A comunicação, em geral, se torna um problema nos lugares onde ela não é o foco. Vou explicar. A área de comunicação de uma empresa está o tempo todo pensando em estratégias para divulgar, direcionar a narrativa, reagir a outra, encerrar um assunto ou alguma variação do tema. Mas a área de uma empresa é um espaço pequeno demais para tratar de um assunto que permeia toda a nossa vida (e não só a profissional) o tempo todo – quer estejamos atentos, quer não.
E na maior parte do tempo não estamos. O mundo segue distraído, porém falando ou ficando quieto; demonstrando uma emoção mesmo quando se tenta ignorá-la; passando uma impressão e fazendo um julgamento; falando o que se quer e ouvindo o que se consegue; tentando estabelecer diálogos, enquanto incontáveis monólogos simultâneos alimentam uma desconexão constante e inconsciente.
Sabe quando algo não saiu como deveria e, ao tentar entender o porquê, a resposta é que outra pessoa (não a que lhe explica isso) deveria ter feito alguma coisa que não fez? Então a culpa é dessa pessoa (não de quem lhe explica)? Acontece o tempo todo. Se não isso, algo parecido. Se não por mal, porque houve ruído, confusão, porque não ficou claro, porque alguém não explicou ou alguém não entendeu, as duas coisas, nenhuma delas ou quase isso?
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Sabe quando alguém fica chateado porque pensa que outro alguém fez algo porque quis atingi-lo? E, na verdade, não foi isso. Talvez, só tenha sido um dia ruim, ou uma reação a outro alguém que agiu de um jeito que pareceu rude ontem e deixou seu rastro. Ou era só a casa que estava em obras ou uma discussão familiar ainda não superada.
Eu poderia continuar, porque exemplos não faltam, mas acredito que já entendeu aonde quero chegar. Cada problema mencionado pode ter sua especificidade, mas é também fruto de (ou se tornou ou alimentou) um problema de comunicação.
O que considero a boa notícia é que a maneira de evitar ou solucionar, portanto, também passa por aí. Comunicação. Narrativa clara. Conteúdo de alta qualidade, organizado, estruturado. Intenção e objetivos definidos.
Mas não estou falando sobre campanhas de marketing, eventos de ativação, branded content, nem nada do gênero.
Estou falando da conversa de corredor. Do depoimento vazio na reunião só para marcar presença, porque existe a crença de que silêncio corporativo não pega bem. De estar numa festa, conhecer amigos de amigos, dizer onde trabalha e passar uma impressão (“Nossa, viu como quem trabalha lá é arrogante?”; ou “Muito legal a pessoa dessa empresa”). Do e-mail para um colega, para um cliente, para um fornecedor. Da ausência de resposta quando não tem nada ali que interesse. Do tempo que leva para responder mensagens de texto. Da forma como fala com desconhecidos que abordam pedindo alguma ajuda.
Estou falando da comunicação que acontece enquanto nos concentramos em outras atividades, sem nos dar conta de que tudo pode contribuir para a construção de imagem, destruição de reputação e reforço de estereótipos. Ou pode criar vínculos, causar boa impressão, reverter uma experiência negativa por meio da conexão humana que se estabelece.
O problema é que os problemas de comunicação e suas soluções parecem subestimados nas empresas. Prioridade costuma ser estratégia, finanças, marketing, comunicação que cabe em uma área. Ou duas. E tudo isso é mesmo prioridade, claro. Mas a comunicação desatenta, que vai muito além das quatro paredes de um departamento, pode colocar em risco anos de esforços, investimentos, inteligência, construção.
O inverso também é verdadeiro. Uma comunicação atenta, consciente e empática pode potencializar tudo isso.
Imagine se a comunicação que extrapola a formal, institucional, fosse conduzida com atenção, objetividade, empatia e cuidado?
É trabalho para uma vida, eu sei. E para empresas inteiras. Mas eu acredito que vale a pena. Porque tudo comunica.