O estudante universitário de jornalismo Anas Obeid vivia um início próspero de carreira em 2012. Aos sábados, apresentava um programa de 10 minutos em um canal televisivo em Damasco, capital da Síria. Faltando apenas um ano para se formar, o jovem já tinha experiência em rádio, jornal e televisão, e uma vontade imensa de crescer até que um grupo terrorista – que mais tarde ficou conhecido como Estado Islâmico – cruzou o seu caminho e o fez refém. Junto de mais sete jornalistas, Obeid foi preso e, quase uma década depois do ocorrido, ainda não sabe como saiu vivo. Grande parte de seus colegas não teve a mesma sorte.
A família de Obeid pagou o resgate e, após o reencontro, fugiu para o Líbano, o país mais próximo, para escapar da guerra que avançava na Síria. No vizinho de fronteira, o jovem atuou junto às Nações Unidas em campos de refugiados e ONGs voltadas para crianças, mas não conseguia achar emprego facilmente. “Eles tratavam a gente muito mal. Naquela época, já tinha muitos sírios se refugiando no país, então os libaneses não queriam que tomássemos seus postos de trabalho”, relembra. Sem condições de vida no país, o jovem começou a buscar outras opções de asilo. “Eu passei por quase todas as embaixadas do mundo e ninguém me deu passaporte. O único lugar que abriu as portas para mim foi o Brasil. Cheguei aqui em julho de 2015.”
Obeid faz parte dos 5,5 milhões de sírios – maior grupo de refugiados do mundo segundo os últimos dados do Conare (Comitê Nacional para os Refugiados) – que foram forçados a fugir de seu país por conta da guerra civil. “Eu não sou estrangeiro, sou refugiado. O estrangeiro sai voluntariamente, mas eu fui retirado. Obrigado a sair e deixar para trás minha família e minha cultura. A vontade de voltar existe, mas é difícil. Não sei se eu tenho coragem”, desabafa. Seu sentimento é compartilhado por cerca de 26,4 milhões de refugiados ao redor do mundo.
No Brasil, de acordo com o relatório “Refúgio em Números”, feito em 2020 pelo Conare, há 31.966 pessoas reconhecidas como refugiadas – indivíduos que estão fora de seus países de origem devido à violação de direitos humanos ou perseguição relacionada a questões de raça, religião, nacionalidade, pertencimento a um determinado grupo social ou opinião política. A maior parte desse grupo é de venezuelanos, seguidos por sírios e congoleses.
Daniel Velez* (sobrenome fictício por política da ONG Visão Mundial, que não permite compartilhar informações pessoais) faz parte do contingente de venezuelanos que decidiu apostar no Brasil para buscar uma vida melhor. “Eu conseguia trabalhar, mas a questão econômica do país era muito difícil. Para sobreviver, eu trabalhava cerca de 18 horas por dia”, conta ele. Formado em arquitetura, Velez trabalhou por 25 anos como marceneiro e, embora agora tenha seu próprio negócio no Brasil, a AM Móveis Planejados, sua recepção no país, em 2017, não foi fácil. “Na primeira semana, já percebi que mão de obra venezuelana é muito desvalorizada. As pessoas pagam muito pouco porque acham que estamos morrendo de fome e temos que aceitar qualquer coisa.”
A realidade exposta por Velez fica mais clara quando olhamos os dados sobre o ingresso de imigrantes no mercado de trabalho brasileiro. Segundo informações de uma pesquisa realizada pelo Acnur (Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados) e pela CSVM (Cátedra Sérgio Vieira de Mello), embora os pedidos de refúgio tenham aumentado cerca de 160% de 2018 para 2019, a entrada de refugiados e solicitantes no mercado de trabalho formal cresceu apenas 52%. Além disso, a taxa de desemprego medida entre refugiados é de 19,5%, um índice bem superior à média nacional, que gira em torno de 12%. Uma diferença grande considerando-se que refugiados apresentam uma qualificação superior: cerca de 37% deles têm curso superior, em comparação aos 17% de brasileiros.
