Em 18 de março de 2020, os Estados Unidos registravam sua 150ª morte relacionada ao coronavírus enquanto tentavam entender, junto com a maior parte do mundo, o que estava acontecendo. Os principais índices do mercado caíam 5%, depois de um salto de 6% no dia anterior. Estudantes em recesso de primavera curtiam alegremente na Flórida, enquanto as autoridades decidiam fechar a fronteira com o Canadá. E uma equipe de estatística da Forbes fechava os números de nosso 34º ranking anual de bilionários do mundo, criando, sem querer, um instantâneo da riqueza global no exato momento em que o mundo entrava em seus 12 meses mais disruptivos desde a 2ª Guerra Mundial.
No período de um ano que se seguiu, essas 150 mortes nos EUA aumentaram para 550 mil; cerca de 3 milhões de almas foram perdidas no mundo todo. Dezenas de milhões de empregos evaporaram junto com centenas de milhares de pequenas empresas. O trabalho remoto passou de exótico a padrão. Os subúrbios passaram de monótonos a desejados. A morte de George Floyd desencadeou um acerto de contas sobre raça e justiça social. A eleição presidencial testou as normas democráticas. Simultaneamente, porém, muitos indivíduos, indústrias e investimentos prosperaram.
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Um ano depois daquele instantâneo tirado no momento certo, repetimos nossa auditoria de bilionários de março, medindo, na ponta da pirâmide, as mudanças sísmicas do último período de um ano. Os resultados são mais do que hiperbólicos. Nos últimos 12 meses, 493 pessoas de todo o mundo entraram para a lista da Forbes – um novo bilionário a cada 17 horas. A valorização dos ativos catapultou outros 250 ex-bilionários de volta para a marca dos dez dígitos. Em meio à insegurança econômica generalizada, poucos bilionários se saíram pior financeiramente: apenas 61 saíram da lista por outros motivos que não a morte, o que corresponde à menor porcentagem de saídas já registrada. Ao todo, a Forbes estima que exista agora 2.755 bilionários globalmente, ante 2.095 no ano passado, e a noção de que os ricos ficam mais ricos nunca foi tão apropriada: o patrimônio deles totaliza US$ 13,1 trilhões – espantosos US$ 5,1 trilhões a mais do que no início da pandemia.
Esses números vão gerar uma quantidade infinita de consternação, a maior parte justificada. Não há como ignorar um aumento conjunto de riqueza de US$ 5 trilhões durante uma pandemia, quando a maior parte do mundo se sentia assustada, doente, encurralada. O capitalismo, melhor sistema de geração de prosperidade de todos os tempos, baseia-se em um pacto social de expansão estruturalmente desigual que, em última análise, eleva o padrão de todos. A economia da Covid-19 vem pressionando esse conceito; as disparidades econômicas escancaradas constituem, sem dúvida, a maior ameaça à ordem social contemporânea.
No entanto, à medida que vacinas milagrosas traçam um caminho de volta à normalidade, os fatores que estão por trás dessas cifras evocam uma emoção diferente: o otimismo. O legado positivo mais duradouro da pandemia acabará sendo a aceleração que comprimiu décadas de mudanças em um ano. E os novos super-ricos, que são um reflexo das oportunidades ou da falta delas, nunca passaram uma impressão tão diferente nem agiram de maneira tão diferente. Vale a pena dedicarmos algum tempo a deduzir o porquê.
Estamos num ponto de inflexão dos mais raros – o tipo que fica evidente no instante em que acontece. As vacinas vão se espalhar por todo o planeta ao mesmo tempo que a economia mundial parece pronta para voltar a crescer. E, embora a reação inicial à disparada do número de bilionários em 2021 – um cômputo de recém-chegados 70% superior a qualquer outro que já registramos – penda para a indignação, as tendências subjacentes oferecem um roteiro para uma maior prosperidade para todos. Como qualquer outra coisa que se salva de uma peste dessas que ocorrem a cada século, só precisamos ter coragem suficiente para seguir esse roteiro.
Por quase toda a história humana, a riqueza foi dinástica. Os John D. Rockefellers e Henry Fords de um século atrás desencadearam a primeira era do empreendedorismo, mas mesmo esses sucessos se transformaram em fortunas familiares consolidadas. A primeiríssima lista Forbes 400 dos norte-americanos mais ricos, em 1982, continuava repleta da prole deles, assim como de muitos Mellons, DuPonts e outros – cerca de 63% daquela lista de ricos inaugural era formada por herdeiros. Muitos dos demais tinham um histórico que envolvia começar a vida já em situação bastante favorável, nos moldes de Rupert Murdoch ou Donald Trump.
