Antes da emergência do novo coronavírus, o hub de inovação para o agronegócio AgTech Garage tinha uma série de atividades programadas para 2020, que precisaram ser ajustadas. A expansão do campus de Piracicaba (SP), que começaria em abril, teve que ser adiada, assim como a agenda de eventos presenciais.
Apesar dessas mudanças, a atividade do centro, que entre seus principais programas une os parceiros Sicredi, Bayer, OCP e Ourofino Saúde Animal a startups para projetos de inovação, seguiu se adaptando às novas circunstâncias e identificando novas possibilidades para o agro em meio à pandemia.
O hub passou a operar remotamente em 23 de março e nesta segunda-feira (1) deu início a um processo de retomada das atividades presenciais, seguindo as medidas estipuladas pelas autoridades locais, como aferição de temperatura corporal e ocupação de 20% da capacidade total do centro, onde normalmente trabalham cerca de 150 pessoas.
Mesmo com o retorno do centro físico, o trabalho continua acontecendo de forma digital. Segundo José Augusto Tomé, CEO do AgTech Garage, ferramentas online já eram utilizadas antes da pandemia para a definição de processos e gestão de atividades online, o que facilitou a migração para o home office. As iniciativas com os parceiros corporativos e startups foram gradualmente migradas para o formato virtual.
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“[O trabalho remoto] está funcionando bem. Alguns aceitaram mais rápido essa mudança e outros estão começando a se familiarizar”, aponta Tomé, que ressalta os aspectos positivos do formato. “Podemos envolver e alcançar mais pessoas remotamente quando comparado aos encontros presenciais.”
Além das atividades usuais do hub, Tomé conta que a pandemia trouxe uma demanda inicial por novos projetos e iniciativas, como um desafio para encontrar soluções digitais para apoiar o produtor agrícola durante a crise. Porém, os trabalhos de inovação já começam a focar em projetos para além do curto prazo.
“Nesse momento, já estamos percebendo a retomada de novos projetos que estavam no pipeline e não estão relacionados diretamente com a crise, como o fomento à formação de grupos de produtores-investidores em startups do agro”, relata.
O cenário de crise também tem forçado uma saída da zona de conforto e estimulado a criatividade do ecossistema de inovação no agro, segundo o CEO. “No curto prazo, vamos perceber ainda mais inovações e negócios não-tradicionais acontecendo”, prevê.
As possibilidades que o trabalho remoto apresenta para o setor do agronegócio se tornaram ainda mais evidentes durante o período de quarentena, aponta Tomé. “[A opção de operar virtualmente] impacta positivamente muitos negócios com a assistência técnica remota, o onboarding virtual de novos produtos e serviços, entre outras ações”, argumenta. “De certa forma, isso tudo está acelerando a transformação digital no campo.”
EQUILÍBRIO
O processo de criação de soluções e geração de negócios que acontecem em centros de inovação é penalizado com o isolamento social, segundo Tomé. Por outro lado, o CEO ressalta que um tempo mais longo se faz necessário para avaliar os efeitos da pandemia neste sentido e que as relações estabelecidas antes da crise tem um papel importante no momento atual.
“Nosso legado de relacionamentos e experiências, [que forma a] base para o processo criativo é muito presente na nossa memória, suprimindo bem o efeito do isolamento”, aponta.
Sobre os elementos da atual transformação na forma de fazer negócios e inovar que devem permanecer depois que a crise for superada, Tomé acredita que reuniões e encontros virtuais para os mais diversos fins devem ser intensificados. “Os mais reticentes, antes da crise, agora estão mais receptivos. O ganho de eficiência é notório, principalmente no agro, em virtude das distâncias envolvidas”, constata.
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Segundo Tomé, o favorecimento do digital trazido pela pandemia fez com que o hub de inovação, que já operava com um modelo físico-virtual desde sua gênese em 2017, intensificasse sua comunidade online, que através de uma plataforma em português e inglês engaja centenas de agtechs no Brasil e algumas dezenas de startups de outros países.
Apesar da aceleração na adoção de trabalho conduzido remotamente, o CEO do AgTech Garage adverte que equilíbrio é a palavra de ordem quando o assunto é a virtualização de processos no agro: “Não dá para considerar casos extremos, como alguns anúncios recentes de empresas considerando processos 100% virtuais. Isso só vai funcionar para casos muito específicos”, ressalta.
CONVIVÊNCIA
Refletindo sobre o futuro de processos presenciais em centros de inovação no pós-crise, Tomé imagina efeitos “bem positivos” para hubs físicos como o AgTech Garage, que desde o ano passado estuda a criação de outros campi dentro e fora do Brasil.
“Antes da pandemia, pensamos que esses hubs físicos seriam viáveis somente em poucas regiões estratégicas, mas agora, percebendo os reflexos da pandemia, com as empresas mais inclinadas a adoção de home office, acreditamos que haverá uma necessidade crescente de ‘ambientes de convivência’ – afinal de contas, o ser humano é um ser social”, argumenta.
E continua: “Se antes era difícil viabilizar todo o seu time dentro de um hub, agora é mais fácil e faz mais sentido imaginar parte do time, em uma dinâmica flexível, usando os hubs, uma vez que se encaixam perfeitamente no contexto dos ambientes de convivência e inovação”.
Para o empreendedor, o home office como estratégia de longo prazo funcionará bem ancorado nos hubs de inovação como espaços onde os atores do ecossistema socializam e fazem negócios: “Isso [se deve ao] simples fato de que o ser humano é social por natureza, e as empresas não podem adotar o lockdown para a criatividade.”
Angelica Mari é jornalista especializada em inovação há 18 anos, com uma década de experiência em redações no Reino Unido e Estados Unidos. Colabora em inglês e português para publicações incluindo a FORBES (Estados Unidos e Brasil), BBC e outros.
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