A ignorância e o preconceito contribuem de forma expressiva para essa estatística. Mesmo com informação de fácil acesso, algumas empresas ainda têm receio de contratar refugiados por achar que a prática é irregular, passível de causar problemas com o Ministério do Trabalho ou com a Polícia Federal. Quando isso se une ao preconceito, a questão se torna ainda mais complexa. “Para alugar o ponto do meu escritório foi muito difícil. As pessoas não confiavam em mim”, revela Velez. “Mas eu decidi que não iria trabalhar de graça, muito menos desistir.”
NÃO SE LUTA SOZINHO
Hoje, Velez vive bem graças ao seu negócio. Ele ressalta, no entanto, que para chegar a este ponto, o apoio da ONG Visão Mundial foi muito importante. A partir do projeto “Ven, Tú Puedes”, financiado pelo PRM (Escritório de População, Refugiados e Migração do Departamento de Estado dos Estados Unidos da América), Velez e diversos outros venezuelanos conseguiram apoio para colocar suas ideias empreendedoras em prática. O programa, até o momento, atende imigrantes da Venezuela que estão morando nas cidades de Boa Vista, Roraima, Manaus, Amazonas e na capital paulista.
“O ápice do nosso trabalho é a apresentação de planos de negócios sustentáveis”, conta Catty Lopes, uma das responsáveis para resposta a emergências da ONG Visão Mundial. “Os refugiados apresentam suas ideias, são avaliados por uma banca e os melhores planos recebem um capital semente para impulsionar o negócio. O Velez foi um desses escolhidos.” A instituição oferece, ainda, oficinas, cursos de capacitação e mentoria para os atendidos. De 2019, ano inicial do projeto, até agora, cerca de 100 imigrantes da Venezuela conseguiram emprego.
O plano para os próximos anos, com o aumento da crise migratória, é começar a focar esforços também em outras nacionalidades. Para Catty, casos como o de Velez dão esperança para a continuidade do trabalho. “Um dia, ele estava buscando emprego. Hoje, ele proporciona espaço de trabalho para outras pessoas, inclusive brasileiros. É muito bom assistir a isso”, destaca.
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A boa notícia é que o trabalho da ONG Visão Mundial não é o único focado em ajudar refugiados no país. Com apoio e parceria do Sesc-SP, a agência da ONU para refugiados Acnur e a Rede Brasil do Pacto Global criaram a plataforma Refugiados Empreendedores, que promove cursos de capacitação, feiras, eventos, oficinas e ampla divulgação dos trabalhos dos imigrantes.
O próprio Obeid, que na Síria estudava jornalismo, teve seu caminho direcionado para o empreendedorismo quando chegou ao Brasil. No Sesc-SP, conduziu oficinas e participou de feiras para divulgar uma de suas habilidades: a produção de perfumes. “Sempre fiz o meu próprio perfume com as essências árabes. De repente, aqui no Brasil, as pessoas começaram a elogiar e dizer que eu estava muito cheiroso, até que um amigo perguntou por que eu não vendia”, conta, com bom humor. Gerado a partir da mistura de essências árabes – geralmente almíscar, sândalo, âmbar e oud -, com álcool e fixador, Obeid começou a produzir os perfumes de forma caseira e vender na internet.
A partir daí, ampliou sua oferta para produtos de artesanato árabe, consultoria de cheiros e se desenvolveu como perfumista. “Deu certo, mas agora eu sonho alto aqui no Brasil. Quero ser diretor de cinema e estou escrevendo um livro”, revela. “Na pandemia, uma questão ficou muito clara para mim. Todo mundo ficou com muito medo de perder a família, o trabalho, quem sabe até a vida. Para os refugiados, esse é um medo constante.”
Para marcar o Dia Mundial do Refugiado, comemorado hoje (20), contamos, a seguir, cinco histórias de pessoas que largaram tudo em suas terras natais e vieram empreender no Brasil:
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Divulgação Talal Altinaw, Síria
Talal Atinaw é engenheiro mecânico e tinha um ótimo emprego na Síria, seu país de origem. Casado e com a família formada, tinha a paz como parte do seu cotidiano até estourar a guerra civil, em meados de 2011. Mais do que o medo dos confrontos, Atinaw viveu a violência na pele ao ter seu nome confundido pelo governo. “Eles buscavam uma pessoa com o mesmo nome que o meu, então fui parar na prisão por engano. Fiquei três meses no cárcere e vi coisas que ninguém deveria ver”, recorda. Quando foi libertado, não esperou nem duas semanas e se mudou para o Líbano com a família. “Fiquei 10 meses por lá e decidi viajar para o Brasil, porque era o único país que aceitava refugiados sem muita dificuldade.”
