Por Camila Moreira
SÃO PAULO (Reuters) – A alta do IPCA-15 voltou a acelerar em junho e ficou acima do esperado sob o peso do reajuste dos planos de saúde, com a taxa acumulada em 12 meses permanecendo acima de 12%.
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo-15 (IPCA-15) registrou em junho alta de 0,69%, ante 0,59% no mês anterior, informou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta sexta-feira.
O dado mensal da prévia da inflação brasileira ficou acima da expectativa em pesquisa da Reuters de avanço de 0,62%.
O resultado levou o índice a acumular em 12 meses inflação de 12,04%, ainda quase 2,5 vezes o teto da meta oficial para a inflação este ano, que é de 3,5%, com margem de 1,5 ponto percentual para mais ou menos, medida pelo IPCA –já abandonada pelo Banco Central.
A leitura para o dado em 12 meses também ficou acima da expectativa, de um avanço de 11,98%.
“A inflação está agora não apenas muito elevada mas também altamente disseminada, com projeção de que permaneça acima de 10% até outubro de 2022 e acima de 8% até março de 2023”, disse Alberto Ramos, diretor de pesquisa econômica para a América Latina no Goldman Sachs.
O reajuste de até 15,5% dos planos de saúde acabou apagando o alívio proporcionado pela entrada em vigor da bandeira tarifária verde para as contas de energia.
Em junho, os custos dos planos de saúde saltaram 2,99%, exercendo o maior impacto individual sobre o IPCA-15 do mês e levando o grupo Saúde e cuidados pessoais a um avanço de 1,27% no mês.
Por outro lado, a alta dos preços do grupo Transportes desacelerou a 0,84% em junho, contra 1,80% em maio, graças à queda de 0,55% nos combustíveis, após avanço de 2,05% no mês anterior.
De acordo com o IBGE, embora o óleo diesel tenha subido 2,83%, o etanol e a gasolina caíram 4,41% e 0,27%, respectivamente.
Também tiveram queda os preços da energia elétrica, de 0,68%, devido à entrada em vigor a partir de 16 de abril da bandeira verde, em que não há cobrança adicional na conta de luz.
Ainda assim, o grupo Habitação deixou para trás a deflação de 3,85% de maio e passou a subir 0,66% em junho, puxado pelo aumento de 4,29% da taxa de água e esgoto.
A alta do grupo Alimentação e bebidas desacelerou a 0,25% em junho, contra 1,52% em maio, com os preços dos alimentos para consumo no domicílio apresentando variação positiva de 0,08%.
O Banco Central segue em sua batalha contra a inflação e na semana passada elevou a taxa básica de juros Selic em 0,5 ponto percentual, a 13,25% ao ano, seguindo a indicação de que reduziria a intensidade de seu ciclo de aperto monetário, mas disse que antevê um novo ajuste, de igual ou menor magnitude, na reunião de agosto.
“Apesar de estarmos vendo a inflação voltando para patamares um pouco mais baixos, ainda é uma composição muito ruim…e acaba mostrando persistência muito grande da inflação. O Banco Central vai precisar elevar os juros para 14,25% neste ano, para fazer com que traga a expectativa de inflação de 2023 para mais próximo da meta”, avaliou Laíz Carvalho, economista para Brasil do BNP Paribas, vendo mais duas altas de 0,5 ponto percentual na Selic, em agosto e setembro.
As mais recentes projeções do BC apontam para um IPCA de 8,8% ao final deste ano e de 4,0% em 2023, com a autoridade monetária já sinalizando que tentará levar a inflação a um patamar em torno da meta, não exatamente em cima do alvo.
A política monetária do BC está atualmente focada na inflação de 2023, e o presidente da autoridade monetária, Roberto Campos Neto, afirmou que, a partir de agosto, 2024 também entrará no chamado horizonte relevante do Banco Central.
(Edição de Eduardo Simões e Luana Maria Benedito)