O dólar disparou 2,8% hoje (18), mais do que revertendo em apenas uma sessão toda a queda acumulada na semana até então e registrando a maior alta diária em quase três meses, com o sentimento de investidores abalado por intenso nervosismo no mercado de juros futuros diante de maior desconfiança em relação à postura do Banco Central num contexto de fiscal deteriorado.
A piora nos mercados externos –onde o dólar passou a subir e as bolsas de valores em Nova York fecharam em baixa– endossou o movimento por aqui.
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O dólar à vista fechou em alta de 2,77%, a R$ 5,3767 na venda –maior valorização diária desde 24 de junho (+3,33%). Na máxima, alcançada perto do fechamento, a cotação foi a R$ 5,3782 (+2,80%). Na mínima, batida ainda no começo do pregão, marcou R$ 5,2405 (+0,16%). O real teve, de longe, o pior desempenho global nesta sessão.
O dólar acumulou na semana alta de 0,82%. Até a véspera, registrava queda de 1,90%. Com isso, a moeda reduziu a baixa em setembro para 1,90% e elevou os ganhos no ano a 33,99%. Na B3, o contrato de dólar futuro de maior liquidez subia 2,60%, a R$ 5,3770, às 17h03.
A aparente trégua no mercado de renda fixa –que na véspera ajudou a acalmar o dólar depois de o Tesouro Nacional reduzir o tamanho do leilão de prefixados– durou pouco. O salto do IGP-M da segunda prévia de setembro divulgada nesta sexta serviu de combustível para renovadas preocupações sobre inflação –receio que para muitos agentes financeiros foi minimizado pelo BC no comunicado da reunião do Copom desta semana.
O Índice Geral de Preços-Mercado (IGP-M) passou a subir 4,57% na segunda prévia de setembro, de 2,34% no mesmo período do mês anterior. A taxa acumulada em 12 meses saltou de 12,58% para 18,20%.
“Mercado preocupado com a inflação. Mercado de DI estressando e dólar indo junto… Tesouro com liquidez baixa. E o BC vai deixar o dólar andar? Vai entrar num círculo vicioso muito ruim”, comentou o gestor Alfredo Menezes, da Armor Capital.
Neste pregão, o Banco Central limitou-se a realizar leilão de rolagem de linhas de dólares com compromisso de recompra, colocando todo o lote de US$ 4,15 bilhões ofertado.
No comunicado do Copom de quarta-feira (16), o BC sinalizou manutenção da Selic na mínima recorde de 2% por um período prolongado, mas não fechou completamente a porta para novo afrouxamento monetário. No texto, o colegiado reforçou o uso do chamado “forward guidance” –ferramenta de política monetária que visa influenciar as expectativas do mercado via comunicação.
Em sua orientação futura, o Copom explicitou que não pretende elevar os juros a menos que as expectativas e projeções de inflação estejam suficientemente próximas da meta de 2021 e 2022 ou no caso de o governo abandonar o atual regime fiscal.
Muitos no mercado, contudo, avaliam que a ferramenta do “forward guidance” tem suas limitações no Brasil, especialmente num contexto de fragilizada situação fiscal como a de agora.
“A falta de resposta dos mercados ao ‘forward guidance’ reflete preocupações sobre as perspectivas fiscais, à medida que uma deterioração significativa pode levar a uma moeda mais fraca, a pressões inflacionárias e a necessidade de aumentos nos juros antes do previsto”, disseram analistas do Barclays em nota desta semana. “Não esperamos que o mercado tire dos preços chances de altas (de juros) no curto prazo (com redução de prêmio de risco) enquanto a incerteza fiscal permanecer”, completaram.
Disparada
O desconforto geral catapultou as taxas de DI nesta sessão, com vencimento janeiro 2027 chegando a disparar 38 pontos-base na máxima da sessão, indo a 7,39% ao ano, pico desde 22 de maio.
O mercado de juros vem de dias sob intenso estresse, devido a crescentes dúvidas sobre a capacidade do Tesouro Nacional de refinanciar a dívida pública diante do forte aumento de gastos para combater os efeitos da pandemia e da percepção de evolução da agenda de reformas muito aquém do necessário.
O patamar baixo da Selic tem sido apontado por alguns analistas como um dificultador adicional para o financiamento da dívida pública e estaria relacionado aos crescentes deságios nas negociações com LFT (título cuja rentabilidade é atrelado ao juro básico) e a aumentos expressivos nos prêmios cobrados para compra de prefixados.
Na semana passada, o Tesouro fez o maior leilão de prefixados da história, em termos de risco, uma megaoperação de 44,5 milhões de títulos públicos, sem colocação integral. Na véspera, o Tesouro vendeu apenas 18% das 500 mil LFT ofertadas.
“Acho que o grande responsável pelo que está acontecendo é o BC”, disse Joaquim Kokudai, gestor na JPP Capital, para quem a autoridade monetária “tomou risco de mais numa situação fiscal que já é um grande problema”.
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Embora reconheça que o objetivo do BC seja o cumprimento da meta de inflação, Kokudai avalia que o cenário fiscal não comporta os juros reais nos atuais patamares e que, mesmo do lado da inflação, alguns sinais –como a desvalorização nominal de 25% da taxa de câmbio em 2020 e os IGPs altos– exigem maior atenção da autoridade monetária.
“Se na ata o BC não adotar um tom mais duro, acho que os preços dos ativos podem reagir mal mais uma vez”, concluiu.
O Copom divulga a ata da última reunião de política monetária na próxima terça-feira. No dia seguinte, o IBGE informa o IPCA-15 –visto por muitos como uma prévia da inflação “oficial” ao consumidor, o IPCA– de setembro, com expectativa de alta ante a taxa de 0,23% de agosto.
Na quinta-feira, haverá a divulgação do Relatório Trimestral de Inflação do BC, com entrevista à imprensa do presidente Roberto Campos Neto. (Com Reuters)
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