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A revolução tecnológica mudou essa dinâmica aqui e no mundo inteiro. Em 2002, 52% dos bilionários globais da Forbes – uma estreita maioria – eram pessoas que enriqueceram por esforço próprio, sendo 59% entre os norte-americanos. Dez anos atrás, esse total havia disparado para 69% em nível mundial.
Os 493 novos membros da lista de 2021, no entanto, constituem uma categoria própria: 84% deles enriqueceram por esforço próprio (90% entre os norte-americanos), elevando essa cifra para 72% dos bilionários – um recorde nos dois casos. Pessoas como Whitney Wolfe Herd, que sacudiu o mundo dos aplicativos de namoro ao empoderar as mulheres, Tyler Perry, que começou a produzir seus próprios filmes e programas de televisão em Atlanta porque ninguém lhe deu uma chance em Hollywood, e Uğur Şahin, o imigrante turco da Alemanha cuja BioNTech ajudou a produzir uma vacina contra a Covid-19 em meses, em vez de anos, personificam o dinamismo econômico, não dinastias hereditárias.
As oportunidades surgem desse dinamismo, como demonstram esses novos bilionários. Uma década atrás, o tempo médio que um novo bilionário levava para criar sua fortuna nos EUA era de 18 anos, de acordo com nossos dados. Em termos históricos, isso é extraordinariamente rápido. Entre os 88 novos bilionários self-made norte-americanos deste ano, esse tempo diminuiu drasticamente para 13 anos. A capacidade de traduzir ideias em riquezas rapidamente ajuda a criar condições mais equitativas. O código (recursos intelectuais) supera o capital (recursos acumulados), sendo que o último está desesperado pelo primeiro. Uma geração atrás, as fortunas iam para aqueles que tinham a sorte ou a coragem de conseguir financiamento; hoje, uma boa ideia escolhe qual financiamento irá aceitar.
Esse aumento das oportunidades, por sua vez, mudou o perfil dos bilionários. Embora as mulheres continuem tendo muito mais dificuldade do que os homens em obter financiamento para boas ideias, elas vêm avançando continuamente e já são 11% dos bilionários mundiais, 12% dos bilionários norte-americanos e 13% dos novos bilionários, todas cifras recordes. O mais importante: as empreendedoras representam hoje 4% do total de bilionários, mais do que o dobro da porcentagem de cinco anos atrás.
E enquanto nos EUA o sucesso extremo continua sendo desproporcionalmente branco, a aristocracia internacional dos negócios reflete cada vez mais o próprio mundo. Só a China, incluindo Hong Kong, acrescentou o impressionante número de 210 bilionários de um ano para cá. Incluindo-se 19 novos rostos da Índia, 14 do Japão e várias estreias de sete outros países asiáticos, os não caucasianos são a maioria dos novos bilionários do mundo.
Como esses bilionários mais meritocráticos, mais dinâmicos e de origens mais diversificadas dirigem suas empresas? De maneiras melhores para todos nós. A Forbes contratou nossos parceiros da JUST Capital, que mede a cidadania corporativa, para avaliarem o desempenho, nesse quesito, dos 88 novos bilionários norte-americanos que enriqueceram por esforço próprio. Pegamos as empresas que impulsionaram cada fortuna bilionária e, considerando as médias do setor, calculamos cada pontuação com base em como elas tratam seus funcionários, seus clientes e o meio ambiente, entre outros fatores. O resultado: esses novos bilionários não só encontraram ou administraram empresas que ficaram acima da média nos três fatores mencionados acima, como também se saíram melhor em cada uma dessas categorias quando comparados aos novos bilionários de 10 anos atrás.
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Veja o caso de Chris Britt, que, em oito anos, transformou o Chime em um dos maiores bancos digitais do mundo. Em um setor baseado em tarifas que costuma ser hostil a quem mais precisa dele, Britt conquistou participação de mercado durante a pandemia com gestos de baixo risco e centrados no cliente. “Estamos na linha de frente”, diz ele. “Vemos como os norte-americanos estão estressados.” Usando o cadastro dos clientes, o Chime concedia empréstimos sem custo às pessoas tendo como garantia os cheques que elas recebiam do pacote de estímulos e oferecia proteção contra cheques sem fundo por meio de um programa chamado SpotMe. (A título de comparação, quando as empresas de empréstimo consignado concedem empréstimos tendo como garantia coisas como cheques de pacote de estímulos, elas cobram taxas de juros absurdas de até 650%.) Segundo Britt, essas políticas favoráveis ao cliente ajudam-no a recrutar funcionários melhores – sua folha de pagamento triplicou para 800 em um ano –, o que leva a retornos melhores. “Você acerta essas peças com um bom modelo de negócios, e os acionistas se dão bem.” Parece que se dão, sim. Em setembro, o Chime foi avaliado pelos investidores de capital de risco em US$ 14,5 bilhões, sendo que a participação de Britt vale US$ 1,3 bilhão.
