O dólar tinha queda ante o real hoje, acompanhando melhora generalizada do sentimento nos mercados globais depois que uma leitura de inflação norte-americana, embora ainda alta, veio em linha com a expectativa de analistas.
O índice de preços ao consumidor dos Estados Unidos saltou 1,2% no mês passado, maior alta mensal desde setembro de 2005, informou o Departamento do Trabalho nesta terça-feira. Nos 12 meses até março, os preços subiram 8,5% nos EUA, maior avanço nessa base de comparação desde dezembro de 1981.
O número ainda coloca em evidência a situação inflacionária desafiadora enfrentada pelo banco central dos EUA, o Federal Reserve, mas o fato de ter vindo em linha com as projeções de analistas parecia aliviar o sentimento global nesta manhã. Economistas consultados pela Reuters estimavam alta de 1,2% em março e de 8,4% na comparação anual.
A moeda norte-americana negociada no mercado local aprofundou as perdas logo após a divulgação dos dados, em linha com uma inversão no sinal do índice do dólar contra uma cesta de rivais fortes para negativo. Além do real, outras moedas de países emergentes ou ligadas às commodities, como peso mexicano, peso chileno, rand sul-africano e dólar australiano, registravam apreciações expressivas contra o dólar.
Às 10:12 (de Brasília), o dólar à vista recuava 1,30%, a 4,6305 reais na venda.
Na B3, às 10:12 (de Brasília), o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento caía 1,33%, a 4,6520 reais.
Também houve melhora nos mercados de ações dos EUA, com os futuros dos principais índices de Wall Street passando a território positivo depois dos dados de inflação. Na renda fixa, os rendimentos dos Treasuries caíam com força, depois de a taxa de dez anos ter chegado a superar 2,8% mais cedo pela primeira vez desde 2018.
Dan Kawa, diretor de investimentos da TAG, disse que o dado de março “pode trazer algum alívio momentâneo/pontual aos mercados”, mas ressalvou que o aspecto qualitativo do indicador segue negativo, apontando para inflação cada vez mais espalhada nos EUA. “Não deveria mudar a cabeça do Fed em relação a acelerar o ritmo de normalização monetária”, acrescentou ele em postagem no Twitter.
Investidores têm monitorado os dados de inflação norte-americanos atentamente nos últimos meses, em busca de pistas sobre os próximos passos do Federal Reserve. Depois de elevar os juros no mês passado pela primeira vez desde 2018, em 0,25 ponto percentual, o banco central tem indicado que vai aumentar a dose do aperto monetário em sua próxima reunião, em maio, promovendo aumento de 0,5 ponto.
Isso tem ajudado a impulsionar os rendimentos dos títulos soberanos norte-americanos nas últimas semanas, o que consequentemente beneficiou o dólar, que recentemente superou a marca de 100 pela primeira vez em dois anos. Juros mais altos nos EUA tornam a renda fixa norte-americana –vista como extremamente segura– mais rentável.
Isso poderia levar, eventualmente, a fugas de capital de alguns mercados emergentes, como o Brasil, que têm se beneficiado no início deste ano de amplos diferenciais de juros em relação aos EUA. Por aqui, com a taxa Selic em 11,75% ao ano, o dólar já cai cerca de 17% frente ao real em 2022, com a moeda local –líder de desempenho no período– se destacando como opção atraente para estratégias de “carry trade”.
A alta generalizada das commodities desde o início da invasão da Ucrânia pela Rússia também tem sido apontada como um colchão tanto para o real quanto para as divisas de outros países exportadores de petróleo, bens agrícolas e metais, entre outros produtos.
O dólar spot fechou a última sessão em queda de 0,43%, a 4,6915 reais.