A barreira, nesse caso, ficou por conta da busca por um emprego. “Não reconheceram meu diploma. Até consegui um emprego como engenheiro, mas ganhava apenas R$ 2 mil. Não era muito para conseguir sustentar a família em São Paulo”, conta Atinaw. Um jantar de aniversário para os amigos dos filhos mudou seus planos. “As pessoas elogiaram a comida e perguntaram por que eu não começava a investir nisso”, lembra. Sem ideia de como começar a empreender, o refugiado foi ajudado pelas próprias pessoas que fizeram a sugestão do negócio, que tiveram a iniciativa de fazer uma vaquinha online para arrecadar dinheiro para o projeto.
“Conseguimos R$ 72 mil. Foi assim que o Talal Culinária Síria nasceu”, destaca. No momento, por conta da pandemia, Atinaw não está com ponto fixo de restaurante, mas atua com delivery. E, embora as dificuldades existam, ele revela não pensar em voltar para a Síria. “Empreender aqui é bom, mas precisa ter força de vontade e paciência. Meus filhos, por exemplo, tiveram mais oportunidades aqui no Brasil. O mais velho acabou de terminar o ensino médio e já passou em medicina em uma faculdade federal”, diz, orgulhoso.
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Divulgação Renée Ross-Londja e Lambert, Guiana Inglesa e República Democrática do Congo
Embora a história de Renée Ross-Londja seja recheada das mesmas dificuldades enfrentadas pela maior parte dos refugiados, também é uma narrativa sobre o amor. Nascida na Guiana Inglesa, ela tinha uma vida simples trabalhando em um restaurante do país. Um dia, conheceu um rapaz na internet chamado Lambert, que morava na República Democrática do Congo. Eles namoraram online por cerca de nove anos até decidirem que já era hora de morarem juntos. Havia apenas um problema: a vida de Lambert no Congo não tinha nenhuma segurança. Os confrontos armados constantes por minério eliminavam qualquer possibilidade de um jovem casal começar a vida por lá. Já a Guiana Inglesa não estava aberta para refugiados, então Lambert não podia entrar no país.
Como solução, o casal decidiu se mudar para o Brasil, um país que os aceitava. Em Manaus, começaram a empreender. Renée aprendeu a fazer biscuit e artesanato, enquanto Lambert dava aulas de idiomas. Em 2015, decidiram se mudar para São Paulo em busca de mais oportunidades de crescimento. Desde então, Renée atua na produção de bonecas de pano. “É o que eu mais gosto de fazer, principalmente bonecas pretas. As crianças precisam ver essa diversidade e se sentir representadas”, conta ela. “Mas, como faço sob encomenda, crio bonecas de qualquer etnia.”
Além das vendas pela internet, Renée já participou de eventos e oficinas no Sesc-SP. “Tive a oportunidade de viajar para outros estados para participar de feiras de artesanato. É um trabalho bem valorizado e eu amo o que faço. Na Guiana seria muito difícil trabalhar com isso, então eu sou muito grata”, destaca. Para ela, a maior dificuldade do processo foi aprender o português, já que a Guiana é o único país sul-americano a ter o inglês como língua oficial. Já seu marido, que fala inglês e francês, aproveita esse diferencial para dar aulas particulares na capital paulista. “A família dele está espalhada pelo mundo. Todos saíram de casa pelo mesmo motivo: a violência”, conta Renée. Nenhum dos dois tem planos de voltar para seus países de origem. Para eles, o Brasil é o melhor cenário para os dois principais pilares de sua vida: o amor e o empreendedorismo.
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Divulgação Anas Obeid, Síria
Quando Anas Obeid decidiu se mudar para o Brasil, uma grande coincidência aconteceu. Ao entrar em contato com um rapaz sírio que estava alugando um quarto em um pequeno apartamento em São Paulo, deparou-se com um colega de infância. “Eu estava sempre atrás dele na chamada, já que nossos nomes começam com ‘a’. Quando nos encontramos, ele disse: ‘Nossa, você está atrás de mim até aqui’”, relembra, rindo. Mas, mesmo com um rosto familiar por perto, seus primeiros momentos no Brasil não foram fáceis.
