Para Yossi Sheffi, professor do MIT e diretor do MIT Center for Transportation and Logistics, a cadeia de suprimentos é como o “asfalto de uma via”: quando ela funciona, não há necessidade de falar sobre.
Em 2020, todos queriam conversar sobre o conceito, por conta dos desafios de levar produtos das empresas aos consumidores durante a pandemia de Covid-19. Os problemas foram desde falta de papel higiênico a atraso em entregas, dificuldades em distribuir equipamentos de proteção individual a trabalhadores da saúde e atrasos nas entregas das vacinas contra o coronavírus. Pouco temas foram centrais para a mídia como os problemas nas cadeias globais de suprimentos.
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“Em março, eu percebi que estávamos observando grande destaque ao supply chain”, afirma Sheffi. Naquele momento, ele estava trabalhando em seu quinto livro sobre história da inovação de gestão de cadeia de fornecimento e rapidamente mudou o foco do assunto.
Essa mudança resultou em seu último livro, “The New (Ab)Normal”, (“O novo A(Normal)”, em tradução livre), que analisa como empresas rapidamente transformaram suas operações frente a redes prejudicadas, problemas de armazenamento, mandatos governamentais e necessidade de suprimentos médicos. Ele detalha como as empresas lutaram contra o caos da pandemia e explora o que empreendimentos devem fazer para sobreviver e prosperar a partir de 2021, quando a pandemia começar a melhorar.
“Era uma história que estava se desdobrando”, afirma. Ele trabalhou no livro até agosto, com apenas quatro horas de sono por noite, e teve que ficar sempre alerta. “Muitas coisas mudaram ao longo do caminho, principalmente no que diz respeito ao desenvolvimento de vacinas, que aconteceu mais rápido do que qualquer pessoa poderia imaginar”, completa.
O que mais se destacou em 2020 em relação às dificuldades enfrentadas pelo setor? O conceito continuou firme. Ainda que existam erros graves nas cadeias de suprimentos médicos, no geral, o elo não quebrou. “Esse foi o maior marco da supply chain, com pessoas fazendo coisas heroicas”, afirma Sheffi.
Considerando a cadeia de suprimento de alimentos do dia para a noite, metade dos estabelecimentos que recebiam entregas de comida –incluindo universidades e grandes instituições– fecharam no meio de março. As cadeias de fornecimento para esses locais não foram construídas para entregarem de forma eficiente para supermercados e restaurantes, porque os equipamentos foram desenvolvidos para grandes paletes e embalagens de 100 libras como arroz e farinha, não os pequenos pacotes fornecidos a varejistas. Os consumidores também mudaram seus hábitos de consumo, ao comprar menos produtos frescos e mais pão e macarrão, por exemplo.
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Mas as empresas deram um jeito de se adaptar e a cadeira de alimentos continua viva, graças aos esforços dos funcionários e “à ingenuidade e ao comprometimento das pessoas e organizações que lideram e operam essas cadeias”, diz Sheffi em seu novo livro. Ele insiste que a mídia exagerou e aumentou as dimensões da crise com uma cobertura sensacionalista. “Fotos de prateleiras vazias eram normalmente tiradas ao final do dia, e as lojas normalmente fazem reposição à noite. Pela manhã, os clientes encontravam as prateleiras cheias.”
As empresas que tiveram sucesso em 2020 conseguiram incluir mudanças que impulsionaram a agilidade de apoiar cadeias de fornecimento mais frágeis. Um dos maiores problemas de transporte foi a perda da capacidade dos aviões. Mais da metade das cargas vai com os voos de passageiros norte-americanos, que estão viajando bem menos. Mesmo em meio a essas dificuldades, a aérea Korean Air relatou aumento de lucros no segundo trimestre de 2020, no auge da pandemia. Isso aconteceu porque eles migraram para voos exclusivos de carga, entregando produtos de tecnologia de empresas sul-coreanas como Samsung pelo mundo todo. “A Korean Air foi uma das poucas empresas do setor a sair lucrando em 2020.”
Oportunidade em 2021
Mesmo com um cenário ruim de pandemia, empresas visam o sucesso em 2021. O desafio maior é como manter a flexibilidade das cadeias de fornecimento e torná-las mais ágeis, mas sem economias desnecessárias. Sheffi diz que “a intenção é eliminar burocracias desnecessárias, mas manter barreiras fundamentais.”
Segundo “The New Ab(Normal)”, uma gestão nesses termos continua incerta e apela à preservação de recursos essenciais, recuperação e resposta, com foco em agilidade nos processos de tomada de decisão e em conseguir novos níveis de compartilhamento de informações dentro e fora das organizações.
Com todos os olhos nas cadeias de fornecimento e distribuição relacionadas à Covid-19, Sheffi afirma que a velocidade com que os imunizantes foram desenvolvidos prova que as empresas podem fazer coisas muito mais rápido do que elas mesmas imaginam.
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“Estou muito otimista”, ele diz. “As empresas sabem como fazer o melhor e podem antecipar um plano para possíveis problemas nas cadeias.” As oportunidades de crescimento são imensas para a indústria: “Haverá uma grande expansão comercial, assim como aconteceu nos Estados Unidos após a Segunda Guerra Mundial”.
Existem muitos caminhos para o sucesso da supply chain em 2021, devido ao crescimento contínuo do e-commerce e vendas omnichannel, bem como a diminuição de barreiras tecnológicas para pequenos fornecedores e novos acordos de realização e entrega. Essa crise tornou as empresas e as pessoas mais resilientes, declara Sheffi em seu livro. “Embora a Covid-19 tenha exposto fragilidades na economia global, ela também acelerou a adoção de muitas tecnologias e práticas que tornarão a economia global mais forte do que nunca.”
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