A decisão do Banco Central de elevar a taxa básica de juros em 0,75 ponto percentual na última semana e indicar outra alta do mesmo valor para maio levou em conta os riscos fiscais de curto prazo em meio ao recrudescimento da pandemia no país e preocupações com a desancoragem das expectativas para a inflação.
A avaliação do Copom é que o cenário básico para a inflação, com forte crescimento nos últimos meses e piora das expectativas para a inflação, já recomendaria o início de um processo de normalização “parcial” das taxas de juros.
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Mas, ao avaliar os riscos para a trajetória da inflação, o colegiado frisou na ata da última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), divulgada hoje (23), que os riscos fiscais de curto prazo seguem altos devido ao agravamento da pandemia e implicam um viés de alta para as projeções do BC para a inflação, que já estão próximas do teto da meta para este ano e ao redor da meta central de 2022.
“Essa assimetria no balanço de riscos afeta o grau apropriado de estímulo monetário, justificando trajetória com elevação inicial dos juros superior à suposta no cenário básico”, disse o Copom.
O BC elevou a Selic a 2,75% última quarta-feira (17), surpreendendo a maioria dos analistas de mercado que esperava um aperto menor, de 0,50 ponto percentual.
Na ata da reunião, o BC também ressaltou que a demora na normalização de cadeias produtivas no país, que estaria gerando inflação em setores específicos, sugere que a economia esteja sofrendo um choque de demanda. E “diversos membros” do Copom, segundo a ata, manifestaram a preocupação de que as pressões inflacionárias vistas em 2021 gerem risco de uma desancoragem das expectativas para a inflação também em 2022.
“Todos esses fatores contribuíram para uma postura mais assertiva na condução da política monetária“, disse o Copom.
O colegiado reiterou considerar adequada uma nova alta de juros de 0,75 ponto percentual em sua próxima reunião, que acontece em maio, mas frisou que essa visão pode ser revista em caso de uma mudança significativa nas projeções de inflação ou balanço de riscos.
“Em última instância a decisão continuará dependendo da evolução da atividade econômica, do balanço de riscos, e das projeções e expectativas de inflação”, disse o Copom.
Recuperação do 2º semestre
Como já havia feito no comunicado divulgado logo após a reunião que terminou na última quarta-feira, o Copom ressaltou que, a despeito da recuperação “consistente” da atividade econômica doméstica apontada por indicadores recentes, essas leituras ainda não contemplam o aumento dos casos de Covid-19 no país.
A ata destaca haver bastante incerteza em torno do ritmo de crescimento nos primeiros dois trimestres deste ano, mas revela um relativo otimismo do colegiado com a segunda metade de 2021.
“Prospectivamente, o Comitê avaliou que uma possível reversão econômica devido ao agravamento da pandemia seria bem menos profunda do que a observada no ano passado, e provavelmente seria seguida por outra recuperação rápida”, diz o documento.
“Para o Comitê, o segundo semestre do ano pode mostrar uma retomada robusta da atividade, na medida em que os efeitos da vacinação sejam sentidos de forma mais abrangente.”
Na ata, o colegiado ressaltou o fato de a pandemia ter produzido efeitos heterogêneos sobre os setores econômicos, com o setor de bens operando com um nível de ociosidade baixo, sustentado pelos programas de auxílio emergencial.
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“O Copom avalia que os dados de atividade e do mercado do trabalho formal sugerem que a ociosidade da economia como um todo se reduziu mais rapidamente que o previsto, apesar do aumento da taxa do desemprego.”
O IBC-Br (Índice de Atividade Econômica do Banco Central), considerado sinalizador do PIB (Produto Interno Bruto), subiu 1,04% em janeiro na comparação com o mês anterior, o nono resultado seguido de crescimento e bem acima da expectativa do mercado.
No mesmo mês, o país abriu 260.353 vagas formais de trabalho, número recorde para janeiro e também acima do esperado por economistas. (Com Reuters)
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