendo o autoconhecimento e a flexibilidade de pensamento. Conhecer as nossas fraquezas e fortalezas, descobrir as habilidades e esforços que precisamos perseguir se quisermos performar ao máximo. Ninguém chega ao topo se não entender e acreditar na sua capacidade de atingir o sucesso.
Camila Farani é um dos “tubarões” do “Shark Tank Brasil”. É Top Voice no LinkedIn Brasil e a única mulher bicampeã premiada como Melhor Investidora-Anjo no Startup Awards 2016 e 2018. Sócia-fundadora da G2 Capital, uma butique de investimentos em empresas de tecnologia, as startups.
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