Tillman Gerngross tem um objetivo simples: ele quer encontrar um anticorpo que possa tratar e prevenir Covid-19, não importa o quanto o vírus sofra mutação. Enquanto muitas empresas de biotecnologia estão obcecadas em fazer uma vacina, a empresa Adagio, de Gerngross, está trabalhando na promessa de anticorpos monoclonais, anticorpos humanos projetados que podem se ligar e neutralizar o vírus SARS-CoV-2. A companhia já tem um candidato promissor: o ADG20, que iniciou os testes clínicos em humanos na semana passada.
Com um novo financiamento de US$ 336 milhões para a série C anunciado na última segunda-feira (19), a empresa planeja fazer testes com o ADG20 e solicitar ao FDA (Administração de Alimentos e Medicamentos, da sigla em inglês) uma autorização de uso de emergência até o final do ano.
A atual pandemia da Covid-19 “é apenas a ponta do iceberg”, diz Gerngross. Ele e a cofundadora Laura Walker acham que há uma boa chance de outra pandemia ser deflagrada por um tipo semelhante de coronavírus no futuro – e planejam estar prontos. Eles decidiram que, se iriam entrar no espaço de desenvolvimento de anticorpos, “deveríamos fazê-lo de uma forma que seja responsiva à ameaça mais global”.
A Adagio mudou rapidamente – esta é sua terceira rodada de financiamento em menos de um ano. A empresa arrecadou um total de US$ 466 milhões desde que foi desmembrada de uma das outras empresas de Gerngross, a Adimab, em julho de 2020. A Adimab fez seu nome usando sua plataforma para descobrir anticorpos potencialmente terapêuticos, que são vendidos para outras empresas. “A Adimab nunca desenvolve nada, apenas descobrimos e deixamos que outras pessoas lidem com o desenvolvimento”, diz Gerngross. Mas quando Laura o abordou sobre o desenvolvimento de um tratamento com anticorpos para a Covid-19, ele ficou intrigado. Dos 300 programas de descoberta de medicamentos que a Adimab realizou em seus 14 anos como empresa, o ADG20 é o primeiro que planeja desenvolver internamente por meio da Adagio.
Anticorpos monoclonais têm sido usados há meses para tratar pessoas com a Covid-19. Embora não sejam tão difundidos quanto as vacinas, os anticorpos apresentam vantagens quando se trata de tratar e prevenir doenças. Por um lado, eles se mostraram seguros em crianças e pessoas que são imunocomprometidas, muitas das quais ainda não são elegíveis para uma vacina contra a Covid-19 ou podem nunca ser vacinadas. Os anticorpos também são potencialmente mais prováveis de serem tomados por pacientes que não confiam nas vacinas. Finalmente, além de tratar a Covid-19 e prevenir a hospitalização e a morte, os anticorpos monoclonais também podem ajudar a prevenir a doença quando administrados profilaticamente a alguém. Eles também podem ser usados sozinhos ou em conjunto com outras drogas. “Os anticorpos podem funcionar para complementar ou suplementar as vacinas”, diz Lynn Connolly, diretora médica da Adagio.
Embora os anticorpos monoclonais tenham provado ser tratamentos duráveis contra o câncer e doenças crônicas como a de Crohn, eles às vezes podem lutar contra doenças infecciosas, graças à velocidade com que os vírus podem sofrer mutação. O anticorpo bamlanivimab da Eli Lilly, que recebeu autorização emergencial do FDA em novembro de 2020, evitou que milhares de pacientes fossem hospitalizados após serem contaminados pelo coronavírus. Porém, menos de seis meses mais tarde, a farmacêutica já parou de fornecer o anticorpo aos EUA depois que pesquisas descobriram que ele era ineficaz contra algumas das novas variantes da Covid-19.
“Lá você tem um medicamento que está no meio do caminho para a comercialização e já está obsoleto”, diz Gerngross. “Quero aplaudir nossos colegas em outras empresas que viram a urgência do problema”, diz ele, mas “nenhum deles foi projetado para neutralizar amplamente como o nosso”. Foi demonstrado que o ADG20 não só é eficaz por si só contra todas as variantes conhecidas do SARS-CoV-2, mas também é eficaz contra alguns coronavírus que ainda estão em animais e ainda não se espalharam para os humanos, diz Laura.
VEJA MAIS: Cinco empresas apoiadas por Bill Gates e outros bilionários para salvar o planeta
“No início, a Adagio viu um papel instrumental para os anticorpos monoclonais no combate não apenas à SARS-CoV-2, mas a outros coronavírus emergentes em potencial que estão sendo rastreados quanto ao seu potencial para causar futuros surtos”, diz Sridhar Ramaswamy, um investidor da Google Ventures que participou na rodada recente.
A injeção de novo dinheiro permitirá que a empresa expanda seu teste clínico global e certifique-se de que o ADG20 seja realmente o super-herói de que eles suspeitam. “Uma coisa é provar isso em um camundongo ou ensaio, mas provar isso em ensaios clínicos é outra coisa”, diz Gerngross. A empresa anunciou em 13 de abril que estava lançando um ensaio clínico de fase 1/2/3 em vários países, incluindo regiões com altas taxas de variantes da Covid-19, incluindo a África do Sul e países da América do Sul e da União Europeia. O fundador da empresa afirmou que no futuro, ele pode ir além da Covid-19 e avançar para outras doenças com potencial pandêmico. “Achamos que há outras doenças que poderiam se beneficiar de uma abordagem semelhante.”
Facebook
Twitter
Instagram
YouTube
LinkedIn
Siga Forbes Money no Telegram e tenha acesso a notícias do mercado financeiro em primeira mão
Baixe o app da Forbes Brasil na Play Store e na App Store.
Tenha também a Forbes no Google Notícias.