Há ainda outros novos bilionários que vêm tomando medidas para apoiar seus funcionários. Os últimos 12 meses foram incríveis para o CEO da United Wholesale Mortgage, Mat Ishbia, de 41 anos, devido aos milhões de pessoas que se mudaram de casa ou refinanciaram sua moradia a taxas de juros baixíssimas. Igualmente incrível é o fato de que ele nunca tinha aceitado sócios nem investidores, de modo que ele e sua família eram donos de 100% da empresa no começo da pandemia. Quando abriu o capital em janeiro deste ano por meio de uma sociedades de aquisição de propósito específico (SPAC, na sigla em inglês), elevando seu patrimônio líquido na época a US$ 12,6 bilhões, ele separou US$ 35 milhões em ações para seus 8 mil funcionários.
“Todos nós ganhamos juntos como empresa”, diz o ex-jogador de basquete da Universidade Estadual de Michigan. Bem, em certa medida. Jogar para seus funcionários cerca de um quarto de 1% – um pagamento médio de cerca de US$ 4 mil – quando você está montado em 99,7% de uma fortuna de quase 11 dígitos parece extremamente irrisório. Mas não deixa de ser um progresso. Se você consultar a lista original Forbes 400 de 1982, encontrará centenas de magnatas que viam seus funcionários como não muito mais do que um custo ou um passivo.
Outros bilionários defenderam sua cidade natal, como o cofundador da empresa de comunicações na nuvem Twilio, Jeff Lawson, que foi incluído na lista deste ano com US$ 2,2 bilhões. O Vale do Silício viu muitas empresas e líderes irem embora da região da Baía de São Francisco, com destaque para Elon Musk e Larry Ellison. Lawson sentia que tinha uma obrigação para com sua comunidade, o que é outro fator medido pela JUST Capital. Assim, ele declarou publicamente em janeiro que sua empresa permaneceria em São Francisco. Outro promotor de cidadania, o fundador da Rocket Mortgage, Dan Gilbert, cujo patrimônio líquido explodiu para mais de US$ 50 bilhões de um ano para cá, alocou recentemente US$ 500 milhões de sua empresa e sua fundação pessoal para ajudar moradores de baixa renda de Detroit, onde fica a sede da empresa, o que incluiu pagar as dívidas de imposto imobiliário de 20 mil proprietários de casa. “Nosso compromisso com Detroit é absoluto”, afirma Gilbert à Forbes.
Toda essa aceleração vem com uma percepção mais aguçada, entre aqueles que estão no topo, das obrigações que acompanham o sucesso extremo – e das possíveis repercussões, desde regimes fiscais confiscatórios até distúrbios sociais, que podem resultar da inação. Não é difícil ler as entrelinhas: o altruísmo, nesse caso, reflete o interesse próprio. Quando se fala com alguns recém-chegados de 2021 e bilionários jovens, a mudança de postura pós-pandemia é palpável.
John Arnold sentiu uma mudança à medida que a pandemia se aproximava. Embora o caminho percorrido por ele até sua fortuna estimada em US$ 3,3 bilhões – negociando contratos de energia para a execrada e extinta Enron – não vá lhe render nenhum prêmio Nobel, ele e a esposa, Laura, passaram a última década concebendo um plano para maximizar seu impacto; é “a vantagem”, diz ele, “de olhar para 100 anos de grande riqueza nos Estados Unidos”. Alarmado com a situação e o prestígio atuais da filantropia nos Estados Unidos, ele reuniu um grupo de filantropos, acadêmicos e diretores de fundações em Nova York em janeiro de 2020 e levantou uma questão: como podemos fazer com que as pessoas que estão montadas em trilhões de dólares realizem ações mais amplas, mais rápidas e com maior prestação de contas?
