Sete anos atrás, quando Daniel Arcoverde e Rafael Belmonte abandonaram seus empregos no mercado financeiro parar criar a plataforma de shows ao vivo Netshow.me, ninguém imaginava que, um dia, seríamos obrigados a viver em isolamento social e que essa seria a única maneira de acompanhar nossos artistas preferidos.
“Na época, a gente viu a internet, ainda 4G, e a fibra óptica se expandindo e percebeu que a tecnologia não seria mais um gargalo para as transmissões. A ideia era conectar os fãs aos artistas por meio de shows pay-per-view”, conta Daniel Arcoverde. “Na nossa cabeça isso fazia muito sentido, mas a verdade é que nem os próprios artistas entendiam muito essa proposta. Para eles, transmitir um show era se apresentar no palco, diante do público, e captar aquelas imagens. Mas a gente queria algo mais intimista.”
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A ideia funcionou. Nos dois primeiros anos, mais de 3 mil shows foram realizados na plataforma. Até que as redes sociais começaram a ter suas próprias ferramentas de streaming, como o Periscope, comprado pelo Twitter por supostos US$ 100 milhões em março de 2015, e o Live, do Facebook, anunciado meses mais tarde como uma evolução do Mentions, até então exclusivo para celebridades. “Naquele momento, percebemos que era hora de mudar”, lembra Arcoverde, que no mesmo ano havia sido eleito, ao lado do sócio, Under 30 da Forbes na categoria tecnologia, além de ter recebido uma série de outros prêmios.
Na época investida pela Wayra, hub de inovação da Telefónica no mundo e da Vivo no Brasil, a Netshow.me encontrou o ambiente ideal para testes de novos formatos. “Testamos crowdfunding recorrentes, live streaming também recorrentes e fomos experimentando modelos. Em 4 de janeiro de 2016 pivotamos e passamos a atender o mercado corporativo”, relembra o empreendedor. Naquela época, as empresas tinham muitos problemas técnicos para conduzir transmissões de kick offs de vendas, workshops, encontros remotos com o presidente e todo tipo de evento.
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Para aprimorar a oferta, a empresa estruturou uma área em parceria com as produtoras, de maneira a disponibilizar não apenas a tecnologia, mas também o trabalho de captação, entregando o pacote completo. “No último trimestre de 2016, quando passamos a atuar dessa forma, fizemos 90% do faturamento do ano todo. Em 2017, crescemos cinco vezes e, no ano seguinte, dobramos de tamanho”, conta Arcoverde.
Àquela altura, as empresas começaram a acumular seus próprios inventários de vídeos e precisavam de uma solução que organizasse tudo isso e permitisse o gerenciamento. “Para suprir essa demanda, lançamos o Netshow.me Vídeos, especificamente para gestão, mas as companhias queriam mais”, conta o executivo, referindo-se a experiências visuais inovadoras e personalizadas.
O NETFLIX DO MUNDO CORPORATIVO
Em busca de alternativas, os sócios se depararam com a SignUp, startup de Natal (RN) que, ao detectar a mesma necessidade, havia criado um software para oferecer a solução em larga escala – os chamados OTTs (da sigla over the top, em inglês), ou seja, conteúdos transmitidos pela internet, ao vivo ou gravados, de forma personalizada, de acordo com a identidade visual e as necessidades da contratante. Uma espécie de Netflix ou Amazon Prime do mundo corporativo sem os custos das grandes empresas de mídia.
Em vez de desenvolver sua própria ferramenta, a Netshow.me então comprou, em março de 2019, a SignUp, integrou as plataformas e passou a oferecer a nova solução, no modelo software as a service, utilizada atualmente por empresas dos mais variados setores para os mais diversos fins. Um dos clientes, a B3, por exemplo, usa a ferramenta para customizar cursos gratuitos de educação financeira abertos a qualquer pessoa. Já o Santander usa a plataforma para disponibilizar materiais internos integrados à sua intranet, ou seja, com acesso restrito aos colaboradores. E há, ainda, as transmissões que funcionam via assinaturas, como a Copa do Nordeste.
Mas nem essa trajetória cheia de mudanças de curso poderia ter preparado os criadores da startup para o que viria em 2020. “Tem sido bem intenso”, confessa Arcoverde. “Tudo aquilo que achávamos que ia acontecer nos próximos anos está acontecendo agora. Essa mudança do mundo físico para o virtual que as empresas precisaram promover às pressas com a pandemia está impactando direto nossas operações.”
A empresa registrou crescimento de 425% durante o isolamento social, fazendo com que a meta esperada para este ano passe de 100% para 200% e trazendo de volta até os shows com artistas, que podem, por conta própria, gerenciar toda a transmissão. “Outra demanda que aumentou muito foi a retransmissão de videoconferências”, conta, explicando que as soluções gratuitas disponíveis no mercado não contemplam um número muito grande de pessoas e, quando o fazem, cobram muito por isso.
O próximo movimento esperado pelos jovens empreendedores é a redução do tamanho dos eventos físicos, ou seja, com menos gente, no curto e médio prazo, inclusive para obedecer protocolos de segurança, e a continuidade das versões online com força no longo prazo. “A diferença de custos é absurda”, diz Arcoverde, lembrando que encontros presenciais maiores demandam, muitas vezes, despesas imensas com passagens e hospedagem dos participantes. “O modelo híbrido veio para ficar. De agora em diante, todo mundo que fizer um evento presencial, vai fazer transmissões ao vivo para atingir um número maior de pessoas. A experiência tem mostrado que os dois formatos podem – e vão – conviver lado a lado.”
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