As ações das estatais Petrobras (PETR3; PETR4) e Banco do Brasil (BBAS3) amargaram queda de 8,47%, 7,04% e 4,64% no primeiro pregão após o resultado da eleição presidencial. Investidores refletiram o aumento da incerteza em relação às estratégias que serão empregadas no governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
No entanto, esse movimento foi passageiro e, depois do susto inicial, os papéis viraram para um movimento de recuperação, levando ao patamar pré-eleitoral. A exceção ficou para a petrolífera, cujas ações preferenciais ainda acumulam perdas de 8% na semana até ontem (3).
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É hora de vender Petrobras? Ainda é cedo para dizer, pois há muita indefinição pela frente. Em um relatório, o banco de investimentos americano JP Morgan escreveu que as ações da petrolífera não irão refletir totalmente os fundamentos até que investidores tenham clareza sobre as mudanças na gestão. “Isso deve levar, em nossa opinião, pelo menos seis meses”, escreveram os analistas na segunda-feira (31).
Com isso, fica a dúvida: o que fazer com os papéis das estatais? Para Idean Alves, sócio e chefe da mesa de operações da Ação Brasil Investimentos, agora não é hora de fugir das ações, mas sim de revisitar a tese de investimento e verificar se as premissas que fizeram o investidor entrar no papel continuam ou se mudaram drasticamente com a nova abordagem política.
“Vale lembrar que uma ‘canetada’ do governo pode mudar todo o jogo, e é por isso que o investidor deve manter a cautela, mas também estar preparado para aproveitar as eventuais oportunidades”, analisa Alves.
Segundo o especialista, as perspectivas para as estatais ainda são de muita precaução. Isso ocorre por conta da política econômica não estar definida, o que causa apreensão no mercado, em especial em relação ao teto dos gastos. “A dúvida sobre um risco fiscal pode assustar”, diz Alves.
Apesar da deterioração de margem no primeiro momento, Alves frisa que os ativos são atemporais, só que com o porém do risco político embutido. Assim como qualquer investimento, é preciso ficar atento para ajustar a posição se necessário.
Neste caso, o especialista lista dois pontos fundamentais para atenção. A primeira é como será feita a transição de governo: “É necessário avaliar se não ficará nenhum ‘esqueleto’ na sala para a próxima gestão resolver”.
Já a segunda, é o que tem deixado o mercado em dúvida: a política econômica do governo de Lula. “É necessário ver se vai ser mais do mesmo dos outros mandatos ou se terá um alinhamento.”
Para ele, também há duas questões importantes para acompanhas na economia brasileira: a inflação e ajuste de juros pelo Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central. “Se o processo inflacionário voltar a ser um grande problema para o governo, é muito provável que em especial Petrobras e elétricas sejam chamadas à mesa para ‘ajudar’ na redução da inflação”. Segundo Alves, isso com certeza vai impactar o preço das ações. “Se rememoramos 2012 e 2016, elas chegaram a bater mínimas históricas por conta desse movimento.”
Marcelo Oliveira, CFA e co-fundador da Quantzed, diz que não apostaria em estatais neste momento. “É preciso entender que os planos do próximo governo para empresas como Petrobras e Banco do Brasil não são atraentes para os investidores em geral. Os barulhos afastam investidores que buscam dividendos nesse tipo de empresa madura”, diz.
Em relatório, a Rico Investimentos também recomenda evitar empresas com maiores riscos políticos, principalmente estatais. “Dito isso, seguimos recomendando posições defensivas, diante do cenário ainda incerto.”
Em nota, a XP Investimentos citou a volatilidade para as estatais como certa no curto prazo. “Não temos um caminho claro para a política futura do próximo governo. Com isso, devemos continuar vendo maior volatilidade para a Petrobras (PETR4) e Banco do Brasil (BBAS3).”
A XP, inclusive, removeu exposição da petrolífera da carteira citando os riscos políticos. “Mas temos a PetroRio (PRIO3) como a top pick dentre as empresas juniores do setor por enquanto”, escreveram os analistas em relatório.
A Ativa Investimentos concorda com a preferência pela PetroRio (PRIO3). Para os especialistas, a escolha é por ela ser privada e poder capturar o movimento de alta da commodity de forma integral, sem passar por ruídos políticos.
“Ainda gostamos da Petrobras (PETR3, PETR4), mas estamos atentos aos nomes que devem surgir para comandar a estatal e ditar os novos rumos”, escreveram os analistas.
Outro lado
Após a conclusão das eleições, o Goldman Sachs revisou suas posições em ações do Brasil. Em relatório divulgado na segunda-feira, o banco de investimentos norte-americano diz acreditar que as ações de consumo serão mais positivas.
“Ele [Lula] afirmou que manterá um programa de transferência social de renda para famílias de baixa renda (R$ 160 bilhões anualizados ou 1,5% do PIB de 2023 estimado). Embora as forças inerciais ainda estejam em jogo, a inflação está diminuindo para itens de linha importantes, como combustíveis e comida, onde os preços até sofreram deflação mês a mês”, escrevem os analistas do banco.
Para o Goldman Sachs, mesmo sem um viés geográfico direto, o estímulo às famílias de baixa renda tende a beneficiar indiretamente mais o Nordeste do que outras regiões, devido à demografia da região, onde mais indivíduos dependem desses benefícios.
“Nesse sentido, observamos que quaisquer políticas/programas de gastos que apoiem a região de forma mais direta podem ser positivos para as empresas com maior exposição ao Nordeste”, diz o banco de investimentos em relatório.
Os destaques são Carrefour (CRFB3), que possui 28% de lojas na região, assim como o Assaí (ASAI3), que tem os mesmos 28% de participação. Em seguida aparece o Magazine Luiza (MGLU3), com 22%.
Já para a Rico Investimentos, empresas boas pagadoras de dividendos e em setores como o bancário, elétrico, de saneamento, varejo, construção de baixo poder aquisitivo, educação e consumo essencial são opções mais atraentes neste momento de incerteza política.
Em relatório, a XP Investimento cita que as ações de educação, varejo e habitação popular devem se beneficiar dos resultados eleitorais.
A Ativa vê que, com um possível incentivo maior nas políticas sociais, como o Bolsa Família, Minha Casa Minha Vida (MCMV) e Fies, construtoras de baixa renda como MRV (MRVE3), Direcional (DIRR3), Tenda (TEND3) e o setor de educação Yduqs (YDUQS3), Cogna (COGN3), Anima (ANIM3), Ser (SEER3) podem aproveitar melhor o momento.
As informações desta reportagem são de caráter exclusivamente informativo e não constituem recomendação de investimento.
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