O dólar teve forte queda pela terceira sessão consecutiva hoje (30) e fechou abaixo de R$ 5,20, acompanhando intenso movimento internacional de busca por risco depois que o banco central norte-americano sinalizou que moderará seu ritmo de altas de juros.
Apesar do tombo recente, o dólar ainda fechou novembro com alta de 0,67%, contrariando tendência externa, depois que temores sobre a magnitude dos gastos extrateto pretendidos pelo governo eleito e dúvidas sobre quem será o ministro da Fazenda de Luiz Inácio Lula da Silva elevaram o estresse nos mercados brasileiros mais cedo neste mês.
A moeda norte-americana à vista caiu 1,68% neste pregão, a R$ 5,19, patamar de encerramento mais baixo desde o último dia 9 (R$ 5,18). No acumulado das últimas três sessões, o dólar despencou 3,85%.
O dólar foi derrubado mundo afora depois que o chair do Federal Reserve, Jerome Powell, disse na tarde de hoje (30) que o banco central pode reduzir o ritmo de seus aumentos na taxa básica de juros já em dezembro.
“Apesar de o presidente (do Fed) também ter enfatizado que o patamar final dos juros básicos na maior economia do mundo pode ser mais alto do que inicialmente esperado, investidores engataram a marcha do bom humor diante de expectativas do fim do ciclo da alta de juros por lá”, comentou Rachel de Sá, chefe de economia da Rico Investimentos.
Na esteira da fala de Powell, apostas embutidas nos contratos futuros de juros norte-americanos passaram a apontar para cerca de 75% de chance de o Fed aumentar sua taxa básica em 0,50 ponto percentual quando as autoridades se reunirem em dezembro, depois que o banco central promoveu ajustes maiores, de 0,75 ponto, em suas últimas três reuniões.
Quanto mais altos são os custos dos empréstimos em determinado país, mais sua divisa tende a se beneficiar. O contrário também vale, de forma que um ritmo mais lento de aumento de juros pelo Fed provavelmente reduziria o espaço para valorização do dólar contra outras moedas.
“Outro ponto que acabou contribuindo para a força do real hoje foi a oferta de empregos nos Estados Unidos, que caiu em outubro, enquanto dados da ADP mostraram números mais fracos do mercado de trabalho”, reforçando cenário de desaceleração do aperto monetário nos EUA, disse Márcio Riauba, chefe da mesa de câmbio da StoneX.
Novembro difícil
No mês, marcado por incerteza fiscal local, a moeda norte-americana ganhou 0,67% frente ao real, na contramão das perdas de mais de 5% do índice do dólar contra uma cesta de pares fortes no mesmo período. No patamar de encerramento mais alto de novembro, o dólar saltou a R$ 5,40, pico desde julho deste ano.
Segundo Carla Argenta, economista-chefe da CM Capital, após um tombo inicial do dólar na esteira da eleição de Lula — muito associado a rumores já descartados de que Henrique Meirelles seria indicado a ministro da Fazenda–, o mercado doméstico entrou num período de estresse pela perspectiva crescente de que, na verdade, o chefe da pasta econômica do governo eleito seria um nome mais “político”, como o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad.
“Não é infundada essa reação, porque o investidor doméstico enxerga esses nomes mais políticos como potenciais para gastos mais elevados”, explicou ela, acrescentando que o mercado ficou “assustado” com o montante dos gastos extrateto inicialmente propostos pela PEC da Transição: quase 200 bilhões de reais.
No entanto, nos últimos dias do mês, teve início nos mercados um “movimento de entendimento e de aceitação desse provável nome político à frente do Ministério da Economia”, disse Argenta, em meio ainda ao que é visto como uma grande possibilidade de a PEC da Transição ser reduzida durante tramitação no Congresso.
“Dificilmente a gente vê uma proposta saindo do Poder Executivo sem negociações e alterações dentro do Poder Legislativo, então essa costuma ser a regra. O Congresso já mostrou sua preferência por um período muito menor (de duração da PEC), então as coisas tendem a caminhar para um meio termo.”
Segundo Argenta, a partir do momento de definição do próximo chefe da pasta econômica do Brasil, a tendência é que haja “desentrave” nas negociações da PEC da Transição e de outras propostas em tramitação, o que poderia aliviar as incertezas no mercado e abrir espaço para um mês de dezembro com “mais vetores positivos do que vetores negativos”.
No acumulado de 2022, o dólar ainda cai 6,7% frente ao real.