O preço do bitcoin caiu abaixo de US$ 40 mil pela primeira vez em duas semanas ontem (18), pressionado pela ameaça de uma invasão russa na Ucrânia. Alguns analistas afirmam que a recente fraqueza do mercado de criptomoedas não diminuirá até que as tensões sejam resolvidas, e podem inclusive piorar em meio à inflação crescente nos EUA.
A criptomoeda mais valiosa do mundo chegou a cair 5% na manhã de sexta, para cerca de US$ 39.791,00 às 13h do horário de Brasília, seu preço mais baixo desde 4 de fevereiro. Outros ativos importantes também recuaram, como o ether e o solana, que cederam cerca de 6% cada.
Em um email a investidores, o analista Marcus Sotiriou, da corretora de criptomoedas GlobalBlock, atribuiu as perdas ao aumento das tensões na Europa. Na quinta (17), o presidente dos EUA, Joe Biden, disse a repórteres que “todos os indícios” apontam para uma invasão da Rússia nos “próximos dias”, o que desencadeou uma liquidação que fez os principais índices de Wall Street recuarem cerca de 2%.
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O analista de criptomoedas Yuya Hasegawa, da exchange japonesa Bitbank, se mostrou levemente otimista em relação ao curto prazo, dizendo que o bitcoin se manteve acima de US$ 39.650,00 por tempo suficiente para não ser abalado pela escalada de tensões.
Ele alertou, porém, que a situação na fronteira era apenas um dos vários eventos que certamente testarão o preço do bitcoin nas próximas semanas.
Hasegawa, um dos analistas que mais demonstrou preocupação com a criptomoeda, apontou a possibilidade de o Federal Reserve, banco central norte-americano, aumentar as taxas de juros em 50 pontos-base no próximo mês (mais do que a alta de 25 pontos-base amplamente esperada).
O reajuste maior se tornou mais provável depois que o presidente do Fed de St. Louis, James Bullard, alertou na semana passada que a inflação “poderia sair do controle”.
Os dados de inflação e o relatório de empregos de janeiro nas próximas semanas também podem gerar perdas, disse Hasegawa, principalmente se o Departamento de Trabalho informar outra leitura de inflação acima do esperado, o que poderia pressionar as autoridades a aumentar as taxas agressivamente para ajudar a combater os preços.
Eli Ndinga, líder de pesquisa da emissora de criptomoedas Amun, expressou opinião similar em um email, dizendo que os recentes relatórios de inflação “instilaram temores de que a economia dos EUA possa estar caminhando para uma recessão” enquanto o Fed reverte as medidas de estímulo da era da pandemia.
“É seguro dizer que, dependendo especialmente dos dados de inflação, o pior pode estar à nossa frente. Mesmo que o preço [do bitcoin] se recupere no curto prazo, a sua valorização permanecerá limitada, a não ser que a Rússia mostre sinais de recuo”, disse Hasegawa.
A crescente adoção institucional e preocupações inflacionárias ajudaram a elevar as criptomoedas a novas máximas durante a pandemia, mas o mercado azedou desde então.
A inflação, que vem subindo há meses no ritmo mais rápido desde 1982, levou as autoridades do Fed a reverter sua política da era da pandemia mais rapidamente do que os economistas esperavam.
“Isso coloca classes de ativos de risco, como criptomoedas e ações de tecnologia, em uma situação desafiadora”, diz Ndinga.
O valor de mercado das criptomoedas caiu mais de 33%, para US$ 1,9 trilhão, desde que atingiu uma alta histórica de US$ 3 trilhões em novembro. A perdas chegaram a cerca de US$ 180 bilhões em meio às crescentes tensões entre a Rússia e a Ucrânia nesta semana.
A próxima reunião de política monetária do Fed termina em 17 de março, quando as autoridades devem anunciar se – e quanto – aumentarão as taxas de juros.
Apesar da recente fraqueza dos preços, as instituições financeiras tradicionais continuam expandindo sua exposição às criptomoedas. Na quinta, a famosa firma de capital de risco Sequoia Capital anunciou que lançou um fundo focado em criptomoedas com valores entre US$ 500 milhões e US$ 600 milhões.
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