A taxa de juros norte-americana tem sido tema recorrente no noticiário econômico e, certamente, você deve estar se perguntando como isso afeta os seus investimentos.
A economia dos Estados Unidos sempre impacta fortemente o comportamento dos mercados no mundo inteiro, e, aqui no Brasil, esse impacto tende a ser ainda maior, principalmente neste ano que já sabemos que será de grande volatilidade por influência de fatores macroeconômicos internos.
O que está ocorrendo é que, mesmo em um cenário de alta da inflação, o consumo interno norte-americano não está desacelerando. Em dezembro de 2021, a inflação acumulada de 12 meses nos Estados Unidos foi de 7%, o mais alto percentual desde 1982, ficando cinco pontos percentuais acima da meta do Federal Reserve (Fed), o banco central dos EUA.
O fato é que a inflação norte-americana vem subindo há vários meses, pressionada pela alta de preços ao consumidor. Essa alta é reflexo direto da pandemia, que impôs fortes restrições à cadeia de suprimentos e, por outro lado, obrigou o Fed a adotar medidas emergenciais como o corte da taxa de juros e a injeção de quase US$ 2 trilhões na economia.
As medidas que evitaram o colapso são também as responsáveis pela inflação mais alta que os Estados Unidos teve nos últimos 40 anos e que ocupará as pautas das reuniões do Fed em 2022.
Com isso, analistas do Citibank, JP Morgan e Goldman Sachs já atualizaram suas projeções de juros futuros. A expectativa do mercado é que, ao longo de 2022, o banco central dos EUA suba a taxa de juros em 0,25 ponto percentual três ou quatro vezes, chegando ao final do ano com 1% de aumento.
Esse tipo de medida reduz a atividade econômica e torna os títulos do tesouro americano mais atraentes, levando os investidores a migrarem para esse tipo de investimento, considerado um dos mais seguros do mundo.
O impacto na nossa economia
Em momentos de alta da taxa de juros nos Estados Unidos, o movimento de aversão ao risco acontece também por aqui. Ou seja, o dinheiro do investidor internacional sai da Bolsa de Valores brasileira e volta para os EUA. Com isso, temos quedas na Bolsa e dólar valorizado frente ao real.
Se esse fluxo se torna muito intenso, o país também precisa aumentar sua taxa de juros para conter a sangria migratória e reter investimentos no país.
Tal medida já é tida como certa pelo mercado, vide o Boletim Focus desta semana, em que a projeção da taxa Selic para o final de 2022 subiu para 11,75%, ficando 0,25 acima da projeção anterior.
Manter os títulos de dívida pública brasileira atrativos aos investidores estrangeiros, bem como impedir que a nossa moeda se desvalorize demais e a inflação dispare, é um dos grandes desafios da equipe econômica do governo para 2022.
O cenário é complexo. O Banco Central divulgou esta semana a carta aberta enviada pelo seu presidente, Roberto Campos Neto, ao ministro Paulo Guedes, em que, além das explicações quanto às causas do descumprimento da meta de inflação em 2021, foram apresentadas também as providências para controle da inflação e retorno à meta em 2022.
No documento, o Banco Central reafirmou sua intenção de continuar calibrando a taxa Selic e previu que as medidas que vêm sendo tomadas comecem a surtir efeito ainda no início de 2022.
O BC ressalta, porém, que em 2022 a inflação continuará superior à meta, mas dentro do intervalo de tolerância.
Como o pequeno investidor pode se proteger
Definitivamente, 2022 não será um ano fácil e o seu desafio, como pequeno investidor, é avaliar se sua estratégia de investimentos está alinhada ao prazo que o dinheiro permanecerá investido. Essa correlação irá ajudá-lo a definir se mantém o plano traçado ou se faz ajustes pontuais para proteção da carteira, ou, ainda, para o seu rebalanceamento.
Com a Bolsa de Valores em queda, inúmeras empresas de qualidade estão com valor de mercado igual ou inferior ao seu valor patrimonial. Para o investidor de longo prazo, é a oportunidade de tornar-se acionista de grandes companhias.
Neste momento, empresas perenes e boas pagadoras de dividendos são o porto seguro do investidor em renda variável.
Por outro lado, os mais conservadores e avessos ao risco têm nos investimentos pós-fixados – como o CDI – uma possibilidade de proteção. Contudo, esse tipo de investimento requer uma avaliação ainda mais cuidadosa das tendências da nossa economia versus o prazo do investimento.
Como ainda teremos muitos acontecimentos relevantes, tanto no âmbito da política monetária e fiscal quanto na esfera política, com grande volatilidade no período pré-eleitoral, também recomendo que você faça sua reserva de oportunidade.
Sendo assim, mantenha uma parte do dinheiro dos aportes em algum fundo com liquidez diária, para comprar ativos alinhados às suas metas de médio e longo prazo e que estejam descontados nos próximos meses.
Em geral, ter 20% a 30% do dinheiro em reserva de oportunidade pode ser uma excelente estratégia tanto de proteção quanto de crescimento patrimonial, pois as ações de boas empresas que você conseguir comprar durante o período de baixa irão turbinar seus ganhos no próximo ciclo.
E lembre-se sempre: reserva de oportunidade é algo que você irá fazer somente se já tiver sua reserva de emergência montada. Afinal, por mais que seja importante aproveitar as boas oportunidades de investimento que a Bolsa em baixa propicia, há uma hierarquia no seu plano financeiro que precisa ser respeitada e a reserva de emergência está na base da sua construção de patrimônio.
O fundamental ao pequeno investidor é não tentar ficar adivinhando os movimentos da economia. É a disciplina de investir todos os meses que fará a real diferença em seus resultados.
Investir mensalmente possibilita que você pegue momentos de alta e de baixa. Numa linha de longo prazo, esse preço médio será muito mais relevante na construção de patrimônio do que ficar tentando acertar o momento exato de entradas e saídas.
O cenário fiscal e econômico é desafiador e as variáveis políticas terão muito peso no curto prazo. Portanto, mais do que nunca, a diversificação e o planejamento de longo prazo serão seus grandes aliados. Tenha sempre em mente que os ciclos econômicos devem nortear apenas pequenos ajustes de rota e não o seu planejamento original.
Eduardo Mira é formado em telecomunicações, com pós-graduação em pedagogia empresarial e MBA em gestão de investimento. É analista CNPI, certificado CPA10 e CPA20, ex-gerente do Banco do Brasil e da corretora Modal.
Os artigos assinados são de responsabilidade exclusiva dos autores e não refletem, necessariamente, a opinião de Forbes Brasil e de seus editores.