“Eu cheguei e levei um susto com as pessoas que moravam nas ruas de São Paulo. Pensei que eram todos refugiados. Quando me falaram que eram brasileiros, pensei: ‘Se eles estão na rua, onde eu vou ficar?’”, conta. No entanto, logo na primeira semana Obeid arrumou emprego em um restaurante. “Ganhava R$ 800 por 12 horas de trabalho e uma folga por semana. Eu não sabia nada sobre meus direitos. Muito menos falar português.” Essas dificuldades só foram superadas de forma mais leve por conta do apoio que recebeu de pessoas, até então, desconhecidas. “Tinha uma faxineira no restaurante que percebeu que algumas pessoas estavam me ensinando palavrões. Ela era muito humilde, mas me chamou em um canto e disse que ia me ensinar português. Por oito meses, me ensinou a conjugar verbos e me deu uma base muito forte do idioma.”
Esse apoio foi fundamental para Obeid começar a conhecer novas pessoas no Brasil e sair a noite para passear. Em um karaokê, terminou de aprender o português enquanto acompanhava as letras no telão e cantava o que conseguia. Foi apenas após todos esses meses de aprendizado que a produção de perfumes surgiu em sua vida, assim como os cursos e as oficinas no Sesc-SP. “O povo brasileiro me ajudou muito. Abriram a porta para mim. Nos eventos e oficinas que fiz, percebi o quanto as pessoas querem ajudar.” Desesperançoso sobre a situação de seu país, Obeid sente falta de seus pais – que nos últimos anos voltaram para a casa na Síria -, mas não pensa em deixar o Brasil. “O povo é conectado com a dor dos outros. Isso me faz continuar com meu trabalho”, revela.
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Divulgação Benediction Kipuni, República Democrática do Congo
Benediction Kipuni, de 25 anos, nasceu na cidade de Goma, no interior da República Democrática do Congo, e sempre sonhou em trabalhar na área de moda e estética. Em dezembro de 2015, ela tomou uma das decisões mais importantes da sua vida para conseguir seguir carreira: deixar seu país de origem e se mudar para o Brasil. “Eu vim para buscar novos horizontes. As oportunidades na área de estética no Congo não eram boas e eu precisava estudar e trabalhar”, conta.
Alguns colegas de seu pai já estavam morando no Brasil, mais especificamente em Belo Horizonte (MG), e a convidaram para morar com eles. “Minha principal dificuldade foi a língua. Eu não sabia nada do português. Fiz cerca de seis meses de aula particular e depois fui aprender no dia a dia.” O curso de idioma, claro, não foi o único em que Benediction investiu. Também estudou um ano de maquiagem e, nesse meio tempo, aproveitou seu conhecimento em costura para começar a vender roupas étnicas com tecidos importados da África e fazer maquiagens para festas e eventos.
Mas, diferente de outros refugiados, Benediction planeja voltar ao seu país. Segundo os últimos dados da Acnur, já são 918 mil refugiados congoleses mundo afora que buscam fugir da violência e dos conflitos do país, resquícios da guerra civil que acabou em 2003. No entanto, com toda sua família morando lá, a ansiedade pelo reencontro fica cada vez maior.
“Aqui no Brasil a área de estética é muito avançada, então eu posso voltar para o Congo com um conhecimento muito maior do que quando decidi sair de lá. Eu posso ajudar com pelo menos 1% de avanço no meu país”, explica. “Lá não existe alongamento de cílios, depilação com cera, unha em gel de qualidade. Eu posso voltar para a minha casa com o que aprendi desde 2015.” Por enquanto, a jovem continua oferecendo seus serviços e vendendo seus produtos pelas redes sociais. Suas roupas, extremamente coloridas e alegres, parecem agradar à população mineira. “Cor traz felicidade e o Brasil eu levo no coração”, conclui.
