Eu sou um ferrenho defensor do investimento em ações, e a razão é bem objetiva: não há alternativa melhor para multiplicação de patrimônio no longo prazo. A volatilidade é alta, contudo, o investimento em ações supera fortemente a inflação, e para comprovar, basta você traçar comparativos entre períodos.
Isso pode ser feito facilmente acessando o site da B3, onde você tem acesso a todas as informações sobre a variação da bolsa desde o seu início, e a calculadora do IBGE, que permite atualizar um valor pela variação do IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) entre duas datas.
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Se tomarmos como exemplo, o período entre setembro de 2011 e setembro de 2021, a variação do IPCA – principal índice de inflação – foi de 78%, contra uma valorização do Ibovespa acima de 110%. Eu poderia ficar horas apresentando inúmeros comparativos e, em todos eles, a bolsa se mostra como altamente rentável, mas, meu foco aqui é te mostrar que, se você ainda não investe, ainda há tempo e, sobretudo, muitas vantagens.
Você pode quase triplicar seu salário por hora Vou fazer aqui uma simplificação, praticamente uma gentileza didática, para te ajudar a perceber o quanto é importante para suas finanças pessoais, que você dedique algum tempo a aprender sobre investimentos em renda variável.
Quero te falar sobre a questão do esforço versus retorno, que é, inclusive, o ponto focal quando pensamos em renda passiva e liberdade financeira. Mas, como eu disse, é uma simplificação bem grande, então, pense que estamos tomando uma cerveja juntos e eu peguei o guardanapo da mesa para te mostrar, em dois minutos, que investindo corretamente em ações, você pode triplicar a sua renda por hora.
Acompanha comigo: suponhamos que você tenha um salário anual líquido de R$ 60 mil, trabalhando 40 horas semanais. Vou considerar que você tenha 30 dias de férias e, portanto, trabalhe 48 semanas por ano, o que totaliza 1920 horas de trabalho.
Isso significa que você ganha R$ 31,25/hora. E até concordo que não é um valor ruim, se considerarmos que no Brasil pelo menos 36 milhões de pessoas vivem com um salário-mínimo. No entanto, é uma questão de perspectiva. Vamos prosseguir no raciocínio:
Vamos considerar que dos R$ 60 mil líquidos que você ganha por ano, você precisa de R$ 50 mil para viver. Dessa forma, você possui R$ 10 mil para investir e decide aprender a fazer isso pra valer, dedicando 10 horas do seu tempo para ler sobre o mercado acionário e escolher ações para investir esse dinheiro. Passado um ano, sua carteira de R$ 10 mil teve um lucro de 8%, o que é bastante realista dentro do mercado de ações.
Seu investimento gerou um rendimento de R$ 800,00 e você dedicou 10 horas do seu tempo para trabalhar na montagem de sua carteira, ou seja, ganhou R$ 80,00/hora de trabalho.
Obviamente não estou querendo dizer que você deve parar de trabalhar e apenas investir em ações. Pelo contrário! É importante que você foque em trabalhar naquilo em que é muito bom para gerar cada vez mais renda e, com isso, ter mais dinheiro para investir em ações.
O investimento em ações deve ser parte do seu planejamento para a aposentadoria ou independência financeira dentro de um prazo determinado por você. Dessa forma, sua carteira de ações irá servir para turbinar o patrimônio construído com a renda de seu trabalho.
Entende? Quanto mais você investir tempo em estudar sobre o mercado para aprimorar suas estratégias de investimento, maiores as possibilidades de ter ganhos expressivos no longo prazo.
Você tem medo de investir em ações? Pois deveria ter medo é de não investir. Assim como a maioria dos brasileiros, é provável que você tenha algum ceticismo quanto ao mercado de ações. Afinal, você provavelmente faz parte de uma geração que cresceu ouvindo que “bolsa é cassino” ou que “o único investimento seguro é imóvel”, que “quem compra terra não erra” e outros ditados populares semelhantes.
Acontece que essas crenças são decorrentes de uma cultura onde o letramento financeiro é praticamente inexistente e, além disso, elas vêm de um tempo em que o acesso a informações sobre mercado era muito restrito.
O mundo mudou muito desde então, e hoje, você tem acesso a toda informação que desejar sobre mercado financeiro, ações, dados contábeis das empresas listadas em bolsa, etc. Enfim, tudo o que você precisa saber para tomar uma decisão de investimento está a um clique de distância.
Investir em ações é seguro?
É claro que investir em ações envolve algum risco, e se não fosse assim, elas não teriam um retorno tão elevado, certo? Como você bem sabe, quanto maior o retorno, maior o risco e vice-versa. Na sua conta corrente, por exemplo, não há riscos, portanto, não há rendimento significativo, mesmo que seja uma conta remunerada.
Ocorre que o risco do mercado acionário pode ser perfeitamente controlado. Você não irá perder dinheiro se souber agir com prudência, paciência e planejamento. Dirigir, ou andar pelas ruas, envolve riscos, mas eu imagino que você normalmente adote algumas medidas para minimizá-los, como respeitar limite de velocidade, atravessar na faixa de pedestres, não usar celular enquanto dirige ou atravessa uma rua, e assim por diante. Ou seja, você administra o risco.
No mercado acionário, administrar o risco envolve dedicar algum tempo para entender o produto que está comprando e, sobretudo, diversificar. Essa palavra, inclusive, você precisa ter como mantra se pretende investir em ações.
Vamos voltar ao exemplo que usei no início: os R$ 10 mil que você tem para investir por ano. Se você investir todo o dinheiro nas ações de uma única empresa, assumirá um risco muito elevado, pois há inúmeras situações que podem fazer com que uma empresa se desvalorize: escândalos financeiros na gestão, problemas macroeconômicos, crise setorial, entre outros.
Por outro lado, se você investir os mesmos R$ 10 mil em ações de dez empresas diferentes, mesmo que uma ou outra sofra uma queda significativa, a valorização das demais irá equalizar seus ganhos.
É claro que há inúmeras variáveis que precisam ser estudadas para montar uma carteira de ações e aqui, eu apenas busquei te mostrar de forma simplificada, que é possível construir patrimônio consistente investindo em ações, pois desejo de verdade que você comece a pensar nisso como uma meta.
Se você é iniciante, minha recomendação é que privilegie setores resilientes da economia, aqueles que você sabe que sempre continuarão existindo, independente do cenário, como energia, saneamento, bancos, seguros e telecom. Começando por este caminho, a probabilidade de cometer grandes erros reduz substancialmente.
Investir em ações não é perigoso, mas a ignorância é. Estude! Se você dedicar 20 minutos todos os dias para ler sobre economia, em poucos meses estará muito à frente da imensa maioria das pessoas e certamente conseguirá fazer escolhas inteligentes para seus investimentos.
Eduardo Mira é formado em telecomunicações, com pós-graduação em pedagogia empresarial e MBA em gestão de investimento. É analista CNPI, certificado CPA10 e CPA20, ex-gerente do Banco do Brasil e da corretora Modal.
Os artigos assinados são de responsabilidade exclusiva dos autores e não refletem, necessariamente, a opinião de Forbes Brasil e de seus editores.
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