A cada quatro anos, crianças (e alguns adultos) correm para as bancas de jornal para completar o álbum da Copa do Mundo. Durante algumas semanas, as figurinhas viram uma febre. Há até quem abdique da troca e passe a vender os exemplares à parte, por preços que podem chegar até R$ 5 mil se a imagem for do Neymar. Na quinta-feira (22), o governo argentino se reuniu com representantes da editora Panini, que produz o material, para tentar aliviar uma escassez de figurinhas. O exemplar com a imagem do atacante Lionel Messi chegou a ser oferecido no Mercado Libre argentino pelo equivalente em pesos a R$ 775,53.
Exageros à parte, o preço da brincadeira pode variar. Cada pacotinho custa R$ 4,00. Na Copa de 2018, esse preço era de R$ 2,00, o que mostra que colecionar ficou mais caro. Se fosse apenas para reajustar o valor pela inflação entre março de 2018 e agosto de 2022, que foi de 29,16%, as figurinhas produzidas pela Panini deveriam custar R$ 2,58. Procurada, a Panini não concedeu entrevista.
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Considerando esses números, um colecionador com muita sorte vai gastar R$ 548 no mínimo. Esse valor considera não só a edição mais simples do álbum e os 134 pacotes de figurinhas para conseguir as 670 imagens necessárias para torná-lo completo. Porém, é comum que os pacotes tragam figurinhas repetidas.
Aí vem a parte lúdica do processo, com os colecionadores trocando exemplares. A negociação compensa. Quem tiver pouca sorte (e não tiver paciência para trocar figurinhas com outros colecionadores) pode ter de gastar até R$ 9 mil para completar o álbum.
Educação financeira
Além de aproximar pais e filhos, a brincadeira de tentar obter todos os jogadores da Copa é uma oportunidade para ensinar os pequenos a lidar com dinheiro e apresentar alguns princípios da educação financeira.
Segundo Fernando Vargas, coordenador pedagógico da Conquista Solução Educacional, produtos como o álbum da Copa têm a ver com a relação entre desejo e necessidade. Esses são princípios essenciais para ensinar as pessoas a lidar com dinheiro, e devem ser trabalhados desde cedo. “Além de aprender a lidar com impulsos de compra, o processo de encontrar as figurinhas que faltam ensina a criança a ter objetivos, organização, responsabilidade e até generosidade”, diz Vargas.
Para ele, a tarefa vai além de apenas colar todas as imagens nas páginas. Também é uma vivência social. “Por meio das trocas e da negociação, as crianças desenvolvem competências socioemocionais importantes que estão ligados a uma vida financeira saudável”, diz ele. “Crianças capazes de lidar com suas frustrações e de negociar com os colegas serão adultos com menor propensão a fazer compras por impulso, por exemplo.”
Rodrigo Cohen, analista e professor da Escola de Investimentos, concorda. Para ele, nos casos em que a criança recebe uma mesada, o processo de preencher o álbum é uma boa oportunidade para mostrar que a poupança traz benefícios. “Se a criança recebe R$ 250 por mês para comer na escola, por exemplo, os pais podem ensinar aos filhos que eles podem escolher levar um lanche de casa e assim vai sobrar dinheiro para eles gastarem com outras coisas, como as figurinhas”, diz. “É bom começar a explicar para as crianças logo cedo que elas são donas de seus futuros e que uma vida regrada financeiramente traz benefícios”, acrescenta Cohen.
Para Vargas, o diálogo precisa vir acompanhado pelo exemplo. “Não adianta apenas explicar que essa brincadeira custa caro. É preciso envolver a criança no processo, estabelecendo objetivos e desenvolvendo estratégias junto dela para conquistar um prêmio, que é o álbum preenchido no fim do processo.”
Honestidade e ética
Outro benefício do álbum, diz Vargas, é a possibilidade de trabalhar a honestidade e a ética. na negociações. A criança pode ficar tentada a levar vantagem. “Nessas horas, os pais devem incentivar a criança a ser honesta com quem está negociando com elas.” Esse é um caminho de duas mãos. “Também é uma boa hora para ensinar os pequenos a lidar com quem tentar levar vantagem. Encontramos essas pessoas durante toda a vida”, diz Vargas.
Os pais podem aproveitar para ensinar as crianças a contornar essas situações e a se defender delas, exercitando a resiliência: “Prestar atenção a comportamentos suspeitos e não aceitar qualquer proposta, mesmo aquelas que parecem mais tentadoras, são efeitos colaterais desse exercício.”
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