Movimento é vida! Sabemos disso desde o nosso passado mais remoto e, mais do que nunca, temos clareza da sua importância para as mais variadas dimensões do ser humano.
Somos fruto de muitos movimentos, seja no campo intelectual e emocional, social ou pessoal. Todos, certamente, mediados pelo nosso corpo e suas infinitas possibilidades. Nossa humanidade também se constituiu pelo nosso corpo desde quando começamos a correr, caçar, plantar, lutar, construir, jogar e muitas outras maneiras de expressão presentes nas mais diversas culturas, que são legítimas da nossa identidade.
Começamos brincando, e brincar é coisa séria! Fazemos isso desde quando começamos a existir e seguimos, como crianças, jovens ou adultos, encontrando sentido, prazer físico e emocional nas experiências vitais que desenvolvemos.
Jogar é parte da brincadeira e no jogo, aprendemos, não importa em que fase da vida estejamos. E aqui ganha especial importância o esporte, objeto deste artigo, como elemento positivamente associado a dimensões fundamentais da vida humana, tais como saúde, lazer e educação – consenso entre os mais diversos contextos e atores sociais, sejamos nós cidadãos comuns, instituições acadêmicas e científicas, organizações da sociedade civil ou o Estado. Nesse sentido, não é casual que a Constituição Brasileira também reconhece o fomento às práticas esportivas formais (e não formais) como dever do Estado.
Que a atividade física por meio da prática esportiva tem impacto positivo na saúde, já não se discute e a literatura é farta. Controle sobre o peso corporal, melhor circulação sanguínea, força e densidade óssea, aumento da imunidade e maior capacidade de concentração são apenas alguns dos benefícios, além daqueles de natureza emocional e social a serem explorados aqui.
Existe uma pedagogia na brincadeira, no jogo e, por conseguinte, no esporte e ela está presente na sua conexão com a educação porque este universo contribui para a promoção do desenvolvimento humano. Essencialmente presente nas aulas de Educação Física, a educação “no e pelo esporte” faz uso dos elementos da cultura corporal para educar e desenvolver não apenas a cultura do movimento ou a técnica e a tática, mas também aspectos educativos como a ética, ambição, determinação, entre outros.
Esta cultura se faz presente na atividade esportiva e de muitas formas, aprendemos quando praticamos judô, futebol e tantos outros esportes. Mas aqui gostaria de explorar o que significa ser uma criança ou adolescente educado por meio da prática do tênis, sua relação com a aprendizagem e desenvolvimento socioemocional.
Mas por que o tênis?
Há algo de muito especial neste esporte que vale ser trazido aqui. Pelo fato de não ser coletivo, mas individual, crianças e adolescentes aprendem sobre a própria responsabilidade diante dos seus sucessos e derrotas. Embora outros esportes também possam nos educar quanto a isso, no tênis esse aprendizado é mais rigoroso porque coloca o seu praticante diante de situações extremamente exigentes. A paciência, a análise de uma certa situação e a tomada de decisões – mais ou menos arriscadas -, em um curto espaço de tempo, suportando a perda de um ponto para imediatamente seguir adiante, atacando, é apenas um dos exemplos.
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Não apenas as habilidades motoras são desenvolvidas nas crianças e adolescentes, mas as habilidades de concentração e velocidade de reação também estão presentes no tênis. Entre um ponto e outro, os jogadores exercitam a resolução de problemas. Antecipação, capacidade de identificar fraquezas no jogo do oponente e pensamento analítico, estratégico e tático diante das mudanças do jogo, bem como altos níveis de concentração, são algumas das habilidades igualmente essenciais para a vida dentro e fora das quadras.
O tênis educa as crianças e adolescentes para se tornarem bem-sucedidos, por exemplo, em acertar, mas também em falhar, e perceber que falhar não é realmente o maior de todos os problemas e que a atitude positiva diante do jogo e da vida é muito importante.
Na quadra, falha-se mais do que se acerta. Falhamos centenas de vezes em um jogo a cada vez que erramos um saque. Perceber o fracasso entre as demais habilidades desenvolvidas faz parte do processo de aprendizagem que potencialmente, contribui, inclusive, para o sucesso escolar das crianças e adolescentes.
Ser bem-sucedido no tênis e, nesse caso, em outros esportes, requer a tomada de consciência de que comportamentos de riscos não são compatíveis com essa aspiração. Estilo de vida saudável e foco voltados para o desenvolvimento da técnica e condicionamento físico não combinam com drogas ou comportamentos disruptivos, para citar alguns exemplos.
O tênis é um esporte individual no qual o sucesso advém de um excepcional trabalho coletivo. Aprender a escutar, interagir, discordar (ou não) e argumentar em torno das orientações advindas do professor ou técnico, fazem parte de um dos aspectos da capacidade de se comunicar e se expressar.
A obtenção de bons resultados na aprendizagem obviamente depende de uma série de fatores que não estão exclusivamente ligados ao estudante. No entanto, o desenvolvimento de parte das habilidades aqui citadas, além da ambição, definição de objetivos e metas, resiliência e compromisso com o que se pretende para o futuro, faz parte do rol de fatores que contribuem para as aspirações educacionais das crianças e adolescentes, já que contribuem para o seu engajamento nas atividades escolares, para a autorregulação e autodisciplina.
Muitas são as funções e significados da competição esportiva – certamente um dos mais potentes recursos pedagógicos na vida de crianças e adolescentes -, mas sua função educativa e formativa prevalece quando a consideramos como um dos elementos estruturantes para o desenvolvimento das habilidades já citadas.
A vitória ou a derrota podem ser experiências igualmente positivas na vida de crianças e adolescentes se tratadas a partir do seu valor educativo. Ambas são importantes e aprender a abraçar os seus aprendizados é parte dos desenvolvimentos pessoal, emocional e social. Vitórias e derrotas nos mostram a importância de sermos humildes para lidar com as vitórias e compassivos nas derrotas. Elas também nos falam da ambição, ou melhor, dos valores que acionamos quando buscamos realizá-la.
O tênis guarda uma profunda relação com aspectos morais e éticos. O ritual presente no jogo – apertar as mãos do oponente antes e ao final de uma partida intensa, tendo vencido ou não -, é uma importante demonstração de respeito, consideração e espírito esportivo. É assim que crianças e adolescentes também aprendem a ser generosos, justos e éticos – fundamental para ser bem-sucedido em qualquer dimensão da vida.
Como parte do currículo escolar da Educação Física, o esporte se firma na sua missão educativa. Apoia o desenvolvimento das possibilidades e capacidades do indivíduo, bem como a sua participação engajada e autônoma na sociedade.
O tênis tem muito a contribuir para essa formação cada vez mais imprescindível porque desafia e estimula crianças e adolescentes a serem melhores pessoas, em diferentes dimensões do desenvolvimento humano.
Marcos Antônio Magalhães é engenheiro elétrico de formação. Desenvolveu toda a sua carreira profissional na Royal Philips Electronics, ocupando diversas posções no Brasil e no Exterior. É presidente do Instituto de Corresponsabilidade pela Educação – ICE, presidente do Instituto de Qualidade no Ensino – IQE, membro fundador do Movimento Todos pela Educação, membro do Conselho Internacional do World Fund for Education e membro do Conselho do Rede Tênis Brasil.
Thereza Maria de Castro Paes Barreto é diretora pedagógica do Instituto de Corresponsabilidade pela Educação – ICE, professora, mestre em Educação pela UFPE, com foco em Gestão e Política Educacional, Prática Pedagógica e Currículo.
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