“Cortina não é simplesmente cortina…Você quer imaginar a diferença que há entre uma janela com ou sem cortina? Pois imagine olhos que não tivessem pestanas.” O trecho faz parte do livro de poesias “Só Para Mulheres: Conselhos, Receitas e Segredos”, de Clarice Lispector, que o empreendedor Roberto Baby ganhou da esposa. “Ela estava na Bienal do Rio de Janeiro e comprou pra mim”, diz, bem humorado.
A obra acabou virando uma referência para o idealizador da empresa de cortinas Bella Janela. “As cortinas são capazes de mudar por completo um ambiente”, diz. A percepção do empreendedor surgiu quando ele atuava em um de seus primeiros empregos com carteira assinada, como representante de vendas em uma loja, claro, de cortinas. Foi naquele ambiente, enquanto cursava direito, que suas projeções de carreira começaram a mudar: em vez de se tornar advogado, investir na produção do acessório poderia ser uma boa ideia.
“Naquela época, começo dos anos 1990, os produtos eram muito simples”, recorda Baby. “Comecei a produzir primeiro os complementos, como ilhoses e varões, e revender para o mercado. Enquanto isso, mantinha meu emprego na loja.” Nesse meio tempo, as cortinas “corta-luz” – também conhecidas como blackout – surgiram no Brasil, abrindo novas oportunidades de negócio. Rapidamente, Baby comprou os materiais e começou a produzir com foco na nova tendência. “Descobrimos uma fita para facilitar a costura, o que deixava o processo muito mais prático. Em cerca de um ano, a demanda pelo produto cresceu tanto que eu deixei meu emprego e foquei na minha própria empresa.”
Criada no Vale do Itajaí, em Santa Catarina, a Bella Janela Cortinas e Tecidos – como foi batizada – focou, em seguida, na expansão para o Sudeste do país. “Esse foi nosso pontapé inicial. Era uma cortina bonita, com preço acessível e que controlava a luminosidade. A partir da aceitação do mercado, começamos a testar forros, fios e tecidos diferentes, buscando excelência”, revela.
Aos 28 anos, Baby virou empreendedor. Uma possibilidade que, até então, não tinha passado pela sua cabeça – muito menos pela de sua família, que não se arriscava no mundo dos negócios. “Ainda estou querendo descobrir a minha origem”, brinca ele. “Mas, por causa dessa característica conservadora, eu aprendi a caminhar lentamente. Construir tudo passo a passo, com cautela.” Talvez tenha sido por conta desse aprendizado que, quase 30 anos depois, a Bella Janela continua crescendo.
Em 2020, a empresa registrou R$ 246 milhões em faturamento. Este ano, com o investimento em um novo parque fabril, que ocupará uma área total de 100 mil metros quadrados, a expectativa é chegar à marca de R$ 350 milhões. O novo espaço vai se juntar à capacidade produtiva da companhia, que possui duas plantas na cidade de Blumenau, uma em Anita Garibaldi e outra em Lages.
OS PRÓXIMOS 30 ANOS
Com 950 funcionários e aproximadamente 500 empregos indiretos, a Bella Janela está no meio da execução de um plano estratégico para a expansão de seus negócios. Com três pilares principais, a ideia é estruturar novos canais de vendas – já são mais de 5.000 pontos de venda -, abrir lojas físicas e atingir outros nichos do mercado nacional. Recentemente, adquiriu a Tapecol, empresa de tecidos focada em estofados, cortinas e tapetes, além de lançar a marca Vitalícia, voltada para acessórios de decoração para casa. Tudo isso para um objetivo muito maior no final: dobrar o faturamento da empresa até 2025.
Segundo o empreendedor, esse sonho está cada vez mais perto graças ao aquecimento do mercado de decoração e construção civil no Brasil. O isolamento social, em decorrência ao período pandêmico, fez o consumidor priorizar o cuidado com o lar, impulsionando o segmento de moda casa. “A procura por itens domésticos aumentou muito na pandemia. Algumas pessoas colocavam lençol na janela. Quando começaram a passar mais tempo em casa, aquilo começou a incomodar”, explica. “Colocar uma cortina é barato e faz uma diferença enorme no ambiente da casa.”
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Esse cuidado, que muitas pessoas só começaram a nutrir durante o isolamento social, foi o insight que Baby teve, há 28 anos, quando criou a empresa. Para ele, é exatamente essa visão que os futuros empreendedores precisam buscar na hora de abrir um negócio próprio. “Quando eu era criança, achava que podia ser tudo na vida. Na época do vestibular, descobri o quanto era difícil fazer o mínimo que eu desejava. Não é fácil, mas as coisas fluem quando tentamos ao máximo”, destaca.
Para quem quer seguir caminho no empreendedorismo, a dica de Baby é começar fazendo algumas perguntas a si mesmo. “A ideia tem viabilidade? Já existe no mercado? Essa é a base de tudo”, explica ele. Mas, mais importante do que tudo isso, é acreditar no projeto. “O sonho do fundador da Ford era colocar um carro em cada garagem. Nosso sonho é colocar uma cortina em cada janela.”
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