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Esse grupo se transformou na Iniciativa para Acelerar as Doações Filantrópicas. Suas metas principais: US$ 142 bilhões em fundos com assessoria dos doadores (DAFs, na sigla em inglês), que permitem que os doadores façam deduções fiscais antecipadas para colocarem dinheiro em empresas de serviços financeiros ou fundações comunitárias, mesmo que não haja indicação ou clareza sobre quando ou como o dinheiro será usado para o bem público; e fundações perpétuas que tentam driblar os requisitos de doações mínimas anuais ao incluírem despesas quando emitem seus relatórios.
Porém, Arnold também percebe a necessidade dos super-ricos de irem mais longe individualmente. Assim, ele se tornou o primeiro bilionário a apoiar uma nova promessa chamada “Give While You Live” (“Doe em Vida”, em tradução livre) – um compromisso público de doar pelo menos 5% do patrimônio pessoal por ano a boas causas –, que está sendo organizada pelo grupo de defesa Global Citizen. (Para fins de transparência: faço parte do conselho da Global Citizen.) Simplesmente manter dinheiro em um DAF ou fundação não resolve, nem tampouco a desculpa de que é melhor os ricos acumularem dinheiro para doá-lo depois. “Os problemas também se acumulam”, diz Arnold em sua primeira entrevista sobre essa iniciativa. “Que esta geração lide com os problemas desta geração.”
O conceito Give While You Live é uma versão mais urgente do Giving Pledge, que, de modo admirável, vem levando bilionários a se comprometerem publicamente a doar metade de sua riqueza ainda em vida – ou depois de morrerem. “Ele não necessariamente estimulou doações no curto prazo”, diz Arnold, signatário do Giving Pledge. Praticamente todos os novos bilionários com quem a Forbes falou, embora expressassem apoio geral ao Giving Pledge e abertura a aderir a ele, focaram, em vez disso, no que podem fazer imediatamente.
Nos últimos 12 meses, a terceira mulher mais rica do mundo, MacKenzie Scott, que entrou para a lista de bilionários da Forbes no ano passado depois de se divorciar de Jeff Bezos, da Amazon, entrou em um frenesi de doações mais extraordinário do que qualquer outra coisa na história recente da filantropia. Em vez de manter uma fundação, Scott contratou consultores para gerarem dados sobre como o dinheiro dela pode ajudar o máximo de pessoas agora. Então, em julho e dezembro, ela emitiu 500 cheques de forma transparente, totalizando US$ 5,8 bilhões, sem contrapartida, para donatários de todos os 50 estados dos EUA, muitos dos quais ficaram completamente surpresos quando o dinheiro chegou.
“A pandemia tem sido um fator destrutivo na vida dos norte-americanos que já estavam em dificuldades”, escreveu MacKenzie em um comunicado público. (Ela não dá entrevistas desde o divórcio.) “Ao mesmo tempo, ela aumentou substancialmente a riqueza dos bilionários.”
Certamente aumentou a riqueza de Jared Isaacman, CEO da Shift4 Payments, uma concorrente da Square voltada a restaurantes e hotéis. Seu ano foi uma montanha-russa que o levou da preparação para uma oferta pública à preocupação se seus clientes – e sua empresa – sobreviveriam, à transformação de seus serviços em uma ferramenta indispensável para sua clientela e, finalmente, à realização do IPO.
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Depois de tocar o sino na Bolsa de Valores de Nova York, o que elevou seu patrimônio líquido a US$ 1,4 bilhão, Isaacman, de 38 anos, assinou um cheque de US$ 100 milhões para o Hospital Infantil de Pesquisa St. Jude. Suas motivações se assemelham às de MacKenzie. Ele doou imediatamente após adquirir uma riqueza imensa. Em vez de criar uma fundação, ele direcionou o dinheiro a pessoas que já estavam fazendo um bom trabalho. Fez isso de forma transparente. E fez isso em escala, depois que a breve experiência de quase morte de seu negócio salientou para ele quantas pessoas estavam sofrendo. “Se você tivesse me perguntado antes da pandemia se eu podia me imaginar preenchendo um cheque de US$ 100 milhões, eu nunca teria previsto isso.”
Depois, Isaacman, que é dono e piloto de seu próprio jato de combate MiG, fez uma alavancagem. Anunciou que lideraria a primeira missão espacial totalmente civil, em parceria com a SpaceX de Elon Musk. Levaria um funcionário da linha de frente do St. Jude – bem como um doador aleatório do hospital, manobra com a qual espera arrecadar mais US$ 200 milhões para o St. Jude e que ele divulgou em um comercial durante o Super Bowl. Ele até conseguiu que Musk, até hoje pão-duro em filantropia, se comprometesse com o St. Jude.
