Há um ano, o Brasil se fechava em casa para enfrentar um desafio que nunca imaginamos passar: uma pandemia. Enquanto a população aprendia protocolos sanitários e se adaptava ao uso de máscaras, as primeiras mortes ocorriam por decorrência da contaminação pelo novo coronavírus. Dentro de suas casas, as pessoas se voltaram ao entretenimento como companhia.
Doze meses depois, os números começam a ficar claros: de acordo com pesquisa da Kantar IBOPE Media, 58% dos usuários de internet disseram que viram mais vídeo e TV online em streaming pago durante os períodos de isolamento. O tempo em frente à televisão aumentou 37 minutos diários e cada indivíduo passou cerca de 1h49 por dia assistindo a conteúdos em plataformas de streaming. “Tivemos necessidades geradas pela pandemia. O distanciamento social e a procura por novas formas de lazer indoor levaram as pessoas a experimentar mais e a encontrar na tecnologia a solução para alguns dos impasses do momento, incluindo outras formas de se divertir e de compartilhar momentos com outras pessoas, mesmo que à distância”, pontua Arthur Bernardo Neto, diretor de desenvolvimento de negócios para media owners da Kantar IBOPE Media.
Entre os entrevistados da NZN Intelligence, 51% se atraiu pelo valor para fazer uma assinatura neste período, enquanto 33% buscava entretenimento. Para 30% dos participantes, estar mais tempo em casa por causa do distanciamento social foi fator determinante para a assinatura.
No cenário global de consumo de entretenimento durante a pandemia, o relatório da MPA (Motion Pictures Association) mostra que houve aumento de 26% na assinatura de plataformas, o que corresponde a 232 milhões de novas contas. O total de assinaturas globais chegou a 1,1 bilhão em 2020. O aumento na receita foi de 34%, com arrecadação de US$ 14,3 bilhões.
Forte consumidor de conteúdo digital, o Brasil ocupa o segundo lugar no ranking de assinantes da Netflix em todo o mundo. A plataforma, que atingiu a marca de 200 milhões de assinaturas no fim de 2020 – com crescimento recorde de 37 milhões de novos usuários durante o ano passado -, conta com 17,9 milhões de usuários ativos no Brasil, de acordo com estimativa da empresa de redes virtuais privada Comparitech. A receita estimada para o segundo trimestre de 2020 no país era de US$ 432 milhões. A Netflix não fornece dados segmentados da empresa e não aceitou participar desta reportagem.
De olho no público brasileiro, o Paramount+ investiu na reformulação de sua plataforma por aqui ao mesmo tempo em que nos Estados Unidos. A nova versão chegou ao mercado no início do mês, apostando no catálogo de cem anos de história do icônico estúdio Paramount e no peso dos conteúdos do canal norte-americano CBS. “O Brasil está entre os cinco maiores mercados de ‘video on demand’ no mundo inteiro. Queremos quintuplicar a base de clientes que temos hoje. A festa do streaming está aí para ser celebrada, consumida. Não queremos só participar, queremos ser protagonistas”, afirma Mauricio Kotait, gerente-geral da ViacomCBS no Brasil.
Há quem pense que o maior streaming em números de assinantes no Brasil é a Netflix, pioneira na prestação do serviço no país. Mas o Globoplay supera a base de clientes em cerca de três milhões, acumulando mais de 20 milhões de assinantes do serviço. Nascida com o objetivo inicial de ampliar o alcance da grade linear da TV Globo, a plataforma ganhou vida própria, investiu em conteúdo original e agora faz o caminho inverso, com exibição de suas produções na TV aberta.
No primeiro semestre de 2020, houve aumento de mais de 145% na base de assinantes comparado com o mesmo período de 2019. Entre janeiro e dezembro de 2020, observou aumento em horas assistidas de séries (336%) e filmes (403%). Para Ana Carolina Lima, head de conteúdo do Globoplay, o diferencial é conhecer o público melhor do que os rivais. “Conhecer o mercado, produzir conteúdos para brasileiros e falar com o consumidor [são os pontos principais], sendo que nesses dois últimos fatores o Globoplay soma forças com a Globo e se destaca.”
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O cenário é animador, mas ainda há muito a conquistar. De acordo com dados da Comscore de dezembro de 2020, cerca de 120 milhões de pessoas estão conectadas a internet no país, consumindo conteúdo online. Uma fatia de mais de 90 milhões de brasileiros ainda não conta com acesso a internet de qualidade, o que atrasa o crescimento ainda maior que as plataformas poderiam ter por aqui.
Pedro Oliveira, cofundador da Outfield Consulting, acredita que o cenário mudará em um futuro próximo. “Não tem mais volta. Já passamos da barreira de experimentarem, gostarem e se disporem a pagar pelo entretenimento. O Brasil tem menos infraestrutura do que Estados Unidos, Europa e Ásia, mas a população se engaja tanto quanto. Se tiver evolução na infraestrutura de internet e maior penetração de smartphones, vamos crescer mais ainda”, avalia.
Netflix e Globoplay já superaram o número de assinantes da TV por assinatura. Segundo dados da Anatel de junho de 2020, a TV paga contava com 15,2 milhões de assinantes. Carolina Vargas, CEO da agência Stenna, faz uma previsão ousada sobre o mercado televisivo. “O futuro da TV paga é a reinvenção no modelo de entrega para o streaming. Com a queda nas receitas de publicidade, o futuro aponta para a entrega em plataforma. Não haverá o fim da televisão como a conhecemos, mas o modelo de entrega deve mudar. Não vejo o brasileiro sem televisão, ela une as pessoas.”
Ainda não sabemos se o boom na migração para o streaming é definitivo ou simplesmente motivado pelo fechamento dos cinemas e a escassez de outras ofertas de entretenimento, como shows e peças de teatro. Mas Pedro Oliveira aponta que, nesse período, o brasileiro pôde perceber que a conta é mais vantajosa com streaming. “Hoje, no Brasil, a assinatura das plataformas gira em torno de R$ 30. Por ano, R$ 360 para ter acervo de filmes e séries para toda a família. Quanto uma família com quatro pessoas gasta no cinema? Uma única ida não sai por menos de R$ 150, com ingressos, alimentação e transporte. É um trade off para o consumidor que é muito óbvio colocando no papel.”
Disney+ e HBO GO foram procuradas pela reportagem, mas não retornaram o pedido de entrevista até o fechamento desta reportagem. Netflix e Amazon Prime Video negaram participar.
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