A China intensificou o escrutínio de listagens de empresas em outros países e a ação contra a gigante do transporte de passageiros por aplicativos Didi Global pouco depois de sua estreia na Bolsa de Nova York obscureceu as perspectivas para listagens nos Estados Unidos, disseram investidores e executivos de bancos de investimento.
Ontem (06), Pequim afirmou que intensificará a supervisão a todas as empresas chinesas listadas no exterior e apertará as regras para o fluxo de dados entre fronteiras, uma mudança regulatória que também deve pesar na avaliação de longo prazo de empresas com IPOs no horizonte, afirmaram.
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Executivos de bancos de investimento e investidores esperam que o ritmo de atividade diminua no curto prazo, enquanto investidores debatem a decisão de Pequim de apertar a supervisão a empresas listadas no estrangeiro, apenas dias depois de reguladores surpreenderem os investidores com uma investigação de segurança cibernética contra a Didi.
“Basta dizer que essas empresas chinesas que planejam listar suas ações nos EUA terão que pausar, ou mesmo abandonar os planos, diante das incertezas e confusões que vão se acumulando”, afirmou Fred Hu, presidente do Primavera Capital Group.
“O mercado norte-americano está interditado, pelo menos por enquanto”, disse Hu, cuja empresa tem um portfólio de patrimônio privado que inclui várias empresas de tecnologia que abriram capital ao público em outros países. “…O que está em jogo é extraordinariamente alto, tanto para as empresas de tecnologia, quanto para a China como país.”
O mercado de capital dos EUA tem sido uma fonte lucrativa de financiamento para empresas chinesas na última década, especialmente para as de tecnologia que buscam comparar suas avaliações com os pares que estão listados lá e ter acesso a um poço abundante de liquidez.
Um recorde de US$ 12,5 bilhões já foram levantados em 2021 em 34 ofertas de listagem de empresas chinesas nos EUA, segundo dados da Refinitiv, muito mais do que o montante de US$ 1,9 bilhões de novas listagens em 14 negócios no mesmo período no ano anterior.
SINAL CLARO
Pegando muitos investidores, e a Didi, de surpresa, a CAC (Administração de Ciberespaço da China) ordenou no domingo (04) que a empresa de transporte de passageiros removesse seus aplicativos das lojas da China por coletar dados pessoais de usuários ilegalmente. A ação ocorreu menos de uma semana depois de a Didi estrear na Bolsa de Nova York, após uma oferta pública inicial de US$ 4,4 bilhões.
Foi o maior IPO chinês nos EUA desde que a gigante do e-commerce Alibaba levantou US$ 25 bilhões em 2014.
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Para investidores, a euforia durou pouco porque as ações da Didi despencaram 27% desde a abertura, em 30 de junho.
A CAC também anunciou investigações contra o aplicativo de recrutamento online da Kanzhun Ltd’s, o Zhipin, e a plataforma de transporte Full Truck Alliance.
“É um sinal claro de que o governo chinês não está muito feliz que essas empresas continuam decidindo levantar capital no Ocidente”, afirmou Jordan Schneider, analista de tecnologia da empresa de pesquisas Rhodium Group.
IMPULSO PARA HONG KONG
Embora as últimas medidas de reguladores tenham prejudicado o cenário para grandes IPOs chineses em Nova York, nem todas as empresas estão correndo para retirar suas ofertas ainda.
A LinkDoc Technology, que é descrita como uma fornecedora de soluções de dados médicos, está atualmente buscando levantar até US$ 211 milhões em um IPO nos EUA e deve precificar suas ações após o fechamento do mercado norte-americano amanhã (08).
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Não houve mudanças no cronograma ainda, segundo duas fontes com conhecimento direto do assunto. A LinkDoc não respondeu imediatamente ao pedido por comentários.
Alguns executivos de bancos de investimento afirmaram que o mais recente aperto regulatório será um impulso para a Bolsa de Hong Kong como uma avenida de financiamento para empresas chinesas que tentam evitar as novas restrições a listagens nos Estados Unidos.
Sublinhando esse otimismo, as ações na HKEX (Bolsa de Hong Kong) fecharam em alta de mais de 5% hoje (07).
“As compras estão sendo alimentadas por uma expectativa de que a HKEX se torne o único centro de IPO para empresas chinesas e o principal centro para a arrecadação de capital estrangeiro”, afirmou Steven Leung, diretor de vendas da corretora UOB Kay Hian em Hong Kong. (Com Reuters)
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