A epifania do imunologista Tim Springer com relação ao coronavírus foi uma questão de escala. Vinte anos atrás, ele embolsou US$ 100 milhões ao fundar uma empresa de biotecnologia e fez os tipos de doações típicas de pessoas com esse nível de riqueza, mantendo cátedras na Faculdade de Medicina de Harvard e no Hospital Infantil de Boston. Também investiu cerca de US$ 5 milhões em uma pequena startup chamada Moderna – participação que o levou à lista de bilionários deste ano, com um patrimônio líquido de US$ 2,2 bilhões.
Springer já investiu US$ 30 milhões na criação do Instituto de Inovação em Proteínas, organização sem fins lucrativos que cria ferramentas e fornece expertise a pesquisadores e empreendedores em biotecnologia. Contudo, a urgência do momento o faz repensar as coisas do ponto de vista filantrópico – ele afirma que anunciará uma doação ainda maior este ano. Ele é reticente com relação a isso, embora diga que provavelmente vai “acrescentar um zero”. E isso é só o começo. “Quero doar mais dinheiro. Essa é a minha motivação para abrir empresas agora”, conta ele. “Se eu for bem-sucedido, como acho que posso ser, [com] a escala das coisas, podemos acrescentar outro zero.”
E, se abrir empresas concebidas especificamente para gerar lucros voltados à filantropia bilionária parece algo improvável, veja Sam Bankman-Fried, de 29 anos, que já está fazendo exatamente isso. Talvez o novo bilionário mais interessante do mundo, Bankman-Fried fundou a bolsa de criptomoedas FTX há dois anos, tendo ganhado uma fortuna maior – US$ 8,7 bilhões – e com mais rapidez do que qualquer pessoa com menos de 30 anos, inclusive Mark Zuckerberg.
De Carnegie a Rockefeller, de Gates a Buffett, a filantropia sempre foi subproduto do empreendedorismo. Bankman-Fried é certamente o primeiro bilionário para quem o empreendedorismo foi subproduto da filantropia. Ele é adepto de uma filosofia chamada Altruísmo Eficaz, que surgiu na última década e aplica a lógica racional para maximizar o bem. “É para pessoas que gostam de matemática e pessoas que gostam de doar”, explica Bankman-Fried. Os altruístas eficazes tentam quantificar coisas como vidas salvas por dólar. Ou se é mais urgente acabar com a malária ou com as tecnologias potencialmente malignas. Ou se um aluno brilhante do MIT chamado Sam deveria seguir seu sonho e se tornar um ativista dos direitos dos animais. “Francamente, você deveria entrar em Wall Street e doar para nós”, Bankman-Fried se lembra de ter ouvido de um dos líderes do movimento Altruísmo Ético, William MacAskill, um professor de Oxford de 34 anos. “Você não é o melhor panfleteiro que encontramos.”
Missão cumprida. Bankman-Fried, ao seguir uma vocação não tão nobre – uma bolsa que é um jogo de soma zero, notoriamente implacável e na qual os novatos enfrentam um monte de profissionais ferozes –, criou uma enorme fonte de riqueza que ele promete direcionar quase inteiramente àquilo que vê como o bem público. (Ele diz que guardará apenas alguns pontos percentuais para si próprio, e mesmo isso pode se mostrar demasiado. “Se for usado para justificar a compra de alguns iates, isso é bem ruim.”) E, embora ele já esteja fazendo apostas, tendo apoiado algumas iniciativas filantrópicas e doado US$ 5 milhões para ajudar a eleger Joe Biden (altruístas eficazes como Bankman-Fried não diferenciam muito entre organizações sem fins lucrativos e política; eles apenas olham para os resultados em termos de retorno sobre o investimento), ele prevê o início de uma escala crescente para daqui a cinco anos, quando terá mais liquidez.
Ele só não doa tudo o mais rapidamente possível porque quer manter um pouco de munição para o momento – quanto antes, melhor – em que avistar uma “oportunidade atípica”.
“Ao encontrar uma dessas, todo mundo tende a ir com calma”, diz Bankman-Fried. “Vá com tudo, p****.”
Na verdade, estamos em um momento “com tudo” da história, e os que estão no topo elevaram suas próprias apostas a um nível insondável, considerando-se o ano que todos vivemos. As mudanças chegaram com maior velocidade do que poderíamos ter concebido em março do ano passado. Agora não é hora de os bilionários do mundo nem de qualquer um de nós irmos com calma.
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