As SPACs, nova moda do mercado financeiro, fizeram mais um bilionário. A Beachbody – uma companhia de marketing multinível de DVDs de exercícios e shakes de emagrecimento que se transformou em uma marca de fitness online – abriu seu capital na Bolsa de Valores de Nova York ontem (28). A operação foi o resultado de uma fusão com a fabricante de bicicletas ergométricas Myx Fitness e a Forest Road Acquisition Corp., uma SPAC com ligações com o ex-astro da NBA Shaquille O’Neal e o ex-CEO do TikTok Kevin Mayer.
As sociedades de aquisição de propósito específico, em tradução livre para o português de “SPAC”, abrem o capital sem operações comerciais e usam os recursos captados para adquirir empresas privadas.
O CEO e presidente da Beachbody, Carl Daikeler, que fundou a empresa em 1998, é agora um bilionário graças à sua participação de 43% na companhia, avaliada em US$ 1,7 bilhão às 10:45h (de Brasília) de ontem.
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O objetivo da fusão é transformar a nova empresa em uma concorrente direta de marcas líderes no setor de fitness, como Peloton e Lululemon, que comprou o fabricante de dispositivos de fitness Mirror por US$ 500 milhões em junho de 2020. Para isso, o plano é combinar o rápido crescimento do negócio de assinatura digital da Beachbody, sua biblioteca de aulas de exercícios ao vivo e sob demanda, e a bicicleta ergométrica equipada com tela touchscreen da Myx, uma alternativa mais barata à da Peloton. A bicicleta ergométrica de Myx é vendida a US$ 1.299 em seu site, em comparação com US$ 1.895 do modelo mais barato da Peloton.
A Myx Fitness ainda é uma novata no mundo das bicicletas ergométricas. Ela obteve pouco menos de US$ 30 mil em receita com a venda de suas bicicletas em 2020. A Beachbody, enquanto isso, registrou um prejuízo líquido no mesmo ano de US$ 21 milhões, quando atingiu US$ 864 milhões em vendas, um resultado negativo depois de ter obtido um lucro líquido de US$ 32 milhões em 2019 com um total de vendas de US$ 756 milhões.
“Este é um marco importante na missão da Beachbody de ajudar mais pessoas a atingir seus objetivos e a levar vidas saudáveis e gratificantes”, disse Daikeler, 57, ontem, em um comunicado anunciando a fusão. “Com esta transação, vamos empregar capital para expandir nossa plataforma, acrescentar hardware de fitness conectado por meio da aquisição da Myx e continuar criando o conteúdo de treinos para fazer em casa mais empolgante e inovador de todos.”
Um porta-voz da Beachbody não respondeu a um pedido de comentário sobre o patrimônio líquido de Daikeler.
Como a Forbes detalhou em um artigo de 2018, Daikeler cresceu nos arredores da Filadélfia e se graduou na Ithaca College, onde obteve um bacharelado em mídia organizacional corporativa, em 1986. Ele trabalhou como produtor de shows de intervalo de jogos de futebol televisionados. Em 1987, Daikeler deixou seu trabalho para começar a fazer comerciais de fitness, um negócio que mais tarde evoluiu para a produção de filmes de treinos para fazer em casa. Ele foi cofundou a empresa de vídeos fitness TelAmerica Media em 1994, quando vendeu 2 milhões de cópias de seu vídeo de sucesso “Buns of Steel” (“glúteos de aço”, em tradução livre). Ele logo se desfez de sua participação e retornou ao mundo dos comerciais. Depois, Daikeler trabalhou por dois anos em uma empresa de namoro por telefone, entre outros empregos, antes de lançar a Beachbody em 1998 com seu colega Jon Congdon, contando com a ajuda de US$ 500 mil de investidores-anjos.
“O que aprendi foi que resolver meu próprio problema – não gostar de malhar e me alimentar como uma criança – era uma oportunidade escalonável”, disse ele à Forbes em 2018, quando sua participação na empresa foi avaliada em cerca de US$ 660 milhões.
O primeiro sucesso de Beachbody foi o P90X, um treinamento de três meses que foi elogiado por nomes como Michelle Obama e o ex-presidente da Câmara dos Estados Unidos, Paul Ryan. Daikeler e Congdon transformaram a empresa em uma gigante do marketing multinível com mais de 400 mil “treinadores” vendendo vídeos de exercícios, shakes para emagrecimento e outros suplementos nas redes sociais.
Em 2015, Daikeler fez uma aposta arriscada ao lançar “Beachbody on Demand”, um serviço semelhante à Netflix que oferece toda a biblioteca de vídeos de treino da empresa por uma assinatura de US$ 99 ao ano (comprar todos os vídeos individualmente custaria cerca de US$ 7 mil). Embora dolorosa no curto prazo – o número de treinadores encolheu de 450 mil em 2016 para 340 mil em 2018 – essa estratégia valeu a pena em 2020, quando a pandemia fechou academias em todo os Estados Unidos e as pessoas passaram a treinar em casa com exercícios transmitidos ao vivo.
No início de 2019, Congdon criou o Openfit, outro serviço de treinos ao vivo com uma mensalidade de US$ 19, também de propriedade da Beachbody. O Openfit decolou em 2020 e ajudou a aumentar em 53% as assinaturas digitais da empresa, que chegaram a 2,6 milhões, em comparação com os 3 milhões do Peloton. (A participação de Congdon na Beachbody, cerca de 6%, vale aproximadamente US$ 220 milhões hoje). Os treinos ao vivo também representam uma oportunidade para Beachbody se diversificar e ir além dos alimentos saudáveis, suplementos e suas bebidas Shakeology, que trouxeram dois terços da receita total da empresa em 2019.
O negócio de shakes, no entanto, foi alvo de uma ação legal alguns anos atrás: em 2017, após uma investigação feita pelo procurador da cidade de Santa Mônica, a empresa chegou a um acordo extrajudicial no qual se comprometeu a pagar US$ 3,6 milhões e a parar de fazer certas alegações de benefícios à saúde nos rótulos e propagandas das bebidas. Ainda assim, a empresa está investindo no mercado de nutrição saudável: em dezembro de 2020, ela adquiriu a empresa de nutrição esportiva Ladder, de LeBron James e Arnold Schwarzenegger, por US$ 28 milhões.
Embora as vendas de US$ 864 milhões da Beachbody no ano passado representem uma melhoria em relação aos US$ 756 milhões de 2019, elas indicam uma queda acentuada em comparação ao US$ 1 bilhão em receita que a Beachbody disse ter atingido em 2017 à Forbes. Sua fusão com a Myx Fitness permite que Daikeler reduza o risco de sua aposta no negócio ao reposicionar a Beachbody como uma companhia de home fitness integrada, competindo com empresas como Peloton e iFIT, a empresa-mãe da NordicTrack e da ProForm.
“Da mesma forma que o streaming expandiu o mundo da mídia, o fitness doméstico está expandindo o ecossistema de exercícios”, diz Simeon Siegel, analista sênior da BMO Capital Markets. “Há um longo caminho pela frente para as empresas que são capazes de oferecer produtos e conteúdos atraentes.”
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