O COE (Certificado de Operações Estruturadas) é um produto de investimento lançado há poucos anos no Brasil que permite a exposição simultânea ao mercado de renda fixa e de renda variável. Ele é considerado uma “versão brasileira” das notas estruturadas, muito populares nos mercados norte-americano e europeu.
Segundo analistas consultados pela Forbes, esse instrumento é indicado principalmente para investidores que buscam uma rentabilidade elevada através da diversificação da carteira.
Como funciona o COE?
O COE é um título que pode ser emitido apenas por bancos. A sua premissa básica é simplificar a exposição do investidor a diferentes mercados e ativos – afinal, tudo está sintetizado em apenas um papel.
“Se o indivíduo fosse comprar separadamente cada um dos ativos incluídos, ele teria vários obstáculos, ou vários sistemas diferentes de controle para cada um deles”, explica André Campos, responsável pela mesa de operações estruturadas da Ativa Investimentos.
Esse instrumento pode ser estruturado a partir de diversos ativos ou indexadores, como ações, moedas, ouro, juros, commodities, índices de inflação e índices de ações negociadas no Brasil e em bolsas estrangeiras. É comum, inclusive, que alguns bancos comercializem esses títulos como “COE de tecnologia” ou “COE de commodities”, no caso de apresentarem maior exposição a esses setores.
Ao contrário dos fundos de investimentos, o COE não conta com a gestão ativa de um profissional, embora seja estruturado com uma visão estratégica em mente.
“Nós buscamos montar os COEs olhando o contexto econômico atual do país”, diz Luciano Diaferia, superintendente de produtos global markets e treasury do Itaú BBA. “Avaliamos como estão os indicadores e tentamos colocar as estruturas que sejam mais adequadas para o momento.”
O valor mínimo de investimento no COE depende de cada emissão, mas geralmente varia entre R$ 1 mil e R$ 10 mil. Ele apresenta uma data de vencimento pré-estabelecida, e, no momento do aporte, o investidor é informado de uma série de cenários diferentes de ganhos e perdas.
Ou seja, ao contrário dos investimentos de renda fixa, não há garantia de rentabilidade mesmo se o título for mantido até o vencimento.
Todas as informações relevantes sobre o título ficam reunidas no DIE (Documento de Informações Essenciais), que apresenta as características da operação e os detalhes sobre os riscos do produto. O documento é de leitura obrigatória para o investidor.
Dois tipos de COEs
Existem duas modalidades de COEs disponíveis no mercado.
A primeira delas é o COE de valor nominal protegido. Nela, o investidor tem a garantia de receber de volta pelo menos o valor que investiu inicialmente. Essa é a modalidade mais indicada para os investidores avessos ao risco ou com menos experiência no mercado financeiro.
“No Brasil, quase a totalidade dos COEs são de capital protegido”, afirma Diaferia. “Nós ainda temos um mercado que está aprendendo sobre o produto.”
Em troca da proteção, porém, alguns COEs podem limitar os ganhos dos investidores, não repassando integralmente a rentabilidade registrada pelo ativo de referência.
A outra modalidade é o COE de valor nominal em risco. Aqui, não há nenhuma garantia, e o investidor corre pode perder todo o capital que foi inicialmente investido. Como ocorre na maioria dos investimentos com risco elevado, o potencial de retorno também é maior.
Quais as vantagens e os demais riscos envolvidos?
Uma das principais vantagens do investimento em COEs é o fácil acesso a ativos considerados “complexos”. Um investidor que deseja possuir ações norte-americanas, por exemplo, não precisa lidar com a burocracia de abrir conta em uma corretora estrangeira e enviar dinheiro para fora; ele pode apenas fazer um investimento local e receber um retorno atrelado a essas ações.
Outra vantagem é a flexibilidade. Os COEs são estruturados em linha com estratégias diferentes: uns beneficiam o investidor nos casos em que o mercado está em alta, outros garantem ganhos principalmente nos períodos de baixa, e há aqueles que proporcionam ganhos nos dois casos.
Por isso, os títulos podem atender a perfis diferentes de investidores.
Campos, porém, faz uma ressalva: “Eu não sou fã daqueles COEs que colocam cinco ativos, e se dois baterem um determinado preço você ganha, e se três baterem um outro preço você não ganha. Para mim, às vezes, a simplicidade é a melhor estratégia.”
Outro ponto positivo do produto é o fato de que todos os ativos contidos no COE podem ser acompanhados juntos. Isso facilita, inclusive, na hora de declarar o Imposto de Renda, já que apenas uma alíquota é aplicada ao conjunto inteiro (vale a mesma tabela da renda fixa, com valores que diminuem de acordo com o prazo do investimento).
Já os riscos estão atrelados, por exemplo, ao risco de crédito do banco emissor. Se o banco quebrar, ou passar por algum período de dificuldade, o investidor pode ser vítima de um calote. É preciso observar que o COE não é coberto pelo FGC (Fundo Garantidor de Créditos), como ocorre na maioria dos investimentos de renda fixa.
Também há o risco de liquidez – ou seja, pode acontecer de o investidor não conseguir resgatar seu investimento rapidamente.
Os COEs, em geral, são emitidos com prazos de pelo menos um ano, embora muitos cheguem a cinco anos. “Um investidor que precisa utilizar o dinheiro do investimento daqui a três meses, por exemplo, não vai conseguir se encaixar na proposta do COE”, afirma Diaferia.
Outro risco é o custo de oportunidade, especialmente na modalidade de valor nominal protegido. Afinal, se o título não registrar ganhos e o investidor apenas recuperar o seu investimento inicial, ele terá perdido todos os anos de ganhos que poderia ter tido com outro produto.
Vale a pena investir em COE?
Antes de tomar uma decisão de investimento, Campos afirma que é necessário avaliar o atual cenário de juros altos.
“Neste momento em que a taxa Selic beneficia a renda fixa, os investidores têm dificuldade de optar por um produto que pode oferecer mais ganhos, mas sem garantia total. Se eu decidir ficar dois anos em um investimento sem ganhar juros, ele precisa subir 22% nesse período para fazer sentido”, explica ele.
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Por outro lado, o analista argumenta que a diversificação proporcionada pelos COEs os tornam um produto bastante atrativo. Para ele, esses títulos são indicados principalmente para os investidores que apresentam perfis moderados e arrojados, e que estão dispostos a lidar com o risco de crédito do banco, por exemplo.
Para Diaferia, a procura por COEs tem aumentado e o produto tem um grande espaço para crescer dentro do mercado financeiro brasileiro. “O COE não completou nem dez anos de mercado e ainda é bem pequeno em comparação com outros investimentos. Mas sempre há novos investidores aprendendo e conhecendo, além daqueles que já tiveram uma experiência positiva e que voltam a investir.”