O interesse pelo real para operações de “carry trade” permanece baixo, afetado por uma perspectiva de ambiente político-fiscal ainda “volátil e desafiador” no Brasil, à medida que o país trava a batalha contra a pandemia e vê ameaças de mais despesa pública num contexto de debate antecipado sobre as eleições, disse Alejo Czerwonko, chefe de investimentos para América Latina e emergentes do UBS.
Ainda em meados de ano, o dólar até pode recuar para R$ 5,20, com um pano de fundo otimista que inclui aceleração da retomada econômica diante da maior vacinação contra a Covid-19 e políticas monetária e fiscal ainda estimulativas nas economias centrais.
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Para Czerwonko, a recente apreciação da taxa de câmbio brasileira teve “em sua maior parte” origem externa e foi ajudada pelo acordo sobre o Orçamento e a melhora dos números locais da pandemia.
O dólar futuro caiu 9,7% entre a máxima de 13 de abril, acima de R$ 5,76, e a mínima do último dia 10, a R$ 5,2065.
Mas o executivo do UBS vê o alívio como temporário. Já no fim do terceiro trimestre a previsão é que a moeda retome os R$ 5,50, patamar no qual deverá permanecer ao término de dezembro deste ano e de março de 2022. A cotação estava em torno de R$ 5,29 hoje (17).
“O ambiente externo deve continuar construtivo e benigno, mas esperamos que o ambiente doméstico continue volátil e desafiador por causa da intersecção entre política em Brasília e a política fiscal”, disse Czerwonko.
“A sustentabilidade das contas fiscais, o compromisso do governo com a responsabilidade fiscal estão muito em questão. Não vemos um comprometimento forte nisso”, afirmou o profissional. “O calcanhar de Aquiles da economia brasileira é o número da dívida/PIB, que beira 90%. Essa é uma nuvem que vai continuar a pairar sobre os ativos brasileiros.”
Com tudo isso, Czerwonko relatou que o investidor externo parece adotar o modo “esperar para ver” no interesse pelo real, com mudanças “tímidas” na percepção da moeda brasileira como um ativo de “carry”.
O “carry trade” é uma estratégia que consiste na tomada de empréstimos em moeda de país de juro baixo (iene japonês, por exemplo) e compra de contratos futuros da divisa de juro maior (como o real). O investidor, assim, ganha a diferença de taxas.
Com o histórico de juros elevados no Brasil, o real era uma das moedas preferidas para esse tipo de negociação. Mas com a queda da Selic de 14,25% em outubro de 2016 para 2% em agosto de 2020 (patamar mantido até março passado), a divisa não apenas deixou de oferecer diferencial de retornos atrativo como passou a contabilizar juro real negativo.
Isso causou uma reversão de seu status – de beneficiária, passou a financiar as operações de “carry trade” – e tornou o real alvo fácil de vendas.
Desde março, contudo, o BC vem aumentando os juros, o que já melhorou a relação risco/retorno de se comprar a divisa brasileira.
O profissional do UBS relatou que o Brasil é citado em debates sobre oportunidades de investimento que tratam da separação de mercados “líderes” e “atrasados”, com o país sendo considerado “relativamente barato”, especialmente num quadro de commodities em alta. “Vai ser um cabo de guerra entre exterior positivo e dinâmica doméstica desafiadora”, afirmou.
“Em resumo, estamos (UBS) falando em uma postura neutra. Não estamos tão convictos sobre o Brasil neste momento e estamos no modo esperar para ver como as dinâmicas domésticas vão se desenrolar.” (com Reuters)
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