Investidores brasileiros que desejam encontrar uma fonte de renda passiva e, ao mesmo tempo, obter exposição ao mercado norte-americano, podem optar por investimentos que pagam dividendos em dólar. A lógica por trás da distribuição desses proventos é igual à do Brasil, embora a tributação siga regras próprias.
BDRs
A maneira mais fácil de receber dividendos em dólar a partir do Brasil é com a compra de BDRs (Brazilian Depositary Receipts), papéis que representam ações de empresas que são negociadas nas bolsas internacionais.
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Esses recibos são negociados na B3 e, quando as empresas internacionais distribuem seus lucros, os investidores brasileiros recebem os proventos diretamente na conta da corretora.
É preciso notar, porém, que o valor não é creditado em dólares, e sim em reais, considerando o câmbio do dia. Além disso, os BDRs nem sempre possuem uma paridade de um para um com as ações estrangeiras – ou seja, não necessariamente um BDR corresponde a uma ação.
O McDonald’s (MCDC34), por exemplo, é uma das empresas norte-americanas que costumam distribuir dividendos. O último pagamento ocorreu em março: foram pagos R$ 0,25 por BDR. Para ter o equivalente a uma ação norte-americana (MCD, na Bolsa de Valores de Nova York), contudo, o investidor brasileiro precisaria ter 20 BDRs.
É por isso que o valor em dólares dos dividendos anunciados originalmente pela empresa, que muitas vezes excede US$ 1, nem sempre se traduz de forma direta para os valores recebidos pelo investidor que possui BDRs.
Proventos são tributados
“No Brasil, os dividendos recebidos pela pessoa física têm isenção fiscal desde 1996”, explica Antônio Sanches, analista de investimentos da Rico Investimentos. “Já para a tributação de dividendos dos BDRs, valores até R$ 1.903,98 são isentos, e aqueles que superam esse patamar são tributados de acordo com a tabela progressiva do Imposto de Renda.”
Nos Estados Unidos, há retenção de 30% do valor dos dividendos na fonte.
Fundos e compra direta de ações
Também é possível receber dividendos em dólares atuando de maneira direta no mercado acionário dos Estados Unidos. Para fazer isso, é necessário abrir uma conta em uma corretora norte-americana.
“Muitos investidores optam por esse caminho, mas ele é um pouco mais burocrático para a pessoa física, além de custar mais caro por causa dos custos de remessa internacional e abertura de conta”, comenta Sanches.
Ao abrir conta em uma corretora norte-americana, porém, o investidor passa a ter acesso a uma maior diversidade de produtos, como os ETFs (fundos de índices), que nos Estados Unidos podem distribuir dividendos, ao contrário do que ocorre no Brasil.
O Vanguard High Dividend Yield (VYM) é um dos ETFs que têm como foco abranger empresas que pagam dividendos robustos. Na sua carteira, estão ações como Johnson & Johnson (JNJ), JPMorgan Chase & Co. (JPM) e Home Depot (HM). Os últimos dividendos distribuídos pelo fundo foram de US$ 0,66 (R$ 3,1) por cota.
Rodrigo Beresca, analista de soluções financeiras da Ativa Investimentos, também cita os REITs (Real Estate Investment Trusts), os fundos imobiliários dos Estados Unidos, que costumam distribuir bons dividendos mensalmente. É o caso do Realty Income Corporation (O), cujos últimos dividendos foram de US$ 0,24 (R$ 1,12) por cota.
“Há também produtos da renda fixa que fazem a distribuição de proventos, como os títulos do governo norte-americano, que pagam cupons semestrais”, acrescenta.
Outra opção para quem tem conta em uma corretora norte-americana é comprar diretamente as ações das empresas listadas nas bolsas dos Estados Unidos.
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Nesse caso, o investidor deve ficar atento a dois aspectos principais: o primeiro é que as ações norte-americanas costumam ter preços muito mais elevados do que as ações brasileiras. As ações do McDonald’s (MCD), por exemplo, custam quase US$ 250 (R$ 1.175) atualmente, ao passo que os BDRs (MCDC34) custam aproximadamente R$ 59.
O segundo é que nem todas as empresas norte-americanas distribuem dividendos. Muitas das big techs, como Amazon, Uber e Facebook, por exemplo, nunca pagaram esses proventos, já que elas reinvestem o lucro no crescimento da própria empresa.
Por isso, é necessário escolher bem em qual papel investir. Sanches cita Walmart (WMT), Coca-Cola (KO), 3M (MMM), PepsiCo (PEP), Procter & Gamble (PG) e Lowe’s (LOW) como algumas das boas pagadoras de dividendos dos últimos anos. Antes de incluir uma empresa em seu portfólio, é importante que o investidor analise as informações financeiras e os planos do negócio, além de avaliar se a companhia atende aos critérios de sua estratégia de investimento.
Considerações
Segundo os analistas, o recebimento de dividendos em dólares pode apresentar desvantagens por conta da tributação envolvida, assim como pelo risco que o investidor corre ao entrar em um mercado que ele talvez não conheça tão bem.
“O investidor pode ficar desamparado caso ele não conheça a fundo as empresas em que está investindo, e pode acabar perdendo dinheiro com a desvalorização da empresa”, explica Sanches.
Por outro lado, as vantagens residem principalmente na exposição cambial e na diversificação da carteira: “Conforme a valorização do dólar acontece a longo prazo, você ganha dinheiro junto. Além disso, é vantajoso obter exposição a empresas gigantescas que são líderes mundiais no setor delas”, diz ele.