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Divulgação Daniel Velez*, Venezuela
Com a fachada de sua empresa toda pintada de amarelo e uma parede repleta de ferramentas, Velez parece bem pouco a mesma pessoa que passou por tantas dificuldades em seus primeiros dias no Brasil, em 2017. “Eu morava em Barinas, uma cidade quase chegando na Colômbia. Tive que viajar 1.900 quilômetros para chegar em solo brasileiro”, conta. O trajeto de cinco dias era perigoso, com muitos assaltos e violência. Como se não bastasse, naquela época a ONU (Organização das Nações Unidas) ainda não estava atuando nas fronteiras. Quando Velez chegou, a fila na Polícia Federal era extensa, atrasando o processo de identidade no país. “Chegamos em uma casa alugada que não tinha nada, só sonho e esperança. Na primeira noite, o colchão de ar estourou e o ventilador quebrou. O calor estava muito forte e, nesse momento, eu quis voltar”, recorda.
Em Rorainópolis, interior de Roraima, o venezuelano começou a procurar emprego. “Eu caminhei a cidade toda e percebi que os móveis projetados eram todos produzidos na capital Boa Vista. Então decidi que ia começar a fazer isso, já que não tinha concorrência na cidade”, revela. O único problema – ou, talvez, o maior deles -, era o preço das ferramentas. “Uma serra de mão custava R$ 600. Eu não tinha aquele dinheiro. Meu primeiro serviço eu basicamente fiz na unha”, diz entre risadas.
Aos poucos, com muito trabalho e apoio da ONG Visão Mundial, Velez conseguiu comprar seus materiais e abrir um espaço – do qual tem muito orgulho. “Faço modelagem 3D e mostro para os meus clientes como o projeto vai ficar. Eu faço isso sem cobrar nada, diferente das grandes empresas de arquitetura. Faço porque, talvez, a pessoa não tenha dinheiro para comprar agora, mas ela pode voltar mais tarde ou indicar o serviço para conhecidos”, explica. Também foi assim, com a ajuda da tecnologia, que ele conseguiu se comunicar nos primeiros meses. “Eu não falava português e os nomes de móveis e ferramentas são muito diferentes em espanhol. Parafuso é tornillo”, exemplifica. “Eu vivia mostrando imagens no meu celular para traduzir o que eu queria dizer.”
O refugiado venezuelano foi superando, uma a uma, todas as dificuldades. Quase cinco anos depois, ele se orgulha de revelar que consegue pagar uma escola particular para sua filha mais nova. “Eu quero deixar uma marca, quem sabe a ‘Dani Móveis’. Quero que as pessoas cheguem em minha loja e entendam que eu sou um profissional. Aqui estou vivendo como brasileiro”, conclui.
Talal Altinaw, Síria
Talal Atinaw é engenheiro mecânico e tinha um ótimo emprego na Síria, seu país de origem. Casado e com a família formada, tinha a paz como parte do seu cotidiano até estourar a guerra civil, em meados de 2011. Mais do que o medo dos confrontos, Atinaw viveu a violência na pele ao ter seu nome confundido pelo governo. “Eles buscavam uma pessoa com o mesmo nome que o meu, então fui parar na prisão por engano. Fiquei três meses no cárcere e vi coisas que ninguém deveria ver”, recorda. Quando foi libertado, não esperou nem duas semanas e se mudou para o Líbano com a família. “Fiquei 10 meses por lá e decidi viajar para o Brasil, porque era o único país que aceitava refugiados sem muita dificuldade.”
A barreira, nesse caso, ficou por conta da busca por um emprego. “Não reconheceram meu diploma. Até consegui um emprego como engenheiro, mas ganhava apenas R$ 2 mil. Não era muito para conseguir sustentar a família em São Paulo”, conta Atinaw. Um jantar de aniversário para os amigos dos filhos mudou seus planos. “As pessoas elogiaram a comida e perguntaram por que eu não começava a investir nisso”, lembra. Sem ideia de como começar a empreender, o refugiado foi ajudado pelas próprias pessoas que fizeram a sugestão do negócio, que tiveram a iniciativa de fazer uma vaquinha online para arrecadar dinheiro para o projeto.
“Conseguimos R$ 72 mil. Foi assim que o Talal Culinária Síria nasceu”, destaca. No momento, por conta da pandemia, Atinaw não está com ponto fixo de restaurante, mas atua com delivery. E, embora as dificuldades existam, ele revela não pensar em voltar para a Síria. “Empreender aqui é bom, mas precisa ter força de vontade e paciência. Meus filhos, por exemplo, tiveram mais oportunidades aqui no Brasil. O mais velho acabou de terminar o ensino médio e já passou em medicina em uma faculdade federal”, diz, orgulhoso.
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