Os grandes bancos tradicionais brasileiros vêm perdendo espaço no mercado para novos players: bancos digitais e fintechs que apostam na personalização e segmentação de soluções para públicos diversos. De acordo com dados do Banco Central, a concentração bancária no país vem em tendência de queda desde 2017. O último levantamento, de 2020, mostrou a redução das participações dos principais bancos públicos federais: Banco do Brasil, Caixa e BNDES.
Segundo o Banco Central, entre 2018 e 2020, as parcelas de mercado do BB, Caixa e BNDES no segmento bancário e não bancário caíram de 41,3% para 37,5%, considerando os ativos totais. Os depósitos totais dos dois primeiros também sofreram redução, de 37,7% para 31,4%. O mesmo ocorreu com as operações de crédito, que saíram de 48,9% para 42,8% no período.
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No Relatório de Economia Bancária, o BC chama atenção para o espaço conquistado por instituições que não se encontram entre as cinco maiores do setor (Caixa, BB, Itaú, Bradesco e Santander), “o que contribui para o incremento das condições concorrenciais quando se considera exclusivamente os índices de concentração”.
Para Marcelo Neri, diretor do Centro de Políticas Sociais da FGV, a característica naturalmente brasileira de ser um país diversificado somada ao impulso que a pandemia deu à adesão aos serviços digitais formou o contexto ideal para a criação de novas instituições financeiras, que surgiram com propostas específicas para diferentes públicos.
“A abertura de contas digitais, no ano passado, para que as pessoas recebessem auxílio emergencial abriu uma janela que aumentou a entrada de quem estava fora do sistema.” Ele afirma que as fintechs, que demoraram a se popularizar no Brasil, surfaram nessa onda.
Em novembro do ano passado, a Caixa alcançou a marca de 100 milhões de contas poupança digitais. O movimento ocorreu graças ao pagamento do auxílio emergencial, que começou a ser depositado para os beneficiados em abril.
Neri também defende que a concorrência no setor bancário é bastante bem-vinda para o consumidor, e que a criação de novas fintechs é uma tendência que veio para ficar, principalmente no modelo de open banking. “Isso é apenas o começo desse processo de dar mais mercado à população, e não dar a população ao mercado.”
De acordo com dados de um estudo da FGV, o Brasil acompanha a média mundial em termos de nível de renda e difusão do sistema financeiro para o grau de desenvolvimento econômico atual: 70% dos brasileiros dispõem de contas em instituições financeiras, contra 67,1% da média mundial.
A segmentação e especialização do setor é capaz de elevar ainda mais esse índice, colaborando com a inclusão financeira dos desbancarizados e levando aos usuários opções além das já tradicionais.
Antes da pandemia, havia 45 milhões de pessoas desbancarizadas no Brasil, segundo informações do Instituto Locomotiva. Com a necessidade de acesso ao auxílio emergencial e a demanda por serviços online em decorrência do isolamento social, o número de desbancarizados caiu 73%.
Veja a seguir alguns exemplos de bancos criados para atender a diferentes segmentos:
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Divulgação Paws Bank
Público-alvo: donos de animais de estimação e contas jurídica para empreendedores do segmento.
O Paws Bank, lançado em março, é o primeiro banco digital com benefícios voltados para donos de animais de estimação e contas jurídicas para empreendedores do segmento. O “facilitador financeiro do mercado pet”, como se intitula, é 100% digital e traz como diferenciais empréstimo fácil para cirurgias veterinárias de emergência, descontos e parcerias com clínicas, além de colaboração financeira com ONGs especializadas no resgate de cães e gatos.
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Divulgação Pride Bank
Público-alvo: público LGBTI+
O Pride Bank é o primeiro banco digital do mundo focado no público LGBTI+, segundo a companhia, e tem como propósito devolver parte de sua renda a essa população. O banco digital distribui 5% de sua receita bruta total a ONGs, coletivos e iniciativas LGBTI+. Outros 5% são investidos em atividades de culturais, esportivas e de entretenimento voltadas para o grupo. O banco encerrou a fase beta e começou a receber novos correntistas em agosto de 2020. Um dos seus diferenciais é a possibilidade de usar o nome social nos cartões de crédito emitidos pelo Pride Bank, o que evita constrangimentos para transexuais e travestis, por exemplo.
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Divulgação D’Black Bank
Público-alvo: empreendedores negros
Com foco em empreendedores negros, a fintech D’Black Bank oferece maquininhas de cartões de crédito e materiais educativos a fim de promover a liberdade econômica da comunidade negra. A companhia se apresenta ainda como “um negócio social que visa a justiça econômica, atuando no fomento do empreendedorismo e da inovação para população afrobrasileira”. A fundadora do banco é a empreendedora Nina Silva, eleita pela Forbes uma das 20 Mulheres Mais Poderosas do Brasil em 2019, e criadora do movimento Black Money.
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Divulgação NeagleBank
Público-alvo: jovem pré-bancarizado
Voltado para jovens menores de 18 anos, o NeagleBank, criado pela fintech Trampolin, e oferece uma conta digital, vinculada à conta corrente de um adulto, em que é possível receber mesadas, fazer transferências, comprar créditos para jogos online e ter cartão de crédito pré-pago. A conta do menor de idade precisa, necessariamente, ter um responsável cadastrado. A instituição foi desenvolvida pela Trampolim em parceria com os youtubers Victor Trindade (Eagle) e Gabriel Soares (Neox) e tinha 110 mil correntistas em outubro de 2020, após a conclusão da fase de testes.
Paws Bank
Público-alvo: donos de animais de estimação e contas jurídica para empreendedores do segmento.
O Paws Bank, lançado em março, é o primeiro banco digital com benefícios voltados para donos de animais de estimação e contas jurídicas para empreendedores do segmento. O “facilitador financeiro do mercado pet”, como se intitula, é 100% digital e traz como diferenciais empréstimo fácil para cirurgias veterinárias de emergência, descontos e parcerias com clínicas, além de colaboração financeira com ONGs especializadas no resgate de cães e gatos.
Consultado, o Banco Central informou que as três empresas não estão registradas junto ao órgão, mas que elas podem operar sem autorização prévia. “De acordo com a legislação em vigor, os termos ‘banco’ ou ‘bank’ não são de uso exclusivo de instituição financeira bancária, podendo ser usados inclusive por instituições de pagamentos”, afirmou o BC em nota. Nesses casos, há necessidade da chancela do órgão apenas quando a empresa realiza emissão de moeda eletrônica ou de instrumento pós-pago, credenciamento ou iniciação de transação de pagamento.
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