O movimento de venda que empurrou os principais índices dos Estados Unidos para o vermelho já dura uma semana, mas bancos de investimentos alertam seus clientes de que o pior ainda pode estar por vir.
Alguns especialistas estimam que o índice S&P 500 poderá seguir em queda se os balanços corporativos continuarem a decepcionar. A conjuntura é agravada pela perspectiva de o Federal Reserve, o banco central norte-americano, começar a aumentar as taxas de juros mais cedo do que o esperado.
Ontem (24), sob o impacto do quinto dia consecutivo de perdas no setor de tecnologia, o S&P 500 abriu em queda de mais de 3%, mas inverteu o sentido fechou em alta de 0,28%, a 4.410 pontos. Ainda assim, o índice acumula perdas de quase 8% no ano.
Um início “decepcionante” da temporada de balanços do quarto trimestre de 2021 pode significar problemas para as ações este ano, escreveu David Kostin, do Goldman Sachs, em nota na segunda-feira.
O economista prevê que o S&P pode cair até 11% em relação ao fechamento de sexta-feira (21), para a faixa de 3.900 pontos, se juros mais altos e a redução dos estímulos econômicos do Fed empurrarem os lucros corporativos anuais para uma queda de 4%.
Michael Wilson, do Morgan Stanley, adotou um tom semelhante e disse aos clientes na segunda que “se protejam por mais alguns meses” em um cenário que tem como principais preocupações do mercado o crescimento lento dos lucros e a incerteza da política monetária dos EUA.
“É muito cedo para ser otimista”, diz Wilson, alertando que o S&P pode cair mais 10%. Para ele, as “partes mais especulativas” do mercado foram as mais atingidas, com empresas como a Peloton caindo 75% em seis meses.
Depois que o Fed aumentar as taxas de juros e a inflação cair, Wilson diz que vê com “mais pessimismo” os setores de bens de consumo, vestuário e ações relacionadas à habitação que se beneficiaram do aumento dos preços.
Kostin diz que algum tipo de catalisador – como uma desaceleração da inflação – será necessário para conter a ampla liquidação do mercado, mas os economistas do Goldman não esperam que os preços comecem a recuar até o segundo trimestre. Outros catalisadores potenciais incluem uma temporada de lucros “extremamente forte” ou uma nova decisão de política do Fed.
“O inverno chegou, e os danos sob a superfície foram enormes e até catastróficos para as ações de muitas empresas”, disse Wilson. “O Fed leva a sério o combate à inflação e é improvável que se torne dovish [inclinado a baixar os juros] em breve, dada a gravidade dessas ameaças econômicas e o apoio político para agir.”
Porém, nem todos estão pessimistas com o cenário de curto prazo do mercado. Em comentários enviados por e-mail na segunda-feira, Frank Panayotou, diretor administrativo da UBS Private Wealth Management, disse que a queda nos preços das ações este ano “parece exagerada e representa uma oportunidade de compra para investidores de longo prazo”.
Ele aponta que, historicamente, as bolsas têm um bom desempenho nos meses que antecedem a primeira alta de juros do Fed, mas adverte que os mercados estarão mais voláteis do que o normal.
“Os investidores precisam estar preparados para uma maior volatilidade e retornos mais moderados do que os que vimos nos últimos anos”, disse ele.
Uma série de eventos certamente testará o mercado esta semana. Na quarta-feira (26), espera-se que o Fed sinalize quando começará a aumentar as taxas de juros. Além disso, grandes empresas de tecnologia, como Apple, Microsoft e Tesla, começam a divulgar os resultados do quarto trimestre hoje.
O Fed provocou uma ampla liquidação neste mês depois que anunciou que iria reverter, mais rapidamente do que o aguardado pelos investidores, a política de estímulos monetários adotada durante a pandemia – um esforço para combater a inflação crescente.
Um início de temporada de balanços que trouxeram resultados abaixo do esperado intensificou o revés no mercado. As ações da Netflix, por exemplo, caíram 22% na sexta-feira (21) depois que a empresa reportou uma desaceleração no crescimento de assinantes.
Embora as autoridades do Fed tenham dito no mês passado que projetam apenas três aumentos nas taxas de juros este ano, o economista-chefe do Goldman Sachs, Jan Hatzius, disse ontem que espera quatro reajustes este ano (começando a partir de março), devido a um “maior senso de urgência” da autoridade monetária.