A pandemia do novo coronavírus e o impacto da morte de cerca de 500 mil pessoas no Brasil em menos de um ano e meio, e acometidas pela mesma doença, têm provocado reflexões que devem gerar mudanças culturais em toda a sociedade. Um aspecto que vem chamando a atenção até de especialistas é a crescente procura por apólices de seguro de vida pelos brasileiros em geral, especialmente entre os mais jovens. Em 2020, segundo dados da FenaPrevi (Federação Nacional de Previdência Privada e Vida), as vendas individuais de seguro de vida foram 26,2% maiores que no ano anterior. E no primeiro trimestre de 2021 já se observa um crescimento ainda maior: 28,8% na comparação com o mesmo período de 2020.
Na seguradora Zurich, uma das líderes do setor, 47% das vendas este ano foram para pessoas com 40 anos ou menos. Outras empresas do segmento também constataram o interesse cada vez maior dos jovens por esse tipo de proteção. “De janeiro a março, registramos um crescimento de 36% na contratação de jovens com até 30 anos em comparação a 2020. Esse é um público que, em geral, era menos propenso a fazer planos para proteger a renda e a família”, afirma Helder Molina, CEO da MAG Seguros.
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Apesar de, por contrato, pandemias e epidemias serem riscos excluídos das apólices, ou seja, sem cobertura, as seguradoras de vida decidiram indenizar as mortes por Covid-19 desde o início da pandemia, em razão do impacto social envolvido. Essa flexibilização demonstra bem como as empresas do setor evoluíram para tornar o seguro de vida mais atraente para o brasileiro. “A principal mudança está em desenvolver um ‘seguro para a vida’, com benefícios que o segurado pode utilizar agora, que promova qualidade de vida e segurança financeira em eventualidades que não precisam, necessariamente, chegar a morte”, avalia Beto Trindade, fundador e CEO da empresa de seguro de vida por assinatura Easy2Life.
Entre as coberturas mais procuradas estão as voltadas à sobrevivência e ao impacto de renda em razão de problemas com a saúde, como diária por incapacidade temporária, doenças graves, cirurgias e diária por internação hospitalar, mas o cardápio pode ser ainda mais variado com serviços e assistências adicionais, que incluem desde serviços para deixar a residência do segurado mais segura até atendimento médico e psicológico por telemedicina.
“Além de proporcionar a proteção financeira das pessoas, queremos ajudá-las a alcançar a qualidade de vida necessária para a longevidade. Ainda mais nesse momento de pandemia, manter a mente, o corpo e as finanças saudáveis é fundamental”, destaca David Legher, CEO da Prudential do Brasil, que lançou em junho, em parceria com o Vitality Group, a maior plataforma de mudança comportamental do mundo, um programa específico para seus segurados voltado ao estímulo de hábitos saudáveis e à adoção de cuidados e atividades físicas regulares, recompensadas a partir de metas semanais alcançadas ao longo do tempo.
Mais que indenizar pela morte, a nova proposta do seguro de vida é contribuir para prolongar a vida. Um conceito que entende a qualidade de vida de forma ampla, incluindo saúde física, mental e financeira. A Zurich acaba de lançar produto flexível, no qual o cliente escolhe até 15 coberturas e 17 assistências customizáveis para uso em vida, o capital segurado pode chegar a R$ 5 milhões e, detalhe, a tradicional cobertura de morte e invalidez nem é obrigatória.
“Hoje, apenas duas em cada dez pessoas possuem um seguro de vida, e, das que possuem, parte considerável não conta com proteção apropriada ao seu perfil”, afirma Fabiano Lima, diretor de Vida, Previdência e Capitalização da Zurich no Brasil. “O que fizemos foi tirar o ‘segurês’ (linguagem técnica) da conversa e utilizar a necessidade do cliente como input. Para isso, desenvolvemos uma ferramenta que, em menos de 3 minutos, faz o diagnóstico da vida financeira do cliente e recomenda a cobertura mais adequada.”
Raphael de Carvalho, CEO da MetLife Brasil e Colômbia, ressalta que mesmo antes da pandemia o setor já via a necessidade de incentivar a digitalização e impulsionar a inovação. “Passamos a olhar com mais atenção para a tecnologia e apostamos em iniciativas como a contratação do seguro de vida através de reconhecimento facial e a abertura de processos e solicitações 100% digitais, que trouxeram mais agilidade para o atendimento dos clientes. A tendência é continuarmos criando e desenvolvendo produtos e serviços que atendam às necessidades de todo o ecossistema, por meio de tecnologia, simplificação e humanização”, diz. “O mercado de assistência 24h sempre foi muito concentrado em assistências para veículos e residências, mas nos últimos anos as assistências a pessoas têm aumentado com uma demanda cada vez mais crescente”, concorda Marcelo Di Palma, CEO da IGS Brasil Assistência 24h.
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Esse olhar mais atento às necessidades do potencial cliente ampliou a cobertura da tradicional assistência funeral e abriu possibilidade para inclusão de pai, mãe, sogro e sogra. Uma necessidade detectada já na primeira fase de pandemia, quando os mais jovens tiveram de lidar com o falecimento dos parentes mais velhos e muitos estavam despreparados financeiramente para os trâmites do enterro.
Além do individual, outras modalidades de seguro de vida também apresentam crescimento nas vendas. Especialista em seguros para pequenas e médias empresas e para microempreendedores, a Capemisa viu essa carteira crescer 22% em 2020. “A pandemia despertou nas pessoas um gatilho emocional, diante da vulnerabilidade da vida, e expôs a necessidade de proteção às famílias. O que todos querem é sentir-se mais seguros”, constata Jorge Andrade, presidente da seguradora.
Reportagem publicada na edição 88, lançada em junho de 2021.
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