O mercado brasileiro ainda oferece várias boas oportunidades de investimento em renda fixa, apesar da Selic no piso de 2% ao ano, já que as taxas na curva de juros futura seguem altas, avalia o gestor de fundos multimercado da Kinea, Marco Freire.
Ele cita o caso das NTN-Fs, títulos prefixados do Tesouro Nacional, que oferecem taxas ao redor de 7% nos vencimentos mais longos, em parte refletindo os riscos fiscais do país e a chance de isso se converter em aumento da Selic.
“Nós gostamos muito da renda fixa brasileira, é nosso primeiro ‘call’… O mercado está preocupado com o fiscal”, afirmou o executivo à Reuters, reforçando que o intervalo de 2% a 7% oferece oportunidades.
Na visão do executivo, a Selic não subirá tanto como o mercado está colocando no preço, dada a situação ainda delicada da atividade econômica brasileira, com desemprego em patamar recorde e necessidade de redução de gastos no futuro próximo.
Mas destacou que “a curva de juros tem oportunidades”, avaliando que o risco fiscal ficará por algum tempo e que, por isso, prefere alongar a carteira de renda fixa com juro real, com papéis atrelados a inflação, como as NTN-Bs, do que com juro nominal, caso das NTN-Fs.
Isso não significa descartar alocação em ações, mas ser seletivo, explicou, uma vez que são as taxas longas acrescidas de um prêmio que devem ser observadas nessa decisão.
“Tem que ter uma participação em bolsa, sim, todo mundo, mas não acho que tem que ser supergigante”, afirmou o gestor da Kinea, que, nos fundos líquidos, tem 18,4 bilhões de reais sob gestão em multimercados.
Freire observou, porém, que a forma de estruturar fundos precisa mudar um pouco daqui para a frente, com o CDI (taxa de rentabilidade que acompanha de perto a Selic) podendo deixar de ser a referência mais adequada.
“Toda a indústria de investimentos do Brasil foi criada com base no CDI, porque era muito alto… ganhava-se um bom retorno sem ter que tomar risco. Agora, as pessoas estão percebendo que o juro em 2% não vai pagar nem a inflação do ano que vem.”
A Kinea, contou, lançou recentemente um fundo de renda fixa que rende IPCA mais 3% ao ano, citando que o objetivo é aumentar o poder de compra do cliente.
Além da renda fixa, o mercado acionário internacional também está entre as preferências do gestor, incluindo papéis de tecnologia e de setores que foram muito afetados pela pandemia de Covid-19, como restaurantes nos Estados Unidos e turismo.
Ele também citou posições em algumas ‘ações verdes’ (papéis de companhias mais comprometidas com boas práticas ambientais). “É uma grande tendência mundial que deve continuar”, afirmou.
Na bolsa brasileira, também há oportunidades, segundo ele, citando empresas de shopping centers, rodovias, distribuição de combustíveis. “De modo geral, companhias que se beneficiam de juros e vacina”, afirmou.
Para Freire, apesar do medo neste momento – “com razão” – de uma segunda onda de infecções de coronavírus no Brasil, em algum momento isso vai passar, porque a vacina está chegando.
Ele vê um começo difícil de 2021, com a situação melhorando conforme a vacinação comece a partir da metade do ano. (Com Reuters)
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